Indomável

Capítulo 27

       Katherine

     Estava sentada na sala em frente a lareira, era domingo, nem Lourdes nem Lizzy trabalhavam, estava literalmente sozinha com três seguranças lá na rua. Matteo saiu ontem cedo, segundo Lourdes para resolver algumas coisas, e até agora nem sinal.

      Tomo meu café, olhando o fogo na lareira, tinha que admitir que odiava me sentir sozinha.

- Acordou cedo pelo jeito.- Escuto a voz de Matteo.

    Olho para a escada e como se adivinhasse meus pensamentos, lá estava ele, descendo. Usava uma calça de moletom preta, estava sem camisa.

- Faz muito calor lá onde você mora?- Debocho olhando novamente para a lareira.

- Não sinto muito frio.- Diz se aproximando.- Sabe, até que combinamos, deveria dormir mais vezes na minha cama, não teria problema com frio.

- Só dormi na sua cama, porque bebi um pouco demais.- Falo sem o olhar.- E você não tinha nada que me levar pro seu quarto.

       Matteo se aproxima, me observando.

- Posso saber o que foi fazer na balada sozinha, sem me avisar?- Questiona.

- Fui te convidar, mas seu humor tava péssimo.- Confesso.

- E então decidiu fugir.- Deduz.

- Não fugi, apenas tive que burlar algumas coisas para conseguir sair daqui.- Digo calmamente.

       Ele cruza os braços com uma expressão não muito boa.

- Katherine, Katherine, você gosta de testar minha paciência mesmo.

    Não respondo pois não queria começar uma briga logo cedo. Matteo pega a xícara da minha mão, se sentando ao meu lado, tomando um pouco do meu café, me devolvendo.

- Fazer o que não é? Vou ter que tomar suas babas.- Provoca com um sorriso maroto nos lábios.

- Já provou direto da fonte e não reclamou.- Digo, o observando.- Pior sou eu agora, que terei que tomar a sua, sabe lá onde tudo já colocou essa boca.

    Ele sorri de canto, malicioso.

- Ah você sabe sim, querida.- Puxa meu queixo o fazendo olhar.- Desde o dia do nosso casamento essa boca aqui, percorreu somente seu corpo.

      Não falo nada, apenas mantenho minha postura, pensar nisso agora não ajudaria muito.

- Porque você é tão difícil de ler?- Seus olhos estavam focados em mim.

- Talvez porque não sou um livro?- Debocho.

- Haha muito engraçadinha.- Diz.- Porque você não demonstra melhor o que sente?

     Olho para ele por alguns segundos, era uma pergunta difícil, nem eu sabia.

- Eu não consigo.- Digo apenas.

- Porque?- Insiste.

- Eu não sei, eu não consigo.- Falo.

     Matteo segura minha mão, me puxando para mais próximo dele.

- Vou te fazer algumas perguntas, se caso não quiser responder não precisa.- Diz acariciando meu rosto.- Mas só quero tentar saber mais de você, e te entender também.

    Apenas assinto com a cabeça.

- Qual é o teu maior sonho?- Pergunta.

- Eu não tenho nenhum sonho.- Respondo, sentindo um certo vazio.

- Sente saudade da Espanha, de alguém de lá?- Questiona.

- Não tem como sentir saudade de algo que não era bom.- Sou sincera.

       Ele me observa por alguns segundos.

- Se pudesse realizar um desejo de infância qual seria?

- Uma família de verdade.- Digo automaticamente,  sentindo um nó na garganta.

     E por um momento me vi criança novamente, sentada na minha cama, pedindo em oração uma família que me amasse como das outras crianças da escola, um lar de verdade.

    Sinto Matteo me abraçar me tirando dos meus devaneios, que merda, odiava me sentir fraca na frente dos outros.

- Você tem uma família agora.- Fala me olhando nos olhos.- Talvez não uma família normal como as outras, mas tem a mim, Lorena, Enrico, Lourdes, Lizzy, meu pai, e toda a máfia, você não está sozinha.

- Isso tudo é apenas um contrato.- Digo firme.

- Talvez, mas no momento que você se tornou minha esposa, mesmo que seja por um contrato, minha família é a sua também, e jamais alguém vai ferir você.- Diz.

   Sinto algo estranho, e por um momento meu coração se aquecer, nunca senti isso antes, era bom, porém não podia me iludir, não queria sofrer. Mas era como ver uma luz no fim do túnel, uma gota d'água no meio do deserto escaldante, e por um momento queria acreditar naquilo, queria não estar mais só, não sentir aquele vazio que me consumia.