IV

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"Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."

-Clarice Lispector

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O aço cantou morte. Um fio de luz que fez jorrar sangue. Uma canção antiga, a melodia perfeita, que quando incorreta, nunca mais é tocada.

O chão era uma mistura de lama, neve e sangue juvenil. Capitano segurava sua espada como uma extensão do próprio corpo, sem adornos, sua capa presa a um gancho. Um guerreiro da cabeça aos pés.

Avançou um passo, depois outro, sem esforço desarmou mais um, outros se juntaram. Os fatui investiram contra o Mensageiro, de fora, um leigo diria que Capitano se esquivou por um fio, mas qualquer um mais experiente perceberia: era como uma piada de mal gosto. Não importa o quanto os fatui tentassem, o quanto se esforçassem, nunca atingiriam Capitano, e o homem sequer se esforçava para isso.

    Quando a humilhação bastou, ele encerrou o combate embainhando sua espada. Aos que foram corajosos para irem contra ele, Capitano apontou seus erros e acertos, com um incentivo para que melhorassem. Encantados, os soldados saíram para descansar, espalhando entre os veteranos e novatos o quanto seu senhorio era habilidoso e um capitão digno:

    "O sempre bom Capitano"... "Capitano é um Mensageiro prudente e justo"...  "Capitano é invencível, suas conquistas precedem seu nome"... "O bravo e destemido Capitano"

    Comentários assim enchiam a boca de todos. O Primeiro Mensageiro virou-se para o canto, Kaeya estava sentado em um banco, espadas recém polidas ao seu lado enquanto esfregava as têmporas, o som agudos das lâminas se chocando por horas certamente fazia sua cabeça doer.

    Aos sete anos, seu cabelo turquesa já havia ultrapassado os ombros e constantemente era preso em um rabo de cavalo. O príncipe ouviu os passos pesados de seu mestre e ergueu a cabeça.

    "Mestre Capitano" cumprimentou em um murmúrio cansado.

Eles estavam num pátio, não muito distante dos jardins, mas completamente isolado a ponto de não ser possível enxergar direito mesmo das torres mais altas.

Kaeya apoiava a cabeça nas mãos, preguiça e tédio estampados no olho. Capitano ergueu uma espada de madeira diante dele e o menino piscou confuso, até que o entendimento lhe alcançou com um sorriso pretensioso.

    O príncipe seguiu com seu mentor até o meio do pátio, girando a espada na mão, ele cravou-a na terra.

    "Começamos pelo boneco de palha ou só fundamentos básicos?" perguntou olhando ao redor.

    Capitano usava uma máscara como qualquer outro fatui, uma que nunca tirava mesmo em situações extremas, mas Kaeya lembra vagamente de já tê-lo flagrado sem máscara.

"Nenhum dos dois"

Seu sorriso murchou num instante. Kaeya não o viu se mexer, só teve tempo de apertar suas mãos no cabo e tirar a ponta da terra, mas seu mestre foi misericordioso, diminuiu a velocidade e mirou na espada. A espada de madeira foi cortada em duas, e o príncipe atirado no chão, deitado de barriga pra cima antes de levantar-se de novo.

Pelo canto do olho, viu e ouviu os outros fatui rindo dele. Ele apoiou-se nos cotovelos.

    "É, agora entendo o sentimento deles" brincou.

Innamorati, O 12ºOnde histórias criam vida. Descubra agora