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Havia uma dúvida cruel na mente de Draco, algo que assolava seu otimismo.

Estava em Wandsworth a quatro dias e, embora Harry não tenha tentado nada contra ele, esperava que seu companheiro não fosse tão indiferente.

Não conseguia ler a personalidade dele.

Harry não lhe maltratava, mas também não era bondoso com ele. Seu único bom ato era esperar que Draco terminasse suas duchas, para então lhe acompanhar de volta para cela.

Até mesmo o shampoo e sabonete não compartilhavam mais.

Como dito, era complicado entender Harry.

No entanto, noite passada, em uma tentativa de amolecer o coração do homem, Draco resolveu puxar assunto, no meio da madrugada fria e silenciosa, enquanto Harry fazia anotações em um pequeno caderno.

O loiro observava o outro, ali desconfortavelmente deitado no chão. Sim, ele ainda dormia no chão. Ninguém quis ajudá-lo a limpar o velho colchão mofado.

— Por que você não quer mais dividir seu shampoo comigo?

Harry nem moveu-se, continuou anotando alguns números na folha amarela do pequeno caderno.

— Foi por que eu reclamei do seu shampoo? — piscou os cílios de modo confuso, ele parecia angelical — desculpe, eu não sou acostumado com shampoo de pobres.

O homem mais velho suspirou, passando as mãos pelo rosto, quase inconformado com aquela conversa desnecessária.

— Seus pais não te deram educação, menino?

— Os meus pais não ligam para mim — ele virou-se sobre o pano, ficando de barriga para baixo, podendo agora balançar suas pernas em um ato espontâneo — são divorciados. Eles construíram uma empresa e um filho juntos, mas vieram muitas brigas então ele foi embora e deixou parte da grana com a minha mãe.

Harry não dava a mínima para as coisas que saíam da boca de Draco, realmente queria terminar suas anotações e assim poderia descansar pelo restante das horas.

— Meu pai ainda mora em Londres, mas ele tem outra família. Minha mãe tem um namorado e esse cara me odiava. Tenho quase certeza de que foi ele quem convenceu minha mãe a não pagar um bom advogado para mim e por esse motivo estou aqui.

— Não faço ideia do porquê está me contando sobre sua vida — Harry sentou-se na borda de seu colchão velho — eu não dou a mínima.

— Eu só queria conversar — suspirou — sempre fui um pouco solitário.

Harry achava que quem sabe aquilo explicasse o porquê do menino sentir necessidade de conversar e desabafar com pessoas estranhas, ainda mais alguém perigoso como ele.

— Eu vivo nessa solidão — o loiro lamentou — na escola eu sempre fui o melhor, o mais bonito, mais inteligente e isso causava inveja até nos meus amigos. Sempre me senti solitário lá em cima do meu alto pedestal.

— Inacreditável — Harry revirou os olhos com tamanha futilidade.

— As pessoas nesse lugar são tão grotescas —  disse o pensamento em voz alta — passei pelo julgamento, respondi todas as perguntas e não agi de maneira errada em nenhum momento. Tudo o que pedi foi que me permitissem trazer minhas calcinhas da Victoria Secrets, mas nem esse humilde pedido acataram.

Naquele momento, Harry se colocou de pé abruptamente e Draco achou que apanharia do homem, por sua infeliz falta de controle com a boca e suas palavras.

— Você é muito fora da realidade mesmo — Harry riu, uma risada curta e seca — tem gente que poderia comer a semana toda com o dinheiro de um shampoo que você deve usar nesse cabelo.

Cela 028 - DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora