2. Filho

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Guarulhos, 13/03/1996, Quarta-feira

09:00

Bento.

O avião que estamos acaba de pousar no Brasil. Vim de Portugal com os Mamonas Assassinas, acabamos nossa turnê e agora vamos tirar um mês de férias quando o fim de semana chegar. Estou guardando um segredo que só o pessoal da banda e minha família sabem, mas a grande mídia e a minha namorada Ana, ah...não fazem ideia... estou esperando um filho. Sim, ela não sabe que eu vou ser pai, eu tive um deslize feio, muito feio com a minha ex-namorada, Júlia. O pior de tudo isso é que eu costumo ser extremamente ciumento com a Aninha, eu sou um bosta.

-Bento... Bento, tira a cabeça da janela cara, nós já vamos sair - Escuto Júlio me cutucando no ombro, tirando-me dos meus devaneios.

- Desculpa... eu to meio...

- Está pensando no seu filho de novo, né? - Júlio me interrompeu me abraçando de lado

-Sim... cara eu não posso simplesmente abandonar a Júlia e o bebê assim, mas eu também não quero acabar com o meu namoro.

-Sinto muito, cara - Júlio deu dois tapinhas no meu ombro e entortou a boca como se não tivesse o que falar... é, eu sou um merda.


Levanto do meu assento, puxando junto a minha mochila azul e vermelha da mizuno. Andamos para fora do avião e caminhamos rumo à saída do aeroporto. Haviam seguranças para nos escoltar até nosso carro, muitos fãs e repórteres tentavam falar conosco. Sorrimos, acenamos e respondemos o que conseguimos responder enquanto andávamos.

Entrei na nossa van que nos esperava no estacionamento do aeroporto. Me encostei na janela novamente... como eu fui capaz? Como pude ser tão incompetente e irresponsável?


-Não fica assim não cara - Dinho falou sentando-se ao meu lado.

-Eu posso ter acabado com a imagem da banda, com a minha imagem. - Falei para Dinho. - E eu definitivamente acabei com meu relacionamento - deixei uma lágrima escapar.

-Você não acabou com a sua imagem e com a da banda, isso tudo vai correr em sigilo - Dinho tentou me acalmar.

-Isso se a Ana não resolver vazar essas informações pra primeira repórter que ela ver quando souber da verdade - falei fechando os olhos e abraçando a minha mochila.

- Garanto que a produção, equipe e assessores vão fazer o possível para que isso não aconteça - escutei Samuel falando

- Eu acho que você deveria falar com a Ana - Sérgio falou sério - Conversar, abrir o jogo... antes que ela saiba por terceiros.

- E quando esse filho nascer o que eu faço? Eu sempre quis ser pai, mas agora eu to com vocês, não estava nos meus planos abandonar a banda. - falei baixo

- E estava nos seus planos fazer um filho Alberto? - Nosso produtor, Rick Bonadio, se pronunciou pela primeira vez. -Sei lá... é uma consequência cara... você pode pagar pensão, tem dinheiro pra isso, sabe? Ou você tira uma licença pra dar apoio para a mãe do bebê

- Eu não sei o que fazer - encostei a cabeça no banco e fechei os olhos.

O motorista da van deixou cada integrante em suas devidas residências. Chego na casa da minha mãe, dou um abraço apertado nela e em cada um de meus irmãos. O relógio marca por volta das 11 da manhã e consigo sentir o cheiro delicioso da comida da minha mãe.


- Que bom que voltou, filho - disse me abraçando. - Estou fazendo um almoço de comemoração!

- Hmm! Mal posso esperar pra poder comer sua comida! - falo olhando em seus olhos - vou descansar um pouco no meu quarto ok? - digo me dirigindo ao meu quarto, não aguentando fingir que eu estava bem.

Meu Japa do AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora