- [...] Kevin foi o meu paciente por muito tempo... - Karen servia uma xícara de chá para a moça que já alojada em seu consultório, estava assentada numa cadeira bege de palha estofada com detalhes em linho - Lembro-me perfeitamente quando ele chegou aqui, na verdade, Barry, uma das identidades dele foi quem havia me procurado primeiro, e o mesmo acabou convencendo o próprio e alguns dos outros a fazerem o mesmo
- Obrigada. - Agradeceu a xícara de chá
- Minha jovem, antes de seguimos em frente com isso, eu gostaria de que você me fizesse entender, o que realmente deseja ou o que irá ganhar, obtendo as informações que eu for ceder á você, mesmo estando eu ciente de que estou indo contra os princípios da minha conduta profissional, o que me faz pressupor, que tal motivação argumentativa que a trouxe aqui, seja no mínimo convincente
- É justo. A senhora têm toda razão. - Suspirou essa pondo-se a pensar por alguns instantes - Digamos que... - Novamente, ela esvai um ar fadigado de pulmões - Eu conheci o Kevin, não o Dennis, ou a Patrícia, Hedwig, Barry... Mas "O" Kevin em si, o garoto tímido do outro lado da Rua de frente pra minha casa, o filho da Sra. Crumb e... Alguém que aparentemente, o mundo não teve o prazer de conhecer.
- Continue...
- [...] Eu... Desde o primeiro momento que o conheci, percebi que ele era diferente, não diferente em relação ao transtorno que ele tinha... Na verdade, eu não havia percebido nada, pra mim ele era só um garoto tímido e talvez um pouco retraído, obviamente que, ele não seria o primeiro garoto ou o último que agia dessa forma durante a adolescência... A verdade é que, não tinha nada do tipo que, eu pudesse identificar como TDI, não era um assunto que eu me lembro já ter ouvido na época ou me aprofundado sobre - Prosseguia - Resumidamente, eu e ele ficamos, muito próximos um do outro , eu gostava da sua companhia e... - Suspira - Acho que ele da minha, apesar ser muito mais "Espanssiva" e "Calorosa" demais na maioria das vezes. Até o dia em que a mãe dele e ele resolveram se mudar de uma hora pra outra do lugar de onde morávamos, eu sempre suspeitei de que ela não gostava muito de mim, mas não ao ponto de pensar que eu faria algo contra o filho dela, eu só sei que... Em um belo dia, eu acordei e ele não estava mais lá. E devo admitir que por alguns anos, eu pensei nele, onde poderia estar até...
Até crescer, amadurecer e perceber, que isso nunca iria acontecer, de que eu não teria mais a chance de ao menos me despedir. Claro, era o que eu pensava, mas, surpreendentemente, e sem prévio aviso, o mundo deu algumas voltas e acabamos nos reencontrando. - Suspira - É óbvio... Que não foi como eu imaginei que seria - Essa recorda dos momentos que passou em cativeiro enquanto encorajava-se para seguir com o seu relato - Dra. Fletcher eu... Fui sequestrada e mantida em cativeiro por três das personalidades que pude conhecer do Kevin, fui a primeira antes... Antes das jovens que, ele raptou, garotas que tinham algo que talvez o fizesse lembrar de como eu era na adolescência e por alguma razão, a minha imagem em suas lembranças foi totalmente deturpada pelas mesmas que me fizeram vítima, e que me viam como "Indigna" ou "Impura" da vida que julgavam que eu tinha, os mesmos que estão fazendo o mesmo com o Kevin, o mantendo como refém de si próprio... Enfim, o que me difere dessas meninas que eu acabei me identificando a cada uma que fiz questão de pesquisar e na medida do possível, conhecer melhor, é o fato de que eu tive a oportunidade de o conhecer antes, o Kevin, e tudo o que eu quero, é que apesar de toda dor que causaram em mim e em todas essas moças. Possam entender, que o Kevin que eu conheci, e sei que ainda está lá em algum lugar, jamais faria nada disso, tal como não merece que o vejam como um... - Essa exita na tentativa de encontrar alguma palavra enquanto desvia o olhar para baixo, no ato de conter algumas poucas porém significativas lágrimasOlhando para a mesinha de centro, que obtinha a chaleira quente ao lado de um baleiro de cristal, Val repara a mão da Dra. Fletcher lhe adiantar uma caixinha de lenços.
- Não preciso que me diga mais nada Valerie. Obrigada - Respondeu
Essa balança a cabeça positivamente.
