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jessie's pov

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jessie's pov

Estávamos no meio do outono e o vento gelado da noite me fez enterrar as mãos nos bolsos do casaco e me encolher nele. A caminhada até nosso prédio não era muito longa, demorava no máximo uns dez minutos, mas com o frio e a raiva que eu sentia, aquele pequeno percurso parecia a travessia do mar vermelho.

Couto seguia na frente tranquilamente, como se fosse a pessoa mais sem problemas no mundo.

Irônico quando eu lembrava que ele era o cara mais problemático que eu conhecia.

Eu o seguia com dificuldade; os saltos mutilavam meus pés e cada passo que eu dava enviava uma dor aguda pelas minhas pernas. No entanto, eu permaneci calada. Aqueles saltos eram as únicas coisas que haviam funcionado como eu queria naquele dia infernal, obrigando meu colega de quarto abusado e sem moral a precisar olhar para cima para falar comigo.

E não era só porque eu provavelmente teria que amputar meus pés depois que os tirasse que eu ia reclamar.

Finalmente, quando eu comecei a achar que não conseguiria mais me controlar e começaria a gritar de dor e a arrancar os sapatos no meio da rua, a tortura acabou. Chegamos. Couto abriu a porta do elevador para mim e depois estendeu a mão para que eu lhe desse minha chave, mas eu o ignorei e abri a porta do apartamento eu mesma, cambaleando para dentro com o máximo de dignidade que meus pés torturados permitiram. O que não era muita coisa. Mas aí acabei pisando em algo que me fez perder totalmente o equilíbrio e cair esparramada no sofá.

– Você bebeu? – ouvi aquela voz meio rouca perguntar e podia jurar que o maldito estava rindo com só um canto da boca.

Nicholas tinha acabado de largar a sacola de comida em cima do balcão da cozinha americana e parou para me olhar. Peguei o objeto maligno que me fez perder o equilíbrio e o que restava da minha dignidade – e que podia ter me feito torcer um pé, eu ainda não tinha muita certeza – e joguei com força na direção dele.

Ele apanhou o chaveiro antes que batesse no seu peito.

– Obrigada por achar minhas chaves, Jessie – disse e sorriu para mim com os dois cantos da boca dessa vez. – Mas eu sugiro que você se sente como uma mocinha. Não que eu esteja reclamando, a vista daqui está ótima...

Endireitei-me no sofá e rapidamente juntei os joelhos – não que antes eu estivesse toda arreganhada, mas eu ainda estava usando saia curta.

– Eu sei que você não viu nada, Couto – respondi, inclinando-me para tirar os sapatos.

Aleluia.

erro perfeito!! | jessie e coutinho/coussie adaptação Onde histórias criam vida. Descubra agora