Liberty: Vengeance

"Você já contou pra eles?"

POV: Scarlet

Sei muito bem o quanto precisei beber para estar aqui. Claro que isso significa que tudo segue meio merda e meio clichê com algumas partes de terror, comédia e partes do tipo que você tampa a cara da criança que está sentada no seu lado, não que alguém já tenha feito isso comigo quando eu era criança, mas faziam isso com Ophelia e... quer saber? Quem se importa? Quem se importa com minha dissertação sobre tudo o que aconteceu depois de dois anos quase perfeitos comparados a minha vida anterior e minha vida agora? A única coisa que importa é uma Victoria amarrada bem ao centro do quartinho de tortura.

Óbvio que existiria um desses em qualquer imóvel que esteja na posse da Liberty e o fato do meu cérebro estar nadando em dopamina faz com que eu goste ainda mais desse momento. Claro que as correntes vindas do teto e as manchas no chão, de qualquer coisa que seja, não são nenhum pouco atrativas. Mas ela pediu, não pediu? Tínhamos até nos esquecido dela, pra então ela aparecer na corrida e ficar nos encarando como uma doida pedindo pra ser pega. Por mim, muita coisa poderia ter sido resolvida por lá mesmo, pelos brutamontes que estão me cercando agora, mas "era melhor seguir as aparências". Como se seguir as aparências significasse Dante mostrar para todos o seu troféu chamado "Celeste" logo após ganhar a corrida, achando que isso não chamaria a atenção de um ex que inventou o termo "red flag". Sebastian vai dar o troco e eu estou esperando para ver, não que eu torça por isso, é claro, mas o óbvio é o óbvio e manter as aparências, com certeza, não foi o que ele fez e estar calmo, não é o que ele está sendo agora.

— É melhor você começar a falar, sua vadia do caralho!?! – O macho alfa esbraveja e eu troco de posição, agora cruzando a outra perna. Claro que eu seria a única a ocupar a cadeira que estava sobrando. Mentira. Aaron apenas me mandou sentar alegando o fato de eu não estar nas melhores condições, mas quem estaria nas melhores condições agora? Ele é um hipócrita, isso sim. Só que Victoria era mais corajosa do que todos nós aqui e isso estava muito claro.

Ela sorria demais para o meu gosto e isso irritava todos ao meu redor. Dante comandava a situação, mas Aaron e Jason também estavam aqui, esperando ansiosamente por alguma brecha. Evangeline estava com Ophelia em algum lugar e sei que Cece deve estar no quinto sono, era para eu estar com elas, mas nunca que eu perderia isso.

— Pode ter certeza que ela está adorando escutar você implorar, Brutamonte! – Comento concentrada até demais nas unhas que estou enrolando a séculos pra fazer. Quando levanto meu olhar, Dante me encarava – O que foi? Ela queria ser pega, praticamente gritou no microfone que estava lá e que era para nós pegarmos ela, ou seja, estamos fazendo o que ela quer, não o contrário – Falo o que pra mim parecia o óbvio. O óbvio não era tão óbvio assim pra eles.

— Seu papai te mandou lembranças – A voz de Victoria ecoa pela primeira vez e todos nós olhamos em sua direção – Ele te educou muito bem, já que aparenta ser a mais inteligente entre vocês... – Seu olhar de deboche e desgosto passou por cada rosto dos três ao meu lado, mas não me importei, apenas me levantei ignorando ao máximo o fato da minha cabeça gritar de dor.

— Minha mãe me educou. – Começo a andar lentamente em sua direção, enquanto me perguntava mentalmente como estava conseguindo andar em linha reta – Se dependesse daquele verme, eu estaria na cama com qualquer um agora – As palavras saíram menos dolorosas do que eu achei que seria e é pra isso que o álcool serve, sempre foi.

Escuto um suspiro, mas ignoro, porque quando percebi, já tinha passado por Dante e agora me encontrava cara a cara com Victoria. Sinto raiva de como seu cabelo estava perfeitamente hidratado e brilhante, apesar de toda a situação.

— Sabe que é a filha favorita, não sabe? – Sorrio para não gritar. Um sorriso sem deboche ou alegria, um sorriso carregado de pena e cansaço – E você está louca pra saber, porque ele me mandou aqui.