Capitulo 14

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Nunew estava saindo da faculdade, quando tromba o corpo com Tutor, que o esperava com um sorriso no rosto e um café estendido para ele.
— Faltou na aula e está aqui com maior cara lavada me paparicando? Não vou passar resposta nenhuma.
— Poxa, Nu! Eu sou seu namorado, o que custa? Eu tinha algumas coisas para resolver hoje, não consegui terminar a tempo.
— Tudo bem. — Nunew aceita o café e deixa um beijo rápido nos lábios de Tutor. — Depois eu te passo sobre a aula, agora tudo o que eu mais quero é ir pra casa.
Depois do passeio com Zee, na noite anterior e tudo o que foi falado, Nunew só queria ficar ao lado do melhor amigo, abraçado nele, sentindo o cheiro doce de Zee e ouvindo sua voz enquanto fazia live. Queria sair correndo dali e correr para os braços grandes de Zee.
— Claro, eu entendo. — Tutor e Nunew caminham lentamente em direção ao estacionamento.
Mas Nunew para de caminhar assim que ouve o som da moto de Zee se aproximando. Olha ao redor e vê o rapaz freando e estacionando da qualquer forma. Estava todo de preto e chamava a atenção de todos que estavam ao redor.
O que ele fazia ali? Nunew tinha ido para a faculdade de carro.
A confusão se torna ainda maior, quando Nunew vê Zee se aproximando praticamente bufando, enquanto tira o capacete e segura seu braço com força, o puxando para longe de Tutor.
— O que...?
— Fica longe dele. — Zee praticamente rosna para Tutor, que arregala os olhos.
— Zee, o que tá acontecendo?
Zee coloca Nunew atrás de si, indo em direção a Tutor, empurrando seu corpo com força.
— Pensou que o teatrinho nunca seria descoberto? Hm? Achou que poderia brincar com Nunew e que sairia ileso? — Zee grita e empurra Tutor novamente.
— O que você está falando? Você é louco? Nunew, segura seu amigo! — Tutor praticamente gritava.
— Eu vi você com o James e não adianta mentir. Caso queira provas, eu tenho foto e vídeo. Vai tentar mentir?
Naquele momento, Tutor sente seu mundo abrir sobre seus pés. Não podia ser verdade aquilo. Eles tinham tomado tanto cuidado. Praticamente não conversavam na faculdade e quando saiam, iam para lugares mais afastados para que ninguém os visse. O que? Em que momento aquilo tinha acontecido?
Nunew olhava de Zee para Tutor, tentando entender o que estava acontecendo. James e Tutor? Ele tinha contado por cima o que tinha acontecido entre ele e o primo e quando fez isso, Tutor jurou manter distância de James, mas agora Zee falava outra coisa. Sentia seu corpo inteiro tremendo enquanto segurava com força o braço de Zee, para impedi-lo de ir para cima de Tutor.
— Fala alguma coisa! — Zee grita e tenta ir para cima de Tutor, que dá dois passos para trás, mas sente seu braço ser segurado com força.
— Zee, vamos resolver isso em outro lugar. Aqui está chamando muita atenção. — Nunew tenta chamar a atenção de Zee, que mantinha os olhos grudados em Tutor.
Zee solta o braço e segura a nuca de Tutor o arrastando para um canto mais vazio do estacionamento.
— Conta tudo. Não quero mentiras. Por que eu juro que sou capaz de matar você, Tutor e depois vou atrás do James.
Os olhos de Tutor estavam arregalados em puro medo. James não tinha falado que Zee era agressivo daquele jeito.
— Quando eu conheci o James, eu já tinha visto o Nu na sala de aula e tudo mais, porque estudamos juntos desde o início. Ele se aproximou de mim, como quem não quer nada e a gente acabou criando uma amizade. Eu estava precisando de dinheiro e ele me ofereceu dinheiro caso eu me aproximasse de Nunew e o fizesse se afastar de você, pra depois Nunew ficar sozinho, porque ele sabe que você é meio psicopata quando o assunto é o Nunew estar com outras pessoas. — Tutor falava rápido. — Mas isso não aconteceu. Vocês ainda continuaram amigos e o James ficou com mais raiva. Hoje a gente saiu juntos pra pensar no que poderíamos fazer pra afastar os dois de uma vez.
Nunew não conseguia acreditar no que ouvia. Aquilo não podia ser real. Sua mente girava e não conseguia se prender a nenhum pensamento certo. Seus olhos vagavam de Tutor, que mantinha a cabeça abaixada para Zee, que tremia de raiva.
— Você ao menos sabe quem é o James de verdade para poder fazer essas coisas? Sabe do que ele capaz pra conseguir o que quer? — Zee pergunta e se aproxima de Tutor, segurando seu maxilar com força. — Você ao menos sabe o que aconteceu entre ele e o Nunew para entrar no plano dele?
