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Montreal sempre esteve na lista mental de lugares que Scott gostaria de visitar. Viajar o mundo era definitivamente um dos pontos positivos em ser um piloto de Fórmula 1, mesmo que ficassem pouquíssimos dias em cada lugar. Era cansativo ir de um lado para o outro todo ano, mas ele nunca reclamaria disso. Sempre experimentava das mais diversas culinárias, visitava alguns pontos turísticos quando dava tempo, conhecia os fãs e aprendia novas palavras em suas línguas. Era uma experiência cultural que poucas pessoas tinham na vida e Scott adorava compartilhar ela através dos storys do Instagram.

Era manhã de sexta quando todos os pilotos faziam a trackwalk. É basicamente um ritual que foi estabelecido em algum momento onde eles andavam a pista inteira na qual correriam. Uma espécie de reconhecimento territorial. Ao menos, servia para Scott se lembrar onde estava pisando. O clima ameno permitia que ele usasse a camisa polo vermelha da equipe sem preocupações enquanto ainda permitia que outros pilotos usassem jaquetas.

Scott via mais a frente, um tanto afastados, os pilotos da Red Bull conversando animadamente com Tubbo e Philza, ex-piloto aposentado que sempre os acompanhava, provavelmente sobre a corrida de domingo ou os treinos que aconteceriam mais tarde. Ainda a frente dele, Mariana e Slime debatiam sobre algo que Scott não escutava, mas Mariana parecia bem ofendido com o que seu companheiro dizia. Jinki filmava um storys ao seu lado e ele não hesitou em acenar e sorrir para a câmera quando foi apontada para si. Com passos poucos mais apressados que o dos dois, Jaiden e Aimsey passaram por si e Roier veio logo atrás correndo para alcançar a dupla. Pac, por outro lado, decidiu se manter com Febatista e Malena, certamente feliz que podiam dialogar em português com os amigos.

O que falar sobre eles? Eram todos muito competitivos dentro daqueles carros e faziam parecer grandes inimigos quando se batiam ou se bicavam com comentários durante entrevistas, mas num geral, ninguém era realmente brigando. Quer dizer, Cellbit e Roier foram por anos, Mariana e Slime sempre discutiam quando estavam perto um do outro e principalmente nas corridas — talvez, por isso, a equipe esteja em último lugar na tabela —, enquanto os fãs criavam uma rivalidade feminina que não existia entre Baghera e Jaiden. No fundo, Scott sabia que todos ali se gostavam. Eles eram uma grande família, afinal, uma família bem incomum e não muito funcional na maioria das vezes, mas ainda eram uma família. Almoçavam e jantavam juntos, saíam para festas e bebiam, passavam as férias juntos, gravavam e tiravam fotos, choravam e riam, brigavam e se desculpavam. Eram uma boa família.

Mas, é claro, dentro das pistas a coisa era muito diferente. Scott não podia sentir pena e simplesmente deixar outros carros o ultrapassarem porque eles tinham poucos pontos ou porque são super amigos. Nas pistas, era cada um com sua própria equipe tentando vencer e era óbvio que ficavam muito frustados quando não conseguiam ou sequer chegavam na zona de pontuação. Eram nesses momentos que os conspiradores da internet gostavam de rivalizar os pilotos. Não que eles estivessem errados, é claro que o sentimento dentro de um F1 é que devem vencer não importa com quem estejam competindo, mas alguns levavam isso a sério demais e era por isso que, até hoje, juravam que Scott e Jinki não se davam verdadeiramente bem e que era tudo uma grande armação ou que a equipe os forçava a interagir e aparecer juntos para passar a ideia de "equipe perfeita".

O que era loucura para ele, já que a equipe não era perfeita nem com eles se dando bem. Aliás, nenhuma equipe era.

Passaram-se bons e longos minutos até todos terminarem a caminhada. Era pouco mais de dez horas quando Scott ouviu seu nome ser chamado numa frase com um sotaque completamente francês. Ele se virou prontamente, Jinki que o acompanhava fez o mesmo, e Guill se aproximou sorridente dos dois. Guill era piloto da Haas junto com Jimmy. Eram certamente as pessoas mais engraçadas que Scott já havia conhecido na vida juntamente de Quackity.

— Ei, Guill. — Jinki abriu um sorriso para ele, que foi prontamente correspondido com outro.

— Uma galera vai almoçar junto lá no hotel, queria saber se vocês topavam acompanhar?

Scott nem precisou pensar muito. Toda aquela caminhada havia o deixado com mais fome do que já estava e a palavra "almoço" fez automaticamente seu estômago roncar. Ninguém pareceu ouvir, entretanto.

— Claro!

O hotel era ridiculamente perto do autódromo e não demorou até os pilotos estarem de volta no lugar. A maioria deles se dirigiu pro restaurante, mas Jinki o parou no caminho, dizendo que iria pegar algo no quarto e já voltava. Ele apenas assentiu e continuou seu caminho com Guill praticamente o guiando a sua frente. Tecnicamente, todos os pilotos almoçavam juntos visto que estavam no hotel no mesmo horário, mas alguns preferiam comer no quarto ou sentar em mesas com seus próprios times, então aqueles pequenos momentos onde interagiam todos entre si num contexto descontraído eram quase raros. Scott foi um dos últimos a se servir visto a fila e se dirigiu a grande mesa onde todos estavam — bom, quase todos. Como dito, alguns preferiam sentar ou comer afastados.

Ele se sentou ao lado de Missa e não demorou para a cadeira ao seu lado ser ocupada por Etoiles. Os pilotos conversavam sobre algum assunto de música, Scott não sabia dizer muito bem qual era a discussão em si já que havia acabado de chegar, mas também deu suas opiniões sobre alguns artistas que eram citados. Descobriu ali, inclusive, que Aldo era muito fã da Taylor Swift e que Cellbit e ele dividiam um amor incondicional por BABYMETAL. Eles só não ficaram minutos falando sobre a banda porque estavam muito afastados um do outro na mesa, mas certamente aquele assunto seria trazido a tona em outro momento onde poderiam se entender melhor.

O almoço durou naquele ritmo leve e descontraído até todos saírem para se prepararem para o treino livre das 13:30, e quando Scott viu já estava no autódromo de novo. O macacão vermelho estava vestido somente até a cintura e o rapaz bebia água pelo longo e dobrável canudo em sua garrafa. Faltavam alguns minutos para começar e os engenheiros davam uma última olhada no carro. Não que fosse obrigatório estar na pista assim que ela fosse liberada, mas a equipe não gostava de perder tempo na garagem.

Seria mentira dizer que Scott não estava nervoso. A sensação era que havia desaprendido a pilotar aquele carro e que bateria no muro logo na primeira curva, mesmo que soubesse que desaprender não era tão simples assim. Aprender era difícil, claro, haviam dezenas de botões no volante de um F1 e demorava um pouco até se acostumar com todos, às vezes ele até confundia, mas desaprender era ainda mais difícil do que decorar todos eles.

O que o preocupava, de verdade, era a dominancia da McLaren e como ele teria que lutar o resto da temporada para alcançar a equipe.

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