Capítulo 11 - Última ronda

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Lauren's POV| Segunda-feira, 23 de Dezembro de 2023, Goiás, Brasil.

Acho que eu finalmente poderia dizer que entendo Camila. Não vou dizer que apoio totalmente suas ações, mas entendo seus motivos. E eu admito não ter sido uma pessoa extremamente fácil de se lidar, especialmente no início.

Lidar desde cedo com preconceitos, olhares tortos e enojados era algo que eu sequer poderia imaginar. Geralmente quando eu interagia com alguma pessoa enquanto criança, costumava receber elogios e "aí meu deus, ela com as onças!!" como resposta. Camila recebia palavras rudes e ações que machucavam. Algo que para uma criança, era incompreensível.

Ela me falou das milhares de vezes que se perguntou se havia feito algo errado, se era culpa dela, se ela poderia mudar algo. Ela, nitidamente, tinha superado isso porque se mostrava confiante de quem era nos dias atuais e essa evolução era algo muito significativo pra ela. Poderia dizer que sentia orgulho da pessoa que era. E eu não poderia concordar mais.

Desde os oito anos de idade lidando com pessoas que não sabiam lidar com ela chega a ser desumano. Lidar com crianças questionando o que ela era e quando não soube responder - por também não saber - acabou sendo vítima de crianças maldosas. O trauma que isso gerava era extremamente compreensível.

Nem precisava me colocar no lugar dela pra imaginar, poderia simplesmente me colocar em um lugar de ser humano e tentar imaginar tudo o que ela sentiu naqueles dias.

Era engraçado, seu segredo ser esse era a última coisa que eu imaginaria, não por não saber da existência de pessoas assim, mas por ela ser tão patricinha, tão mimada e frescurenta que eu jamais imaginei que ela teria um pênis. O famoso pré-conceito de que ter um pênis te torna mais "homem" e que ser "homem" te torna mais "durão".

Engraçado como o preconceito funciona, não?

— Você terminou? - O som da voz de Camila me fez voltar ao mundo real. Eu olhei para a porta do meu quarto, onde ela se escorava na batente.

— Tô terminando. - Respondi, voltando meu foco pra mala. Ela estava tão linda que meus olhos tiveram dificuldade pra sair de seu corpo desde que eu a vi pela primeira vez no dia. — Patricinha, eu não tenho roupa chique pra ir passar um Natal com vocês.

— O jogo virooou...e a casa caiu! - Ela cantarolou e eu revirei os olhos. Chata! — Eu te empresto quando chegar lá em casa.

— Sem chances, sou alérgica a roupa de rico! - Rebati, negando com a cabeça. Camila riu, arqueando a sobrancelha.

— Uau, o mundo realmente da voltas, não é mesmo, troglodita?

— Cala a boca! - Resmunguei, fazendo-a rir ainda mais.

— Tô tão ansiosa pra ver você surtando com a minha realidade...- Ela deixou no ar, se aproximando de mim.

Eu nem imaginava como era um Natal de uma família de milionários ou bilionários, sei lá. Eu nem mesmo sabia no que Alejandro trabalhava. Os lugares, a árvore, os presen...puta que pariu!

— CAMILA! - Gritei, me lembrando de um fator extremamente importante. Meu grito foi tão repentino que ela se assustou, dando um pulinho.

— Aí, filha da pu...pureza em pessoa, que susto! - Ela reclamou, dando um tapa no meu ombro. — Que foi?

— Eu não comprei presente! Como vou chegar em um Natal, de intrusa e ainda por cima, não levando nenhum presente!?!? - Questionei, vendo sua reação se tornar desesperada. Eu fiquei ainda mais, que puta primeira impressão merda que eles teriam de mim!

— Ó meu Deus, Lauren! E agora!? Eles vão te odiar!!!!!!! - Sua voz saiu tão, mas tão irônica que eu simplesmente parei, esquecendo meu desespero e me virei pra ela. — Quem poderá nos ajudar?

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