— Não sei. O Nu me falou algumas coisas, mas por cima apenas e não foram coisas tão pesadas assim. — Tutor responde com dificuldade, por conta do seu rosto estar sendo apertado.
Zee fecha os olhos com força, tentando controlar sua respiração. Não acreditava no que estava ouvindo. Tudo aquilo parecia um sonho, não sabia explicar. Ele não queria acreditar naquilo, para ser sincero.
— Então vamos lá, vamos contar o que James é capaz para conseguir o que quer.
Zee fala com a voz ácida, quase como se fosse vomitar e Nunew fecha os olhos com força. Não queria revisitar aquela parte do seu passado naquele lugar. Queria sair correndo dali, ir o mais longe possível. Não escutar nada e se esconder em seu quarto, rodeado de seus livros e filmes.
— Zee, por favor. — A voz de Nunew sai como um sopro, chamando a atenção dos dois.
— Ele precisa entender, Nunew! — Zee fala ríspido e volta a apertar o rosto de Tutor, que solta um gemido de dor. — Ele acha que James é uma boa pessoa por ter dado dinheiro pra ele!
— Deixa ele continuar pensando assim, por favor, só não...
— Nu, eu quero saber. — Tutor responde com a voz baixa. — Se você quiser, a gente pode ir pra sua casa, conversar lá.
Zee vira o olhar para Tutor. Aquele garoto só podia estar brincando.
— É sério, Zee. — Tutor tira a mão forte do homem de seu rosto. — Eu não sou o vilão aqui e quero saber onde eu me meti.
Zee olha para Nunew que concorda com um aceno de cabeça. Os três decidem irem com o carro de Nunew. Depois de Zee encostar sua moto no lugar certo, os três vão em direção ao apartamento.
***
Os três estavam sentados na mesa na sala de jantar. O clima ainda era tenso, quase palpável. Nunew estava praticamente grudado em Zee. Sentia que a qualquer momento teria uma crise de pânico e só Zee conseguia o acalmar.
— James não é uma pessoa boa. — Zee começa a falar, enquanto segurava a mão de Nunew. — Ele já fez coisas muito ruins para o Nu. Desde sempre. Você sabia que ele já ficou num reformatório porque tentou tirar a vida de Nunew?
Tutor praticamente arregala os olhos quando ouve aquilo e olha para o garoto.
— Isso é verdade, Nu?
Nunew concorda com um aceno de cabeça e morde o lábio com força.
— Eu acho que tinha uns quinze anos, por aí, foi em umas das vezes que eu precisei passar uma temporada na casa da minha avó porque meus pais estariam fora gravando uma novela. — Nunew começa a falar, sua voz sai baixa, mas alta o suficiente para Zee, que conhecia tão bem aquela história. — Primeiro ele tentou me afogar na piscina. Aquilo eu relevei, mas depois ele me empurrou da escada e eu fui pro hospital, fiquei desacordado por uns três dias. Meus pais e Zee me fizeram denunciar ele e ele foi pra um reformatório. Ficou um tempo lá. Quando ele voltou, parecia que ele não faria mais nada. Mas então eu precisei ir pra casa da minha avó mais uma vez e ele estava morando lá. Fiquei alguns dias e ele me machucou de novo. Foi quando decidi que nunca mais voltaria pra lá e manteria distância dele.
Tutor não conseguia acreditar no que ouvia. Parecia até que sua mente estava dando cambalhotas enquanto ele ouvia tudo o que Nunew contava para ele. James tinha contado somente que ele e Nunew não se davam bem e que ele queria fazer o primo sofrer. Aquilo ia muito além do que ele pensou.
Apesar de ter concordado com tudo aquilo, ele não era o vilão da história. Ele não queria machucar ninguém fisicamente ou estar ligado a alguém que tentou tirar a vida de uma pessoa. Aquilo ia tão contra as coisas que ele defendia e era até estranho pensar daquela forma agora.
Talvez ele realmente fosse algum tipo de vilão.
— Eu... Eu realmente não sabia disso. Se soubesse nunca teria me aproximado. Ele disse que você se fazia de vitimia para conseguir a atenção de todos, já que desde a morte de seus pais você não tem mais reporteres ou paparazzis na sua cola.
— Isso é mentira. Desde que eu tinha uns treze anos eu parei de aparecer com meus pais porque odiava esse assedio todo em cima de mim. Meus pais eram famosos, eu não. Porque você acha que eu não posto fotos ou coisas do tipo? Eu só não quero ser descoberto. Quero viver minha vida como um anônimo. Sou grato pelo esforço dos meus pais para conseguir tudo o que conseguiram, mas essa não é uma vida que eu quero.
Nunew não conseguia tirar os olhos de Tutor. Não tinha conseguido se apaixonar pelo garoto, apesar de tudo o que tinham vivido até ali, o sentimento simplesmente não existia. Ele gostava de estar perto de Tutor, da atenção que recebia, das conversas que tinham e como ele podia fingir que não tinha sentimentos por Zee dominando seu corpo inteiro, mas agora, ele olhava para Tutor e simplesmente não sentia nada.
