O som da tempestade era um constraste com o silêncio na sala de jantar, naquele momento, mesmo os talheres encostando na porcelana pareciam altos.
Com um olhar rápido — quase sutil o bastante para não ser notado — Betsy observou seu marido; o título recém-adquirido ainda parecia estranho, mesmo decorridas quase seis horas desde a cerimônia.
No dia anterior, e todos que o antecediam, aquele homem era Sr.Lémieux, o novo rico em ascensão por seus investimentos em minas de esmeralda, rubis e metais, ela não sabia mais do que isso.
Ninguém saberia responder se ele era um felizardo que havia gastado toda a sorte de sua vida fazendo um investimento tão certeiro, ou um estrategista que havia estudado a fundo o mercado. Mas não havia quem não desejasse ter seu próximo passo.
Se tivessem contado ha alguns dias que se casaria com aquele homem, pensaria se tratar de algum tipo de piada — e suas razões para descrença eram muitas — ainda que existissem controvérsias em relação a classe social inicial, o status do homem estava muito acima do dela em todos os quesitos, mesmo os senhores mais tradicionais e elitistas concordariam.
Betsy era a promíscua da casa Sallate que havia seguindo o caminho de tornar-se freira, porque era o único que havia restado.
Olhou de relance para o homem, sentindo algo agridoce sobre tudo isso, embora uma parte de si quisesse agradecê-lo de todo o coração por tirá-la do convento, não era tola o suficiente para não saber que esta união era mera conveniência.
Era de conhecimento geral que a família Sallate vinha passando por um período de crise, os negócios não iam bem. Ela era a única filha solteira que havia restado, haviam a jogado no convento pelos últimos dois anos justamente porque sabiam que nenhum homem a desejaria como esposa e mãe de seus filhos depois do que houve.
Talvez tivessem aceitado a proposta de Sr.Lémieux mesmo que tivesse oferecido um pote de mel, o dote final foi um brinde muito bem vindo.
Em contrapartida, ja havia escutado de seu pai que ele tinha intenção de expandir seu negócio para o exterior. E todos sabiam que nenhuma pá de pedra poderia ser tirada do lugar sem a autorização da igreja — que exercia influência decisiva nos rumos do estado — A família Sallate tinha uma história antiga e amigável com a igreja, eram membros respeitáveis, mesmo que agora, tão próxima da pobreza.
Estabelecer conexões era uma maneira de conseguir a aprovação, um casamento era uma conexão sem duvidas irrevogável. Além de é claro, uma doação generosa para os fundos religiosos.
Observou os olhos esverdeados dele fixos na própria comida, durante as poucas vezes que o viu anteriormente, teve a sensação de ver um quadro, era como se seu rosto não pudesse expressar nada além de seriedade.
A assustava como olhos em um tom vivo tão brilhante pudessem ser contraditoriamente tão apáticos.
Quase cinzentos.
Voltou o olhar para o proprio prato, o nervosismo parecia engolir sua fome, mesmo em frente a uma mesa tão farta e diferente dos pães e sopas de beterraba do convento.
Se recordava da visita que o homem fez há alguns meses no local, fora uma doação para a reforma dos móveis destruídos pelas chuvas. O que por fim, ocasionou um jantar de agradecimento com todos do ministério.
Coincidentemente, ou mero azar do destino, fora justamente este o dia em que ela foi convidada — na melhor das palavras — a se retirar do salão por derrubar um vaso de crisantemo.Na época, apesar da humilhação, não se importou que ele tivesse presenciado a cena do tapa que levou de irmã Phirmia. Mas agora, era difícil não sentir as bochechas se aquecerem mais do que na hora. Se perguntava se ele se lembrava daquele dia, esperava sinceramente que não.
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Contraste Em Relevo.
RomanceQuando Lie é retirada do convento devido a um casamento arranjado por seus pais para evitar a falência, ela não poderia imaginar que seu marido seria o enigmático Athan Lémieux, um novo rico cuja ascensão inexplicável intriga a todos. Os problemas s...