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- Eu não quero. - Insisto, relutante contra o remédio.

Sangue de gato com capim nem deveria ser remédio.

Eu gosto de gatos. E o sangue deles tem um gosto horrível.

- Você tem que tomar. Vai. Toma logo, Tom. Você vai ficar melhor.- Me incentivava mostrando a colher de ponche com o líquido viscoso.

- O que eu ganho em troca? - Pergunto. Ele dá um suspiro cansado.

- O que você quer em troca de tomar o remédio?

- Um beijo. - Ele enruga o nariz e faz um careta adorável.

- Eca. Você está doente!

- Não se preocupe, Marco. Doenças de demônios não afligem humanos. Se não, você que teria que tomar isso. - Bato de leve na colher cheia de líquido que derrama uma gota no chão, formando um buraco no mesmo.

- É, mas você é meio humano também. - Fala, demonstrando impaciência. - Tudo bem.. Eu te dou um beijo, mas tome seu remédio. - Cede por fim e eu sorrio vitorioso, mas logo o sorriso cai quando ele avança mais a concha na minha direção.

Engulo em seco, me amaldiçoando por ter ficado perto de urtigas cancerígenas.

Pego a concha de sua mão e bebo um gole, o refluxo volta muito rápido mas eu seguro. O encaro.

- Toda a concha. - Diz, de modo sério. Semicerro os olhos para o mesmo mas enfio todo o líquido da concha na minha boca.

Tinha me esquecido que não é ruim.

É horrível.

O gosto era um dos piores.

Não pior do que pus de demônios de gengibre. Mas talvez pior do que abóboras podres de calcanhares de bruxas.

Demorou minutos até aquele horror descer e ficar no meu estômago sem tentar voltar. Marco me observou o tempo inteiro. Preocupado e muito orgulhoso por ter me feito engolir aquilo.

- Pronto. - Digo, quando sinto que já estou melhor. Não da doença, mas da merda do remédio.

- Ótimo. Agora descanse. - Disse, dando meio volta, mas o segurei pelo braço.

- E o meu pagamento?

- Quando você melhorar.

- Não concordamos com isso.

- Eu concordei. - Disse ele, inocente. Cínico. O encarei em dúvida e ele continuou com sua expressão serena. Dei um sorriso arteiro e antes que pudesse fazer algo, colei nossas bocas. Abri um olho para vê-lo, ele fazia uma careta.

Sentiu o gosto do remédio.

Entreabri seus lábios e adentrei com minha língua. O puxei para mais perto e ele ficou por cima de mim. Quando o ar faltou, nos separamos.

- Eca! Que gosto horrível! - Reclamou, cuspindo com a língua e terminando de deitar em cima de mim.

- E você me forçando a tomar. - Rebati e ele revirou os olhos.

- É para o seu bem. - Disse. - Bem, agora vá descansar.

Ele fez menção de se levantar mas o puxei de volta.

- Só se você ficar comigo. - Falei, um sorriso bobo nos meus lábios. Ele me encarou com aqueles olhos grandes.

Eu sou tão louco por ele.

Ele revirou os olhos e vi que estava se esforçando para não sorrir - embora tenha dado um mini sorriso - . O trouxe para mais perto e deitei minha mão em sua cintura, a alisando. Sua mão foi para minha nuca e ele se aproximou de mim, enlaçando meu pescoço.

- Só quero que você melhore. - Disse e eu o abracei com força.

- Eu sei, amor. - Ele se espantou.

- Do que me chamou? - Perguntou e eu raciocinei o que disse, me senti corar fortemente.

- Desculpa... não gostou, né? - Ele tentava segurar o sorriso, o que me deixou confuso. Ele não me respondeu, apenas aproximou nossos rostos.

- Vou te dizer o que achei. - Ele olhou para mim boca, e então colou seus lábios nos meus. Um beijo terno, que aprendi a gostar com ele.

Gosto de nossos momentos juntos. Gosto dele comigo. E comigo.

Nos separamos pela falta de ar e ele depositou mais um beijo em meus lábios no final.

Minha boca foi arteira, não aguentava mais esperar e falou por si só.

- Eu te amo. - Digo e me surpreendo com a intensidade dessas palavras. São reais. Bem reais. Ele me encarar perplexo. E dessa vez não consegue conter o lindo e enorme sorriso que pinta sua face.

- Eu também te amo. - Seu rosto vai ganhando um rubor forte e sua vergonha toma conta de si. Ele enterra a cabeça no meu peito e solto uma risada anasalada, afagando seus cabelos.

- Você melhora cem porcento a minha vida. - Digo e ele levanta seu olhar para mim, aqueles olhos me encarando de uma maneira inocente e fofa.

Nem parece que é uma alma tão depravada quando quer.

- Você também.. - Sussurra, ainda pela vergonha. Eu solto um riso bobo. Ergo sua cabeça e o beijo novamente.

- Estou exausto. - Digo. - Dorme comigo? - O vejo assentir e se acalmar. Ele se arruma do meu lado, deitando a cabeça na curvatura do meu pescoço, me possibilitando de ouvir sua respiração baixa.

Ele sabe que eu gosto de ter o controle. De saber que ele está ali comigo. De saber que esta ali, respirando no meu pescoço, por mim.

Envolvo-o novamente em meus braços e me asseguro de que não irá sair.

- Descanse. - Fala e me dá um beijo no rosto. Dou um sorriso e pego no sono. Sentindo ele fazer um cafuné na minha cabeça e sua respiração no meu pescoço.

Eu amo esse garoto.

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