Um galpão cheio de brutamontes

79 8 4
                                    

POV: Scarlet

Respiro fundo ao mesmo tempo que coço meus olhos, na tentativa de focar em algo. Eu tinha várias opções, poderia prestar atenção no caminho que o carro estava percorrendo, no jeito que Logan batia os dedos freneticamente no volante ou em como Cece fazia cafuné em uma Ophelia desacordada. Eu poderia mesmo prestar atenção em tudo isso se não estivesse desesperada por um sono que nunca consigo ter. Um sono que achei que teria depois de algum coma alcoólico ou algo do tipo, mas até isso não consigo fazer antes de alguma ameaça ser feita. Me disseram que a solução para tudo o que aconteceu está onde estamos indo e eu estou nesse carro a uns vinte minutos em completo silêncio. A vontade de tomar mais alguma coisa me consome e foi isso o que evitei por toda minha vida, desde que vi minha mãe definhando por conta da bebida e meu pai sendo agressivo pelo mesmo motivo. Dou uma risada baixa.

- O que é tão engraçado, senhorita Wood? - Aaron perguntou curioso do banco da frente.

- Essa sua cara feia! - Respondo e volto a coçar os olhos. Escuto Logan rindo.

- Porque você não tenta dormir um pouco, Scar? - Cece sugere, me viro pra ela depois de arrumar as pernas de Ophelia em cima de mim.

- Porque essa merda toda acabou com qualquer chance que eu tinha disso acontecer - Ela me olha, mas não tão confusa como achei que seria. Me contento com a cidade lá fora.

Estávamos indo para o sul de New Heaven, não tão longe do Campus, mas também nem um pouco perto. Falo isso sem nenhuma noção de onde poderíamos estar, não de noite e com álcool demais no meu cérebro. O perfume que meu irmão inventou de usar, faz meu nariz arder e não consigo evitar o espirro, pela terceira vez, desde que saímos às pressas da mansão, onde Dante deixou qualquer um de sua confiança cuidando de tudo e mantendo as aparências. Típico.

- Estamos quase chegando, Scar - Tento me concentrar na voz de meu irmão, que bebeu todas igual eu, mas que dirige como se fosse a pessoa mais sóbria de todo planeta terra - Prometo tomar um banho, pra você parar de espirrar.

- Achei que você soubesse que sua irmã tinha rinite... - Aaron deixa a frase no ar. Reviro os olhos. Celeste nem ao menos parece estar aqui.

- Achei que você ficaria de bico fechado depois de ser chamado de feio - A seção quinto ano reinou nesse carro, que no momento parece pequeno demais.

Meu irmão estaciona no meio do nada ou no meio do mato, nunca entraria em nenhuma outra ocasião. Eu saio primeiro, dou a volta no carro e ajudo Celeste a tirar Ophelia também. Evangeline chega apressada e então deixo que elas se virem. Abraço meus braços depois de sentir o vento gelado, lembrando que me empurraram tão rápido dentro do carro que não tive nem tempo para pensar ou agir, como pegar uma blusa. Sou coberta por uma jaqueta e assim que olho para o lado, vejo Aaron exibir seu melhor sorriso de "não precisa agradecer".

- Você vai ter que voltar a falar comigo alguma hora, loira - Estávamos lado a lado, ambos em pé assistindo Dante estacionar seu carro e Ophelia ser carregada para uma porta que não percebi estar ali antes.

- Eu sei e isso é um porre! - Respiro fundo e começo a andar em direção a porta mágica, que não percebi antes, ser algo enorme e camuflado pelas árvores e escuridão e o álcool no meu cérebro.

Dante deixa que eu entre antes dele, mas acho que preferia dar meia volta, pegar um dos carros e dirigir por aí, pelo simples fato de tropeçar e cair no mundo da Liberty. Meu estômago embrulha ao ver armas, membros da Liberty e ringues sendo usados por brutamontes, que me esmagavam tão fácil, que seria tragicamente hilário.

Liberty: VengeanceOnde histórias criam vida. Descubra agora