VI- Não observe muito.

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De maneira geral, era como se o tempo na mansão sempre passasse de forma lenta.

Fora difícil não ficar surpresa quando uma empregada se aproximou, avisando que tinha visita.

Nem havia notado que ficou tanto tempo no campo, o fato do cavalo ser manso o bastante para permitir que pudesse andar sozinha, somado a Chest a incentivar a continuar — parecia ser a primeira vez que ela passava mais do que vinte minutos conversando com alguem do local — atraíram sua atenção de tal forma, que nem notou a diminuição do sol.

Chest era um homem simples, filho de camponeses que eram da região leste e decidiram recomeçar a vida. Assim como a grande maioria dos funcionários, ele ia embora no momento em que anoitecia. Lienevra ficou receosa e sentiu-se culpada sobre estar atrapalhando o o incomodando quando requeria sua presença. mas ele insistia que não.

A visita não era exatamente o que ela esperava — embora honestamente, ela nem saberia dizer que tipo de pessoas imaginava — notou um homem e uma mulher na sla de estar, dois funcionários do local seguravam o que pareciam tecidos.

— Senhora Lémieux, é um prazer conhecê-la — ele se aproximou, a cumprimentando. Lienevra somente conseguia pensar o quão estranho era escutar aquele titulo, sabia que em algum momento ele iria a se tornar familiar, mas naquele momento o único sentimento era de que estavam falando de outra pessoa — Sou Bierti Sandre e está é minha subordinada Gisel, somos da alfaiataria Sandre.

Lienerva retribuiu com um curto sorriso cortez, alternando o olhar entre os dois e tentando não deixar visível sua confusão, mas sendo por fim, perceptível.

A alfaiataria era muito famosa, a família Sandre já tinha influência sobre as vestimenta da alta sociedade a quase trezentos anos, seja o lançamento de tendências como na comercialização de tecidos do leste asiático.

Se Lie fosse para a casa Sallate, certamente encontraria algum vestido se sua bisavó, com a característica assinatura — embora atualmente duvidasse que sua família tivesse condições de contactalos com frequência — ela mesmo, pode poucas vezes pode acompanhar sua mãe em uma visita ao local.

— Desculpe, eu não estava esperando por visitas — Explicou, seu cabelo estava bagunçado e em seu vestido haviam alguns pedaços de grama molhada.

—Foi a pedido do senhor Lémieux — explicou, a jovem assentiu com a cabeça, disfarçando a surpresa.

Já imaginava que isso aconteceria em algum momento, não tinha uma grande variedade de roupas e precisaria se adequar a ele, mas não pensou que seria pega de surpresa.

Foi necessário esforço para não demonstrar seu desconforto quando os alfinetes espetavam seu corpo. Ao menos eles eram ágeis e nao demorou muito para tivessem todas as medidas de seu corpo — não queria demonstrar que não tinha o hábito de estar naquela situação com frequência, mas imaginava que eles já soubessem, ela não era alguém que possuía luxos, nem mesmo antes do convento.

Foi necessário forçar um sorriso quando escutou a mulher comentar em tom de brincadeira sobre como os quadris finos certamente seriam um problema futuro para ter um bebê.

A escolha dos tecidos, somado aos modelos que estavam desenhados em um caderno foi o que levou mais tempo, ela estava indecisa e era difícil pedir uma segunda opinião quando eles concordavam com tudo.

Não sabia qual orçamento poderia gastar sem causar problemas, nao queria que a primeira grande discussão do casal fosse por dinheiro, mas ao mesmo tempo não poderia escolher apenas uma única peça.

Quando tudo finalizou, ela nem ousou a perguntar o valor por trás daquilo, qualquer que Fosse, era mais do que já poderia ter sonhado em gastar com roupas algum dia.

Apenas o ato de reservar os funcionários para ir a residência ao invés de ir até o ateliê tão renomado já era um luxo do qual preferia não pensar.

Para a surpresa — Ou talvez ausência de sorte — naquela noite seu marido retornou mais cedo do que o habitual — o suficiente para que jantassem desconfortavelmente juntos. Se as manhãs com ele já lhe deixavam ansiosa, as noites pareciam ainda piores.

O clima gélido somado as janelas fechadas por cortinas grossas e a ausência do som dos pássaros matinais tornava tudo pior.

Levou a ponta do garfo, espetando um pequeno pedaço de carne a boca, mastigou lento, tentando agir com naturalidade. Quando ergueu os olhos para vê-lo e notou que o par de íris verdes estavam fixos em si, mal conteve um arregalar de olhos, se forçando a engolir o pedaço — por pouco não engasgando.

Era como se ele sempre estivessem a olhando para como se observasse um cervo.

— Jopherf me informou que o alfaiate esteve aqui — disse em um tom que dificilmente revelava o que pensava sobre, ela tentou detectar raiva, sabia que havia gasto uma boa quantia, ao menos o suficiente para que, se fosse seu pai, perdesse o restante dos poucos cabelos que tinha.

— Espero que não tenha se incomodado com as minhas escolhas — disse, focando no prato para evitar os olhos dele, tinha medo. — Se o senhor desejar, posso pedir para que cancelem — bebeu um gole curto de vinho, tentando se acostumar com o sabor, os do local eram mais fortes e amargos do que os que costumava a ter na casa Sallate. Quando olhou de relance para o marido.

Ele visivelmente não se importava.

— Amanhã cedo haverá uma missa para a família Urphell — não precisou ser dito mais nada para que ela entendesse.

Tudo que ela fez foi acenar com a cabeça, mesmo que sua barriga estivesse gélida pela ideia de aparecer em um evento público.

— Pensei que o senhor Sammiston tivesse desaparecido — comentou, mas já faziam algumas semanas, era natural que deduzissem que o homem estivesse morto.

— Encontraram o corpo, ao que tudo indica, foi um suicídio — arregalou os olhos, surpresa com a fala.

— A senhorita Margent deve estar em profundo sofrimento.

— Suponho que sim.

— Ninguém poderia imaginar que ele tivesse passando por um momento dificil— comentou em voz baixa, se sentiu culpada por finalmente ter um diálogo com o marido as custas de uma tragédia, ainda que não fosse particularmente próxima da família Urphell — Ele era...admirável — foi tudo que pode dizer, sabia que nao havia soado sincera, os boatos sobre o homem sempre envolviam política e suborno, mas nao era correto pensar mal dos mortos.

Notou como os olhos dele manteram a mesma expressão, se limitando a tomar mais um gole de vinho.

—  Talvez tenha sido, algum dia.

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⏰ Última atualização: Mar 28 ⏰

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