— James é manipulador. Ele consegue fazer as pessoas acreditarem naquilo que ele quer que elas acreditem. Não culpo você por ter caído no papo dele, Tutor. — Nunew respira fundo e fecha os olhos com força. Sente Zee apertando sua coxa. — Eu fui vítima dele. Minha avó. Meus pais e até o namorado dele. Sabe se eles ainda estão juntos?
— O Net? — Nunew concorda. — Estão. Eles moram juntos hoje em dia e nunca vi uma pessoa mais babaca do que ele.
— É, pois é. A última vez que James me machucou foi por causa dele.
— Eu sinto muito mesmo, Nunew. Se eu soubesse toda a verdade eu jamais teria aceitado participar de tudo isso.
— Você não tem culpa, Tutor. Apesar de ter aceitado participar dessa merda toda. James faz isso com as pessoas.
— Eu vou me afastar dele e voltar para a minha cidade. — Tutor responde, ansioso enquanto cutucava as cuticulas das mãos. Ele já estava querendo voltar para sua cidade mesmo.
— Não precisa voltar. Como fica sua faculdade?
— Eu vou me transferir para uma que fica na cidade vizinha. Eu já estava louco pra voltar pra minha cidade. Eu deixei a minha pessoa lá e agora, depois de tudo isso, eu preciso ir atrás dele e implorar perdão.
— Se eu fosse ele, não te perdoaria. — Zee fala alto para que Tutor pudesse ouvir.
— Tudo bem. Se eu fosse ele, também não me perdoaria, mas preciso pelo menos tentar.
— Só me promete que não vai se meter em mais nenhuma merda. Não vai atrás de dinheiro fácil. Você é uma pessoa inteligente, Tutor e apesar de tudo isso, mesmo te olhando agora, não consigo te odiar. Eu quero que você fique bem.
— Eu me odiaria. Na verdade, eu me odeio. — Tutor responde e levanta da cadeira em um salto. — Na verdade, eu me odeio, mas isso não vem ao caso agora. Não vou me fazer de vítima. Eu vou embora sem ao menos falar com James, porque depois de tudo o que escutei, percebi que ele merece viver na cadeia. — Tutor enfia as mãos nos bolsos da calça e morde o lábio com força. — Vou aproveitar que nossas férias estão chegando e ir atrás de toda a documentação de transferência. Vou trocar meu número de telefone e te passar o novo, caso você queira falar comigo algum dia. Me perdoa por tudo isso, Nu. Você não merecia nada disso. Você é uma pessoa maravilhosa e merece toda a felicidade do mundo e sério, vá atrás dela agora. Encontre uma pessoa que te ame de verdade e a mantenha do seu lado. Porque você merece. — Tutor sentia seus olhos encherem de lágrimas. — E você, Zee, aprenda a ver as coisas que estão bem embaixo de seus olhos. Você é esperto demais, então use isso a seu favor. Vou indo e Nunew, me desculpa. De verdade.
— Você se cuida também, Tor.
Nunew vê Tutor passando pela porta e seu corpo inteiro desmorona. As lágrimas começam a descer grossas por seu rosto. Os soluços vinham forte arrancando todo seu ar, fazendo seu corpo tremer. Sente os braços de Zee circularem seus ombros, tentando trazer algum conforto para ele.
Ele realmente não podia tentar conhecer ninguém e nem se aproximar de ninguém. Parecia que quando as coisas iam dar certo, tudo dava errado. Se sentia tão livre com Tutor e agora tudo o que viveu naquelas últimas semanas tinha sido mentira.
A maior mentira vinha dele mesmo. Que mentia para si mesmo que aquilo iria dar certo, que esqueceria Zee e viveria feliz ao lado de Tutor, como se fosse realmente apagar do seu coração a pessoa que amava desde os dezesseis.
Estava fadado a viver sozinho.
— Vem, vamos tomar um banho e depois a gente deita. Hoje o dia foi muito cheio e puxado, Nu.
— Agora eu entendi. — Nunew murmura e Zee vira para o garoto. — O meu final vai ser sozinho, sem ter uma pessoa que realmente me ame e queira estar comigo pelo que sou e não pelo que tenho a oferecer.
— Não fala isso, Nunew. Você é a pessoa mais incrível que eu conheço.
Vê o olhar de Zee em cima de si, mas não queria aquele olhar de pena. Não hoje.
Nunew balança a cabeça e levanta da cadeira, indo em direção ao banheiro do corredor. Só precisava de um tempo sozinho para tentar organizar seus pensamentos.

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Bom, depois de tanto tempo estou de volta e quero pedir desculpas desde já, porque tive um bloqueio de escrita nessa história, estou aos poucos tentando voltar.
Peço um pouco de paciência, porque posso demorar, mas eu prometo sempre voltar aqui pra vocês.
É isso e obrigado por toda paciência

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