Innamorati, O 12º

V

*Gatilhos: referências a tortura psicológica e física (implícita e explícita); violência.

"Há feridas ainda mais profundas do que as que afligem a pele"

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"Onde está Scaramouche?"

    "Bom dia Vossa Alteza..."

    "Onde ele está?" O tom não era ríspido, mas impaciente.

    O homem tomou fôlego. Era a terceira vez que era recontratado, e já não se surpreendia com o temperamento da criança. Kaeya não sabia nada sobre ele, a não ser a vaga lembrança de que seu nome começava com H. ...Hector?

    "Lorde Scaramouche chegou durante a madrugada, ele se reportou apenas ao Líder Fatui, não o vi de manhã" disse o guarda.

    O príncipe pareceu descontente, cruzando os braços ele perguntou:

    "De quem era o turno quando ele chegou?"

    "Do Sir Boris" O jeito que o príncipe lhe olhou foi desconcertante, mesmo sendo uma criança. Uma sobrancelha arqueada e um leve inclinar da cabeça, somadas com um olho semicerrado e uma postura impecável que lhe davam um ar apoteótico. Era um traço em comum com seus tutores: a capacidade de olhar qualquer um se colocando sempre acima, independente de quem fosse. "O soldado de 1ª Classe que fica na lateral esquerda do corredor principal"

O príncipe sorriu como um tipo de "selo de bom trabalho". O senhor H. suspirou e em seguida arqueou ao notar que seus ombros estavam verdadeiramente rígidos antes do príncipe desviar o olhar e seguir andando.

    Não demorou muito para que Kaeya encontrasse o soldado que procurava. Era um homem loiro e altivo, no início da carreira.

    Ele conversava com uma fatui, que usava a clássica máscara escura para cobrir o rosto. Foi a moça que viu Kaeya primeiro e o cumprimentou curvando-se. Logo o soldado também se virou e repetiu o gesto.

    "Vossa Alteza, como podemos lhe ajudar?"

    Kaeya se dirigiu diretamente ao homem:

    "Viu o Sexto Mensageiro quando ele chegou?"

    "Sim, Vossa Alteza" respondeu.

    "Onde ele está agora?"

    "Eu... imagino que ele tenha ido falar com Sua Majestade e o Lorde Pierro"

     Ouvindo a conversa a moça fatui deu um passo a frente, ganhando a atenção do príncipe.

    "Como sabe, Lorde Scaramouche foi enviado para o Abismo, ele foi ainda mais longe desta vez, rumores dizem que se encontrou com feras não catalogadas e se feriu ao lutar contra elas e trazer amostras da existência delas" Ao ouvir essas palavras, o semblante de Kaeya suavizou e entristeceu-se. Por um momento, seu olho cravou-se no chão, semicerrado. "Ele está no laboratório desde antes do sol raiar"

Kaeya piscou, lavando qualquer sentimento a mostra. Ele acenou antes de se virar e partir, foi o único agradecimento que ofereceu a fatui.

    Conforme o corpo pequeno de Kaeya sumia no infâme labirinto que era o Palácio Zapolyarny. Os dois adultos refletiam no quão estranho era observar aquela criança crescer ali. Era uma existência incompatível com o ambiente. Em sua essência, era gentil, mas a cada dia, mais camadas de tinta eram pintadas, cada pincelada cobrindo-o e escondendo-o do mundo, até que enfim, fosse a perfeita obra-prima feita pelas mãos dos Precursores. Uma criança com um alto grau de ensino, proeminente em todas as ciências, mas que não sabia dizer palavras simples como "por favor" ou "obrigado", nunca teve amigos de sua idade para brincar, e nunca experimentou o sentimento de sentar-se a mesa com os familiares reunidos.