‣ › ❴Cellbit esperava haver algum tipo de milagre naquele lápis nas mãos da psicóloga.❵
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— Então me explique, como tudo isso começou?
Estar dentro de uma sala minúscula, com uma especialista sentada a sua frente, não era bem os seus planos para o dia de hoje. As paredes brancas e a luz tão forte quanto, o lembrava do quarto branco onde passou muito tempo na prisão.
A mulher de jaleco marrom, segurando um lápis amarelo em mãos, com um óculos redondo caído sob o nariz, achava mesmo que poderia o concertar? Sem julgamentos, mas Cellbit nunca acreditou nesse papo furado de psicologia.
Ela o olhava como se esperasse por qualquer brecha, e então o fisgaria o suficiente para achar todos os seus problemas; que com toda certeza, são incontáveis.
Mas ele tentaria, por Roier.— É difícil de explicar.
— Tome o tempo que precisar.
Bem, pelo custo da sessão alguma coisa teria que sair dali.
— Hum...eu não sei bem como começar. — suas unhas pretas desgastadas só pioravam com os arranhões discretos na coxa direita — Eu não consigo me lembrar da minha infância, boa parte dela pelo menos.
— Algumas pessoas ativam inconscientemente um mecanismo de defesa em suas mentes, assim esquecendo-se de seus traumas. Você acredita que teve uma infância ruim, Cellbit?
— Não. Eu acho que minha infância foi incrível, pelo pouco que eu lembro, sei que estaria longe de ser uma infância traumática.
A especialista anotava algo em seu bloco de notas, apertando os olhos parecendo pensativa. Bem, se há algo que Cellbit desejaria, é que houvesse algum milagre naquele lápis, pronto para melhorar a sua vida.
— Me conte sobre o que se lembra.
Invasivo, admitiria Cellbit. Mas era o trabalho da especialista afinal. Desviou o olhar desconfortável, sentindo as imagens que lutava para esquecer retornando à mente.
— Me lembro de ter acordado no que parecia uma arena de jogos, tinham corpos para todo lado, sangue e gritos. Eu tinha uma faca em mãos, e tudo que me restava para comer era um corpo morto no qual eu mesmo matei.
Sua voz soava fria, mas carregada de quebrantos. Desviou o olhar, encarando a pele irritada da coxa, incapaz de encarar a mulher à sua frente. Talvez ela esteja pensando que tudo é apenas um drama seu, uma criação da sua própria cabeça, e na verdade ele é apenas um viciado em criar mentiras.
— Por quanto tempo você viveu assim?
— Eu não sei...meses? Anos? Eu realmente não me lembro.
— E o que é que vinha na sua mente quando você fazia essas coisas?