Redenção

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Estava ali há horas o suficiente para ter perdido a noção do tempo, sentado no tapete felpudo de sua sala de estar, jogando Konosuba no PS4 enquanto comia asinhas de frango crocante com coca-cola – que seu gerente nunca sonhasse com isso.

Aquele era um raro fim de semana livre na bagunça que virou sua agenda nos últimos meses. Yibo estava trabalhando a tanto tempo sem uma pausa adequada que até mesmo dois dias livres pareciam um pequeno milagre. Assim, ele aproveitou a tarde de sábado para organizar um pouco sua bagunça, cansado demais para qualquer outra tarefa naquela manhã que envolvesse estar fora da cama.

Quando terminou, tomou um banho e resolveu pedir um lanche ao invés de tentar cozinhar, mas o celular descarregou assim que o fez, então conectou-o ao carregador e o deixou no quarto, indo para a sala à procura de algo para distraí-lo. Quando nada chamou sua atenção, decidiu que jogar uma partida não seria ruim. Ele não fazia ideia de quantas partidas já tinham sido até agora.

Mas era uma pequena bênção, na verdade, estar tão envolvido no jogo desviava seus pensamentos de onde haviam estado desde aquela primeira mensagem de Xiao Zhan, semanas atrás. Foi inesperado pegar seu celular após horas de trabalho e encontrar uma mensagem dele depois de tantos meses, mas também fez algo se encaixar dentro de si. Contudo, Yibo não sabia como responder; ou melhor, ele não sabia o que responder, quando a breve mensagem foi finalizada daquela maneira.

Estou esperando por você.

O que ele poderia dizer? O que deveria dizer? "Obrigado por esperar"? Não, porque não tinha sido ele quem pediu que o fizesse. Então, apenas deixou sem resposta, mesmo que voltasse uma e outra vez para ler o pequeno texto na semana que se seguiu.

Inesperadamente, uma nova mensagem chegou dias após a primeira, e dessa vez dizia algo que ele esperou ler ou ouvir naqueles cinco meses que se passou. Sinto sua falta.

E, oh, Yibo não pôde controlar o salto que seu coração deu com isso. Xiao Zhan sentia sua falta.

Naquele momento, após tanto tempo sem qualquer resposta de sua parte, Yibo acreditou que ele já tinha desistido, seguido a vida, e talvez fosse melhor assim – ou ao menos ele estava tentando se convencer disso. Mas ao contrário do que estava tentando acreditar, Xiao Zhan ainda estava lá, silenciosamente esperando.

Aquilo não deveria ter mexido com ele, mas fez. Aquilo não deveria ter feito seu coração bobo se animar, mas ele se animou. Não deveria tê-lo feito pensar que talvez – apenas talvez – Xiao Zhan estivesse sendo sincero sobre tudo, mas ele pensou. Não deveria tê-lo feito cogitar perdoá-lo mas... não era exatamente nisso que ele estava pensando? Não foi isso que o fez escrever: Como eu sigo em frente? Deixando o passado para trás.

Yibo passou muitas noites contemplando tudo o que havia acontecido em sua vida no último ano, e uma das muitas perguntas que o atormentavam era: Como podemos seguir a partir daqui?

Perdoar Xiao Zhan não apagaria o que aconteceu, muito menos mudaria o passado. Uma de suas maiores dúvidas era, se caso o perdoasse, seria realmente capaz de não lembrar constantemente o que aconteceu? Seria capaz de voltar a ser com ele o mesmo que era antes dessa ruptura? Tudo ainda seria como era antes? E Yibo descobriu que não tinha resposta para a maioria dessas questões, exceto a primeira.

O ato de perdoar, dar uma segunda chance, tentar novamente, era um ato de fé. Você não poderia prever o que viria, o que aconteceria caso o fizesse; nem poderia se obrigar a esquecer o que passou. Mas desde que, em seu coração, tenha decidido dar esse voto de confiança à alguém, deixar para trás o que aconteceu era essencial para que aquilo não viesse a interferir no futuro. E isso de modo algum era agir como se nunca tivesse acontecido, era apenas acreditar que aquele alguém, a quem você julgou merecer uma segunda chance, não cometeria o mesmo erro uma segunda vez.

Aquele VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora