Um mês, duas semana e seis dias.
Esse é o tempo contado em que pude chamar Kim Seokjin de meu namorado. Nos primeiros dias ainda parecia irreal estar com ele, e todas as vezes que eu lhe roubava alguns beijos atrás do balcão pela manhã ou que nossos olhares se encontravam, permanecendo hipnotizados por mais que dez segundos, nós riamos timidamente um do outro e, sim, pareciamos um casal de adolescentes bobos no primeiro relacionamento. Mas 'pra mim de certa forma era isso.
Com isso, acredito ter chegado a hora de falar um pouco mais sobre o que aconteceu a três anos atrás. No dia quatro de dezembro, coincidentemente o mesmo dia do aniversário do Jin.
Depois de descobrir sua data de aniversário, consegui vislumbrar em minha mente um perfeito cenário das coisas que aconteceriam, junto aos que de fato aconteceram.Naquela noite, segundo os médicos, cheguei ao hospital com fraturas graves na costela e braço esquerdo, junto a outros ferimentos mais leves, porém desacordado e sem qualquer resposta verbal ou ocular, mas com certa resposta motora, o que caracterizava o não comprometimento da resposta motora, porém de igual maneira me colocava em um estado leve de coma.
Dei entrada no hospital às nove e vinte e sete da noite sem acompanhante no veículo. Acordei quatro dias depois com perda quase total da memória e muitos fios ligados a mim. Em minha frente, a primeira pessoa que vi foi minha mãe, esta que eu não lembrava, mas de alguma forma sabia quem ela era.Minha percepção sensitiva ficou maior após o acidente, então muitas coisas eu apenas deduzia e as vezes acertava. No entanto, para o meu azar, só vim dar ouvidos a sensação ruim que tinha ao lado dela quando já era tarde. Mesmo sendo minha mãe, a senhora Kim não tinha amor por ninguém além dela mesma, era narcisista ao extremo e muito manipuladora, sua obsessão com meu pai e eu era doentia. Mas somente depois da morte dele resolvi me afastar dela por completo. Voltei a morar no apartamento que, antes do acidente eu já possuía, e ao fazer isso descobri algumas coisas sobre mim.
Descobri que gosto de quadros complexos e artefatos de fugura desuniforme, de algum modo eles parecem retratar a desigualdade em que nossa vida é moldada e deformada por aqueles que nos tocam, ou se tornam belas de maneira estranha onde poucos vão saber te desvendar. Mas descobri também que a vida naquela lugar parecia meio solitária, era grande demais para uma pessoa só e me faz constantemente lembrar que ainda estarei sozinho quando voltar 'pra casa.
Meu closet atualmente é cheio de roupas caras e finas, principalmente ternos, mas quando cheguei aqui, ele tinha muitos casacos coloridos, roupas largas e despojadas. Acho que o Namjoon de três anos atrás não era tão vazio quanto eu. Haviam certos detalhes na casa que me faziam ter certeza disso, como o calendário marcado com canetas coloridas circulando os finais de semana com desenhos de sol ou nuvens; a TV com diversos filmes de comédia favoritados; a dispensa repleta de ingredientes para cozinhar, coisa que eu nunca aprendi a fazer. Ele vivia sozinho, não tinha família e nem amigos, olhando bem, ele não era tão diferente de mim, então o que será que tornava sua vida distinta à minha?Me questionei sobre isso por muito tempo, até descobrir o Morango&Baunilha. Foi quando percebi, ele não era solitário. As peças coloridas em seu guarda roupa eram para quando ia ver o Jin. As roupas largas, para ficar com ele em casa. A felicidade, por estar apaixonado por ele. E mesmo sem ele por perto, aquele Namjoon ainda tinha o Yoongi, um pirralho que vivia junto de si, vagando entre a sua casa e a do Jin.
Nos tornamos mais próximos desde aquela noite e percebi que ainda existe uma memória muscular em mim, especialmente para aquele baixinho, que consistia em bagunçar seus cabelos e lhe apertar o nariz quando faz cara de bravo, sim, isso o deixa mais bravo ainda, mas o mesmo sempre acaba sorrindo no fim. Jin me disse que isso era algo que mesmo o eu do passado costumava fazer, e admito, fiquei feliz em saber.Ao que parece, ninguém do trabalho sabia sobre os dois, para todos de lá eu chegava em silêncio e do mesmo modo eu saía, não dizia nada além do necessário e o único com quem trocava conversas mais triviais era Taehyung. Aquele Namjoon não era tão rude, mas se mantinha sério e centrado, tinha bons hábitos alimentares, graças ao Jin, mas claramente não era feliz com o que fazia. Diferente de mim, que gosto das jóias que produzimos, gosto de ser gentil com todos, de trocar palavras triviais algumas vezes, de ser amável e ainda assim focado e comprometido com meu trabalho. Mas é cansativo, as vezes quero correr para longe ou simplesmente dormir um pouco mais, as vezes é entediante, mas isso é sobre a parte burocrática, pois a confecção das jóias, a produção, os modelos e belas peças são coisas que admiro e que gosto de observar.
Se pudesse escolher, seria como Taehyung, viveria naquela galeria, desenhando, criando, hipnotizado pelo brilho e froma de cada jóia. Mas apesar de tudo, gosto do que faço. No começo achei que não era para mim, que meu pai estava errado em me confiar algo assim, quase como uma sentença em forma de herança, mas com o passar do tempo e do costume, eu fui me adaptando. Agora me sinto feliz, talvez porquê tomo o melhor café e provo do melhor bolo todas as manhãs, mas o fato é que mesmo sem lembrar quem eu fui, sou feliz com quem eu sou e com quem tenho ao meu lado. Mas admito que as vezes penso naquela noite e em como nós éramos, eu e ele.
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Morango e Baunilha - Namjin
RomantikKim Namjoon é um homem forte e viril, determinado e cobiçado, também impossível. Pelo menos é isso que seus funcionários pensam e algumas revistas do meio corporativo também. Mas a verdade é que Namjoon não passa de um homem solitário e carente de...