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As pessoas certamente pensam que pilotar um carro de corrida é uma montanha russa de emoções, o que não deixa de ser verdade, mas essa parte é mais exclusiva para quando estão fora das pistas do que dentro. Quando você pratica um esporte de elite perigoso como esse, você não tem muito tempo de pensar. É você e o carro se comunicando e funcionando como um só. Sua única e mais importante função é vencer. Pilotos são ambiciosos, e essa sede de vitória provavelmente é o que os mantém realmente concentrados dentro de um carro a 260km/h. Porque, convenhamos, é comum que as pessoas pensem que eles ficam nervosos, ansiosos ou até desconcertados quando algo dá errado dentro da corrida. Isso até chega a acontecer, sim, mas em proporções muito menores do que se imagina. Dirigir é quase automático para eles e uma piscada errada, um deslize que seja, pode ser o fim para qualquer um.

No começo do ano passado, a Fórmula 2 perdeu Bobby. O garoto perdeu o controle do carro durante uma reta longa e capotou algumas vezes. Infelizmente, o carro que vinha atrás não teve tempo de reagir e acabou colidindo. Foi realmente desesperador de assistir ao vivo. Febatista se lembrava de como todo o automobilismo entrou em um luto profundo, de como Roier ficou completamente sem rumo o resto do ano e de como qualquer momento para ele se transformava em longas horas de choro. E não esperava menos, era seu irmãozinho. As pessoas preferem não pensar ou falar sobre essa parte do esporte, mas ela sempre vai estar lá. Pessoas morreram e, infelizmente, talvez continuem morrendo. Os fãs sabem disso, mas os pilotos sabem melhor do que ninguém. É um risco claro que eles correm em toda corrida e pode parecer uma ideia maluca quando você realmente reflete sobre essas questões, e é por isso que pilotos não têm tempo de pensar. Quando você dirige um desses monstros, você não pode ter medo, e se você tiver, é hora de dizer adeus ao mundo da Fórmula 1. Se você tem medo, você não sai do lugar, você não corre e, principalmente, você não vence. E pilotos precisam vencer.

Foi pensando nisso que Febatista entrou no carro naquele domingo. Os torcedores gritavam empolgados, ansiosos para o início da corrida, cada um com sua aposta mental própria sobre quem e qual equipe seria vencedora daquele Grand Prix. O piloto da McLaren apertou o volante com delicadeza para não esbarrar em nenhum dos diversos botões, estava largando na primeira fileira, na pole, não podia fazer bosta estando em primeiro lugar. Ele respirou fundo e encarou o farol com as luzes vermelhas se acendendo uma por uma após a volta de abertura.

Então, elas se apagaram.

Febatista pisou no acelerador sem dó algum, um tempo de reação realmente invejável. O engenheiro de rádio falava ao seu ouvido sobre como Malena, que vinha apenas alguns carros atrás, em 4º lugar, também havia largado bem.

— Foco na pista, Feb'. Jinki está apenas há 0.7 atrás de você. — ele disse, e Febatista olhou nos retrovisores.

Jinki não conseguiu a pole daquele GP por muito pouco e acabou largando em segundo lugar. Scott, por outro lado, estava em 8º, e ainda havia um Cellbit, em 3º lugar, numa RedBull extremamente furiosa colada na Ferrari de Jinki. Eles pareciam lutar por aquele segundo lugar, então, por agora, o cacheado não se preocupou tanto com a possível ultrapassagem que a piloto tentaria para cima de si, afinal, um deslize dela seria o suficiente para Cellbit ultrapassar.

Mas as coisas se tornaram um pouco mais caóticas depois dos primeiros minutos da corrida. Jaiden, Tubbo e Jimmy estavam fora; algum problema no carro de Jaiden fez com que ela deslizasse na pista e acertasse o carro de Tubbo, que estava logo a frente, e Jimmy, que vinha atrás, não conseguiu evitar o desastre. Houveram bons minutos de bandeira vermelha até que os carros fossem retirados da pista. Apesar do susto, ninguém havia se machucado.

Sem as posições dos três, Scott havia caído para 5º lugar e perseguia firmemente Malena. A McLaren de Febatista ainda ocupava o primeiro lugar, mas com muito esforço e dificuldade, já que Cellbit, que havia ultrapassado Jinki, quase não o dava tempo de respirar. Ele viu a RedBull acelerar como nunca quando entrou para o pitstop e, mesmo com um tempo realmente bom dos mecânicos, era inevitável que perdesse posições. Na saída do pitlane, o loiro ainda pôde ver Malena passando por si, e felizmente conseguiu voltar na frente da Ferrari de Scott.

— Vamos tentar abrir um gap bom em relação ao Scott. Cole o máximo que puder na Malena e ultrapasse quando for seguro. — foi a estratégia passada a ele pelo rádio.

Sinceramente, Febatista achou que funcionaria bem, mas Scott não desgrudou de si nem por um segundo sequer e tentava com garras e dentes ultrapassar a todo custo, de uma forma que o próprio piloto não consideraria muito segura ou apropriada, mas defendia tão agressivo quanto. E talvez esse tenha sido seu erro.

Scott colou seu carro ao de Febatista, pneu com pneu, de modo que na curva forçasse Febatista, que estava por dentro, a sair da pista se ele não o deixasse passar. Certamente, Scott pensou que ele deixaria, mas Febatista forçou. Forçou até que o contato viesse, e quando veio, a Ferrari praticamente se ergueu com o pneu dianteiro esquerdo saindo do chão, e então Scott perdeu o controle e foi parar na barreira de proteção, mas não sem antes levar parte da asa traseira da McLaren, o que forçou Febatista a recolher o carro.

Agora, eles também estavam fora da corrida.

Cellbit, Malena e Jinki subiram ao pódio, respectivamente primeiro, segundo e terceiro lugar. Febatista esteve lá para aplaudir durante o estouro do champagne, para abraçar sua companheira e, acima de tudo, amiga e comemorar com a equipe, mas quando as comemorações e entrevistas acabaram, no paddock, Febatista ouviu um xingamento em sua direção. O piloto da Ferrari marchava furioso em sua direção, apontando o dedo indicador em seu rosto e o forçando a ir para trás com toda aquela proximidade.

— Você é maluco?! — disparou, fazendo o cacheado juntar as sobrancelhas. — Você viu que não tinha espaço para passar e jogou o carro pra cima de mim!

— Você quis me jogar para fora da pista, Scott, o que você esperava que eu fizesse?

— Que cedesse a posição!

Febatista cruzou os braços. Se não conhecesse Scott, poderia jurar que seus cabelos estavam vermelhos porque ele transbordava de raiva.

— Se você tivesse pensado um pouco, teríamos terminado a corrida.

— Não é porque é sua primeira corrida da temporada que eu vou deixar você fazer o que quiser na pista.

Scott parece verdadeiramente ofendido.

— Eu machuquei a perna por sua causa! — ele apontou o dedo em seu rosto novamente. Não era mentira, Scott saiu mancando do carro. — Porque você não sabe dar espaço! — e saiu, sem paciência para escutar qualquer resposta do loiro.

No fim, não ter cedido realmente só trouxe consequências ruins, afinal nenhum dos dois havia terminado a corrida e Scott ainda havia se machucado. Os pontos do primeiro lugar faziam Cellbit bater de frente consigo no campeonato de pilotos, se tivesse terminado ainda iria pontuar por estar nas dez primeiras colocações e evitaria uma distância tão fácil de ser batida entre eles.

Ele suspirou, frustrado com tudo aquilo.

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