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POV JOSH BEAUCHAMP

Nesses últimos 20 anos, eu aprendi a lidar com a saudade dela, afinal, como você pode ter saudades se nem se lembra tão bem? Claro que dói não ter a presença mas...É mais fácil de lidar com a perda se você nunca teve muito contato, agora...o coração grita agonizando de dor ao perder alguém no qual você viveu 16 anos juntos, principalmente quando se passa sete anos quase sem contato nenhum, ouvindo só uma voz fria atrás do celular, sobre assuntos vagos, e respostas vazias...Sabe, nesse um mês que se passou, após a morte do meu pai, eu não tinha sentido o baque ainda, não tinha chorado desesperadamente, e nem gritado de dor, muito menos sentido falta, mas...as horas passam, os dias se encerram, e de repente, fazia um mês que meu pai havia partido...E de repente, a ficha caiu, bem diante dos meus olhos, naquele hospital, vendo um garotinho que com quatro anos de idade, havia perdido os dois de uma vez.

E me fez repensar, sobre a desfeita que eu fiz em não rever meu pai em sete anos, em não ligar com frequência, não mandar mensagem, não mandar um simples" Oi pai, estou com saudades",  deixei o orgulho e a raiva tomarem conta de mim, e agora...agora não resta mais nada....e ele...ele não vai voltar mais....Meu peito não tinha sangrado de dor ainda...dizem que cada pessoa passa o luto de uma forma, e a minha foi simplesmente negar, negar a existência desse ocorrido e tentar seguir minha vida, me afundei nos problemas da Any, e esqueci completamente de que eu precisava chorar, precisava sofrer, e de repente, só depois de 30 dias sem meu pai, que eu fui me dar conta...ele também se foi, igual aos pais do garoto, mas ao contrário de mim, ele não terá a quem se apoiar.

De repente me vi chorando a cada segundo dos meus dias, ver aquela criança era o sinónimo de quão novo ele perdeu os pais, e que eu tive a chance de ter cuidado do meu...mas não adiantava mais...

Passei uns bons dias fugindo o máximo possível, passando meu tempo em silêncio, parecia que finalmente eu estava sentindo o impacto do luto, não comia direito, não dormia direito, não conseguia focar no meu relacionamento, eu só conseguia ficar apático, e chorar sozinho.

Segundo a Sabina, após alguns exames e conversas, aquele desmaio devido a crise de ansiedade do estresse pós-traumático, desencadeou meu luto, sensações nos quais eu tinha me proibido de sentir, mas que uma chavinha libertou todos de uma vez, e agora, o que me restava era enfrentar a dor, com a cara e a coragem.

Era nítido pra todo mundo que eu não estava bem, que eu estava fugindo do hospital, e que eu estava surtando dentro da minha cabeça, achei que era loucura eu só sentir a dor agora, mas segundo minha amiga, não existe tempo para se desbloquear sensações e ou gatilhos...

O que eu sei é, que sem eu falar com a Any, ela foi me reacostumando a ficar no Hospital, marcando horas de descanso conversando com o menininhos, como tardes do sorvete, sessões de filmes, lanchinhos, sessões de skin care, me dando tempo de qualidade com ela, e ajudando o garoto a distrair a cabeça.

Mais um mês se passou, um mês longo e cheio de dificuldades para o meu pequeno paciente, que passou por mais algumas cirurgias, exames, e que estava a 29 dias no hospital, sem nem sinal da família, até aquele dia...

Estava na hora de ir trocar os curativos do garoto, quando cheguei na porta da sala, e vi o garotinho segurando o urso com força, atento a conversa de três mulheres loiras dos olhos azuis, com a Sabina e a Sina, falando num volume como se a criança não estivesse no mesmo lugar:

Xxx: Já falamos, não podemos criar outra criança, acham que é fácil educar uma criança que não é seu filho?

Xxxx: Exatamente, minha irmã está certa, além de que, esse garoto é um bastardo, meu irmão foi irresponsável se envolvendo com a mãe dele, eles não são e nunca foram bem vindos na família

My Heart Doctor - BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora