Direção

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MIRANDA PRIESTLY 

Havia uma nuvem de fumaça saindo de trás de um carro preto, chego mais perto e reparo em uma silhueta feminina refletindo no vidro. Só podia ser ela, dou a volta e a vejo sentada no banco de cimento na calçada, estava descalça e os saltos jogados no chão.  Quando me aproximei ela soprava a fumava do cigarro com aroma de canela para cima. 

Se houvesse um dicionário em que tivessem que descrever o que é uma jovem beleza decepcionada estaria a foto da dela nesse momento,  pois ela era jovem, bela e seu semblante era de pura decepção, os olhos infinitamente ressentidos e magoados.

ANDREA SACHES 

Sai do salão desnorteada, estava tonta por causa da bebida e nem preciso dizer que a noite mexeu muito comigo. Meu olhos estavam um pouco embaçados, mas não eram lagrimas, não mais. Era só a falta do meu óculos, a noite estava fria e nublada, sinto um frio imenso e lembro que nem casaco havia trazido. Calma Andrea, só precisa achar seu carro que logo estará em casa, vou até o fim da rua pisando em falso então tiro o salto e ando descalça, acho meu carro estacionado a frente de um banco perto da calçada. Perfeito, agora só preciso dirigir para o mais longe daqui, certo? Errado. Cadê minhas chaves? ou melhor, minha bolsa?

 Merda! Deixei na escada do palco, ainda mato a Eliza  por ser estopim dessa noite catastrófica.

Sento no banco a frente do meu carro para pensar no que fazer, não ia de jeito nenhum entrar lá novamente, mas alguém me procuraria quando achasse, né? Pensa Andy, pensa. Bato os dentes de frio tentando me concentrar. 
Olho para o lado e um homem de terno está parado fumando, devia ser um dos convidados será que está aqui fora faz tempo? Viu meu discurso? De qualquer forma, adoraria um cigarro. 

- Olá, moço? - digo um pouco mais alto pois estávamos longe

- Olá...- diz e me olha 

- Pode me dar um cigarro, juro que preciso de um. 

- Claro, você parece precisar mesmo - responde rindo - aqui - me entrega o cigarro já aceso. 

- Muito obrigado! 

- Por nada - diz voltando ao salão. 

Fumo pensando no que poderia fazer, posso pedir um taxi meu celular está no sutiã e eu pago no pix. Mas e meu carro? Não posso deixar ele aqui, minha carteira está com meus documentos e meus cartões, será mesmo que alguém me entregaria depois... Merda! As perguntas rondam minha cabeça enquanto fumo e sinto o noite congelar minha pele, como fui parar nessa situação. Avisei vocês que era um erro eu vir, como eu fui burra.  Estou tão arrependida por não me ouvir. 

Por outro lado, eu precisava disso para encerrar. Precisava seguir em frente e agora me sinto mais do que pronta para isso, quero novos ares, novos pensamentos, novas oportunidades, uma nova vida... posso ser supersticiosa mas para saber o que fazer, só precisava de um norte, como um sinal ...

- Como conseguiu um cigarro sem sua bolsa? - Ouço uma voz rouca e forte atrás de mim. No mesmo momento vem uma onda forte de frio com um vento que trás um cheiro incrível até minhas narinas, um perfume amadeirado e suave. Quando abro os olhos vejo a dona da voz e do perfuma, uma mulher com cabelos curtos platinados e o vestido mais lindo que já vi, arrisco dizer. 

- Eu peguei de um homem que estava aqui - ela franze a testa em reprovação e se aproximou em passos curtos parando bem na minha frente, só então vi que a mulher tinha duas bolsas na mão, uma era a minha. 

 - Cristine pediu que eu trouxesse. - estende a mão para mim, seus lábios estavam roxos e a pele arrepiada por causa do tempo. As mechas brancas voavam sutilmente com o vento, ela usava um vestido justo bordô, como um corset em cima, as alças bem fininhas e as costas aberta, a saia era solta e longa com uma fenda na perna esquerda. A cor do vestido realçava muito sua pele branca e a silhueta perfeita, as unhas estavam longas e amendoadas na mesma do vestido. Todo seu corpo está coberto de joias pratas: o tornozelo, o pulso esquerdo, os quatro dedos da mão direita, o pescoço e as orelhas. Meu olhos traçaram seu corpo exatamente na ordem que falei, desde o tornozelo até seus olhos escuros. Não sei quanto tempo levo nessa análise, mas devia ter sido muito - Essa não é sua bolsa? - diz me tirando do transe. 

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