9. Piscina

169 14 10
                                        


16/03/1996

 21:00

Itaquaquecetuba

BENTO

Estávamos todos em roda ouvindo histórias de terror, fazendo palhaçadas uns com os outros. Marina parecia estar se divertindo muito. Seus olhos por trás das grandes lentes redondas brilhavam a cada risada, a cada história. Não pude conter de vez em quando arranjar uma desculpa para encostar nela, sendo dando leves tapas em seu braço quando gargalhamos, me encostando de lado com ela ou até mesmo repousando o antebraço em seu ombro. Eu acho ela bonita, ok? Quanto mais ela se soltava conosco, mais atraente ela ficava, e saber sobre sua situação na casa dela me faz querer ser alguém que lhe ofereça um ombro amigo, um apoio, ou que simplesmente proporcione bons momentos.

- Tá curtindo? - perguntei baixinho para que só ela pudesse ouvir enquanto Dinho sugeria a nós assistirmos algum filme. Seu sorriso era enorme, ela virou o rosto para mim com os olhos brilhantes e recostou a cabeça em meu ombro.

-Sim! Está me fazendo muito bem - me abraçou de lado por alguns segundos, retribui rapidamente sussurrando um "que bom". Não demorou muito para nos soltarmos.

Dinho havia pegado a fita VHS de Pulp Fiction. Era um bom filme. Todos sentamos no sofá da sala de televisão para assistir o filme. Lá para a metade, senti um peso sobre meu ombro, Marina havia adormecido. Seu semblante era calmo.


- Ta se apaixonando de novo? - Samuel me cutucou, falando baixinho, vendo que aninhei melhor a garota sobre meu corpo, passando meu braço sobre seus ombros.

- Claro que não. Eu acabei de terminar um relacionamento - falei baixo, para não distrair o resto do pessoal que assistia o filme. - Mas eu acho que gosto dela sim, mas não quero fazer nada precipitado, a princípio quero a amizade dela. - falo quase como um sussurro. Eu estou prestes a ter um bebê, tenho tentado esquecer a merda que eu fiz no relacionamento anterior... ainda mais que foi super recente o término.

- Sei... - deu um sorriso maroto para mim, apenas fui capaz de revirar os olhos e dar um leve empurrão em sua cabeça, sem que eu me movimentasse muito para não acordar Marina. Ela deve estar cansada, levando a rotina que tem e com uma relação um tanto abusiva em casa.


A garota acordou quase no final do filme, e ao perceber que estava deitada em mim arregalou os olhos e se ajeitou, soltando-se do meu abraço.


-Nossa Bento, desculpa, acho que capotei e nem vi que dormi em você- coçou os olhos

-Tá tudo bem, pitchulinha, não foi nada - pisquei para ela que sorriu e voltou a ver o filme. Não demorou muito ela se encostou de lado em mim de novo, mas de uma forma menos íntima agora. Hesitei um pouco antes de passar o braço sobre seus ombros novamente, e vendo que ela parecia não se importar a abracei de lado.


O filme acabou já era por volta da 1:00 hora da manhã, as meninas foram para o quarto delas enquanto eu e os meninos fomos para o nosso. O fato de amanhã voltar para Guarulhos e ter que lidar com ex-namorada grávida, filho, e estresse rotineiro não sai da minha cabeça. Revirei de um lado para o outro no colchão, e decidi sair do quarto para dar uma volta.

A casa estava um silêncio total. Fui à cozinha, o relógio marca 02:30 da manhã, abri a geladeira e peguei uma lata de cerveja. Depois me direcionei para a área externa da piscina e vi a pequena Marina sentada sobre a beira, balançando os pés na água.


-Não conseguiu dormir também? - Perguntei me sentando ao seu lado.

-Não, estou ansiosa - respondeu brincando com os pés. - e você? - a garota pegou a latinha de cerveja da minha mão e bebeu um gole, mas logo se arrependeu falando algo como "não consigo gostar de cerveja", o que arrancou risadas de nós dois.

Meu Japa do AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora