A princesa do reino submarino revirou os olhos para como a voz de Locke soou fantasiosa.
- Pare de teatro, leia logo. - pediu Nicasia, fazendo o ruivo piscar um olho em sua direção, enquanto exibia um sorriso charmoso.
[Em uma sonolenta tarde de sábado, um homem vestindo um casaco escuro e comprido hesitou na frente de uma casa numa rua arborizada. Ele não tinha estacionado seu carro nem tinha ido de táxi. Nenhum vizinho o vira andando pela calçada. Ele simplesmente apareceu, como se tivesse dado um passo entre uma sombra e outra.]
- Estamos falando sobre o mundo mortal? - a voz de Nicasia soou estranhamente decepcionada.
- Não existem táxis no Reino das Fadas, e nem carros, com certeza é o mundo mortal. - Vivi respondeu de forma direta, sem se incomodar com as expressões indignadas dos adolescentes fadas preconceituosos.
- Humanos realmente são bons em criar coisas complicadas. - Locke apontou, falando com a confiança de quem pensava compreender a complexidade necessária para criar um carro, embora mal tenha visto um diante de seus olhos. Talvez desconhecesse até mesmo o significado por trás da palavra "táxi".
- E por que o nosso futuro começaria aí? - a garota não demonstrou verdadeira curiosidade ao perguntar; parecia mais preocupada com a mecha de cabelo que se desprendia do penteado elaborado.
- Você não está sozinha nesse lugar. - Jude respondeu, sequer olhando na direção da herdeira do reino submarino.
- Mas adoraria não estar com você. - a princesa retrucou, fazendo Valerian soltar uma risadinha. - assim não teria motivos para estarmos lendo coisas do mundo humano.
- Então estamos lendo sobre algo relacionado às meninas humanas? - Locke demonstrou um interesse ainda maior ao dizer, seus olhos fixando-se em uma das garotas, sem saber identificar qual delas.
Era Taryn, e ela apreciou mais a atenção do que imaginou que gostaria. O olhar foi sutil, possivelmente passando despercebido para todos exceto ela, o que tornava a situação ainda mais romântica aos seus olhos.
- Acabou com seus joguinhos? Leia. - Cardan ordenou, lançando um olhar entediado para o ruivo. Ele percebia bem o que o colega estava tramando, e não era algo que apreciasse.
[O homem andou até a porta e levantou o punho para bater.
Dentro da casa, Jude estava sentada no tapete da sala de estar comendo palitinhos de peixe empanado murchos por causa do micro-ondas e mergulhados em uma poça de ketchup. Sua irmã gêmea, Taryn, cochilava no sofá, encolhida sob um cobertor, o polegar enfiado na boca manchada de ponche de frutas. E do outro lado do sofá, a irmã mais velha delas, Vivienne, encarava a tela da televisão, o olhar esquisito de pupilas partidas grudado no desenho do rato que fugia do gato. Ela riu quando pareceu que o rato seria comido.Vivi não era feito as outras irmãs mais velhas, mas como Jude e Taryn, de sete anos, eram idênticas - com os mesmos cabelos castanhos ondulados e rostos de queixo fino -, elas também se tornavam diferentes. Para Jude, os olhos de Vivi e as pontinhas levemente peludas de suas orelhas não eram muito mais estranhos do que ser a imagem espelhada de outra pessoa.]
A lembrança daquele dia era nublada na mente das duas meninas humanas, como Valerian havia apontado anteriormente, os humanos tinham memórias fracas... E já faziam muitos anos do acontecido. No entanto, Vivienne lembrava! Ela jamais esqueceria.
- Você já tinha percebido que eu era diferente. - Vivi comentou, tentando se desvencilhar da lembrança daquele dia, como se pudesse fugir.
- Não tinha como não ser, já se olhou no espelho? - Jude questionou com um sorriso discreto. Sua irmã mais velha era verdadeiramente fada em todos os aspectos de sua aparência: os cabelos loiros pareciam fios tecidos em ouro e os olhos tinham um brilho felino, longe de ser humano.
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𝐓𝐇𝐄 𝐂𝐑𝐔𝐄𝐋 𝐏𝐑𝐈𝐍𝐂𝐄: ᴘᴀ́ɢɪɴᴀs ᴅᴏ ᴅᴇsᴛɪɴᴏ
Fantasy"𝙊 𝙛𝙪𝙩𝙪𝙧𝙤 𝙨𝙚 𝙘𝙪𝙧𝙫𝙖 𝙖 𝙜𝙧𝙖𝙣𝙙𝙚 𝙧𝙖𝙞𝙣𝙝𝙖 𝙙𝙤 𝙧𝙚𝙞𝙣𝙤 𝙙𝙖𝙨 𝙛𝙖𝙙𝙖𝙨." Algumas semanas antes do início do segundo capítulo da história de Jude Duarte, ela se vê envolvida em uma confusão inesperada. Surge uma oportunidade...