- É muito bom saber que não fui a única que teve o prazer de conhecer o Kevin. E sim, pode contar comigo.
Valerie passou algumas boas horas na companhia da Dra. Fletcher que mostrou ser a única pessoa a ter livre contato com parte das identidades que co-habitavam no paciente Crumb. Obviamente, que isso lhe preparou para a primeira visita que faria no Hospital Psiquiátrico ao Norte da Cidade, que já estava às portas do mesmo, vislumbrando a fachada desse enquanto respirava profundamente num intuito de auto encorajar-se. Mas, essa teria de passar pelo consentimento de quem obtinha Kevin sob cuidados, o Dr. Edgar Mullins, especialista no caso.
- [...] Quando me disseram que se tratava de uma das vítimas do meu paciente eu... - Suspira - Admito que fiquei bastante surpreso, mas, em todo caso, é um prazer conhecê-la Srt. Carson. - Esse fechava a porta de seu escritório onde Valerie já estava adentrada
- Obrigada por me receber Dr. Mullins - Essa respondeu num curto sorriso como resposta
- Por favor, sente-se - Lhe adiantou
- Obrigada - Ocupou um assento frente á mesa desse
- Bom... A senhorita foi uma das vítimas do Sr. Crumb certo? A primeira deste, ao que eu pude entender. Eu sinto muito...
- Eu... Agradeço, e sim, fui uma das vítimas mas, não do Kevin em si
- Claro, por estarmos falando sobre um paciente com Transtorno Dissociativo de Identidade, precisamos trabalhar com nomes. Mas há de concordar que, quando esse for levado á júri, será o rosto de Kevin Wendell Crumb, que as vítimas e familiares destas, irão estar cara-a-cara
- Eu sei disso. Foi o rosto do Kevin que vi no carro quando fui abordada, foi o rosto dele que vi quando despertei em cativeiro. E também foi o mesmo que vi durante os dias em que fiquei sob cárcere. Mas em nenhum momento, durante em instantes onde me sentia acuada, pude enxergar verdadeiramente, o Kevin, o senhor pode confirmar que pessoas com TDI, não possuem noção lógica dos atos que suas outras identidades prestam
- Tudo bem, percebi que a senhorita procurou se informar no assunto antes de vir até aqui e expor o que eu já entendi.
- Minha intenção não foi descartar ou duvidar de suas qualificações doutor. Eu só quero que como especialista, o senhor entenda que, ao mesmo tempo que um homem, esse mesmo homem está sendo levado á tribunal para pagar pelo o que fez, em sumo a isso, outro pagará pelo que não fez em seu lugar
- Isso tudo é muito poético senhorita Carson. E estranho, levando em conta de que nessa história, a senhorita é a vítima e ele o vilão, e mesmo que tenha fugido ou que ele tenha a soltado, não significa que ele é de todo bom como acha que ele é. E eu vou lhe dizer tudo o que me passaram desde que fui contatado para supervisionar esse caso. Ele ficará aqui esperando ser julgado. No momento, eu sou responsável por ele mas as autoridades querem que ele seja julgado e preso. Essa é a verdade, eu sei que é cruel, mas como eu disse e você mesmo confirmou, é o rosto dele que as vítimas viram antes de morrerem. E cá entre nós, eu também não queria isso. E o meu papel nessa história é tentar fazer com que essa "Justiça injusta" seja impedida de ser feita, tentando convencer as demais identidades que co-habitam no corpo dele, á abrirem mão da luz, e que seja o próprio Kevin que responda às autoridades e quem sabe, com muita sorte, possa pedir uma petição para a reabertura do caso a seu favor no intuito de esclarecer toda essa situação que inconscientemente foi colocado...
- Eu quero de falar com eles. - Pontua
- Senhorita Carson, eu não poderia autorizar que...
- Por que não?
O Dr. Mullins sobrepõe seus olhos castanhos sob Val, talvez na tentativa de encontrar uma resposta que a convencesse, ou tirasse a idéia daquilo o que ela tinha em mente. Mas nem mesmo àqueles poucos segundos em que alisava o seu cavanhaque o puderam auxiliar do contrário.
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SPLIT: Andrômeda
Fanfiction🥇1º#Split - 30/04/24 🏅1º#Fragmentado - 09/08/24 🥇1º#JamesMcAvoy - 10/06/24 Valerie Carson é uma jovem mulher cuja a vida para ela, sempre lhe pareceu razoavelmente monótona, desde sua não tão longínqua juventude até a agora sua atual realidade. R...