𝐌𝐆𝐈𝐀𝐖 ┊❝Eu sei que minha namorada é uma bruxa❞
Durante uma pesquisa acadêmica em seu mestrado de História e Teologia, Osferth - um jovem acadêmico promissor - se vê em uma linha cruzada com uma crescente onda de desaparecimentos de cunho mister...
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ATO UM. SOL DE ÍCAROS
🕷
O Sol.
Ela era o sol.
Ela não reluzia, ao invés disso, emanava luz. Ou seria fogo?
Osferth jamais pôde compreender. Não até ali. Não até vê-la pela primeira vez. Curioso, como é da natureza humana, lançou seu olhar. Osferth não temeu o desconhecido. Pareceu-lhe convidativa em excesso para isso: com um sorriso atencioso, em volta de crianças do orfanato em que visitava, um livro clássico infantil e sua voz transbordando candura, como mel atraindo as abelhas.
Ocupado tentando observá-la, como um astrônomo inexperiente, se forçando a encarar diretamente o sol, negligenciando sua visão, arriscando-a pelo mero privilégio de observá-la, Osferth considerou ter realizado uma descoberta magnificente o suficiente para orgulhar Nicolau Copérnico.
Não. Não meramente orgulhar. Ele alegaria uma falha na teoria do Heliocentrismo. Diria que o sol não estava no centro do Sistema Solar envolto de planetas. Como poderia? Osferth via o sol à frente de si, com seus próprios olhos. Ou seria sua prole? Sua personificação?
Tentou imaginar o que os cientistas, santos, devotos e beatos fariam se soubessem daquilo, do escândalo de tê-la ali. Diriam ser um anjo do senhor ou um demônio enganador? Ele só poderia dizer que ela era o sol, a única palavra merecedora de equiparar-se.
O calor, o mormaço penetrando dentro de sua carne como raios gentis ocultando o fervor dentro de si enquanto concedia conforto o derrubou.
Para ele, um devoto ao sacramento divino, a conduta moral límpida, adorar o sol era um pecado. Era idolatria. Se olhasse por muito tempo, cegaria-se, uma punição adequada. Sentiu-se como Ícaro, elevando-se mais do que deveria aos limites mortais.
Queimar-se-ia caso ultrapassasse a órbita e erguesse as mãos para tocar por um mero segundo o astro solar.
Se tantas culturas curvaram-se ao sol, ergueram suas faces como defensores e glorificaram-no, como Osferth — uma mera ovelha — poderia ter resistido a urgência colossal de enfeitiçar-se por Morwenna?
