Capítulo 17

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Eles não conversaram sobre o beijo e não porque estavam fugindo. Era só que eles não tiveram tempo! A faculdade de Nunew começou a exigir mais dele, afinal era semana de prova e entrega de trabalhos semanais. O trabalho de Zee o tirava de casa todos os dias, porque sempre tinha algo para gravar com seu rosto.

Não conseguiram também visitar o túmulo dos pais de Nunew e o escritor até agradecia por aquilo. Ele entendia que tinha que deixar seus pais irem. Não que fosse esquecê-los ou algo assim, mas ele ainda vivo, certo? Ele precisava continuar vivendo, conquistando aquilo que sempre sonhou e que seus pais também sonharam. Afinal, a vida continuava e ele não podia ficar parado.

Entendeu isso agora. Depois de tanto ter sofrido e batido na tecla de que precisava viver o luto eternamente, mas entendeu que não era justo consigo chorar todas as noites e precisar ficar dependente de remédios para conseguir dormir ou viver, simplesmente porque ele não conseguia se desprender dos pais.

As provas finalmente tinham acabado e ele poderia ficar em casa sem fazer nada, só vivendo sua vidinha, assistindo seus filmes e conversar com Zee sobre o beijo. Não sabia se estava pronto, mas ele precisava se arriscar. O pior que poderia acontecer, era Zee não se sentir da mesma forma e ele entenderia, a amizade continuaria. Ele já vivia daquela forma havia tantos anos.

Ouve a porta ser aberta e ergue a cabeça para ver Zee entrando. Ele tinha o rosto cansado.

— Oi, como seu dia? Senta aqui. — Nunew bate no sofá e o gamer logo se arrasta até ali, deitando a cabeça nas coxas de Nunew.

— Estou cansado. Finalmente nossas férias chegaram.

— Digo o mesmo. — Nunew enfia as mãos pelos cabelos de Zee, começando a fazer um carinho leve ali.

— A gente pode conversar? Sobre o nosso beijo. Sobre tudo. Juro que tentei respeitar seu espaço, Nu, mas eu tô quase enlouquecendo.

— Eu também. — A voz de Nunew sai em um sussurro. — E eu juro que quis conversar logo no dia seguinte, mas não deu. Nós ficamos muito ocupados.

— Está tudo bem. Estou aqui agora. Quero ouvir o que você tem pra me falar e por favor, não esconda nada.

Zee se levanta e senta-se no sofá. Ele queria aquele momento olhar diretamente nos olhos de Nunew. Queria ver seu mundo inteiro ali.

— Eu não sei quando ou como começou, mas em algum momento, eu me apaixonei por você e foi assustador perceber isso. Nós crescemos juntos. Passamos por tantas coisas juntos. Talvez seja esse um dos motivos, sabe? Eu vejo em você todo o meu porto seguro. A pessoa que vai me manter em pé quando eu estiver desmoronando e o mundo inteiro parecer tão escuro. — Nunew falava baixo, sem conseguir olhar diretamente para Zee. — Eu tentei de todas as formas fugir disso. Eu gritei e chorei tantas vezes, que em algum momento só parei e aprendi a conviver com esse sentimento. Era muito fácil, afinal, nossa amizade sempre foi tão nossa, entende? Que em certos momentos parecíamos namorados. Eu parei de tentar lutar contra esse sentimento e só aprendi a conviver com ele. O Nat vivia me falando para ser sincero com você, que você também sentia o mesmo, mas eu estava tão preso ao medo, que não conseguia. Foi quando comecei a sair com o Tutor. E bom, o resto você já sabe.

Zee tentava segurar a emoção. Nunew finalmente estava sendo sincero com ele e com os sentimentos que tinham um pelo outro.

— Quando nós nos conhecemos, éramos tão novos, vivendo coisas tão pesadas. Minha mãe, sua família invejosa. Foi muita coisa para nós dois absorver. — Zee começa a falar e se aproxima de Nunew. — Eu entendo o seu medo, é o mesmo que eu tive e ainda tenho. Também vejo em você a âncora que me prende em mim mesmo quando tudo parece desmoronar e eu demorei mais que você para ser sincero comigo mesmo. Só fui admitir meus sentimentos quando te vi com Tutor, ali eu percebi que não adiantava mentir pra mim, porque o sentimento era verdadeiro e ocupava todo meu coração. E aquilo foi assustador. Todas as vezes que eu te via com ele, sorrindo para ele, eu me imaginava no lugar dele, sendo o dono do seu sorriso. Pertencente dos seus beijos. — Zee percorre o dedo indicador pelos lábios bem desenhados e rosados de Nunew. — Eu tenho medo de tudo isso estar acontecendo agora, nós sendo sinceros com nossos sentimentos e amanhã acordar e tudo não ter passado de um sonho.

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