3-Conselhos

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- Ouvi algumas coisas sobre você CryBaby. - O terapeuta se ajeita na cadeira. - Presumo que você ainda esteja passando por um tempo difícil sobre a morte daquela garotinha.

Eu tento segurar as lagrimas. Mesmo sentindo o caroço na minha garganta começar a arder, e meus olhos começarem a marejar.

- Então eu não preciso de falar nada. Você já sabe de tudo.

- Na verdade não, jovem. Eu sei apenas da tragédia, não do que você sente. Não sei quem estava no dia em que aconteceu, não sei de nada.
Apenas sei que uma amiga sua morreu, e eu sinto muito por isso.

- Certo, eu tenho que falar o que eu sinto então?

Ele faz sim com a cabeça.

- Vamos acabar logo com isso.
Bom... Eu ando me sentindo muito culpada sobre isso. Sobre eu não ter conseguido salvar ela. Todo mundo diz que não foi minha culpa, mas eu sei que não é verdade. Eu sei que Ben me culpa por isso.

- CryBaby, não tinha como você ter salvado ela, Você era uma criança, Não tinha força o suficiente.

- Eu tinha força o suficiente. Eu não usei por que tinha medo de algo acontecer comigo também. Me senti tão egoista depois de tudo isso.

- Por isso que você se culpa? você acha que podia ter salvado ela? - O terapeuta entrelaça os dedos e olha no fundo dos meus olhos.

- Sim.

- Antes que eu possa continuar. Tem mais alguma coisa que queira me contar? só se você estiver confortavel é claro.

Eu não me senti confortável com a ideia de vir para cá primeiramente. Então eu vou contar o menos possivel sobre mim.

- Não. Isso é tudo.

- Certo. Você já parou pra pensar... que mesmo que você tivesse a força para salvar ela, se você não tivesse medo. Você mesmo assim não conseguiria?
A morte vem pra todos, jovem. Não importa a hora. Se ela tinha que ir, não importa o que impedisse, ela morreria.
Mesmo se você a salvasse, ela morreria de outra maneira, Eu ja disse para outras pessoas, e digo para você também. Não da pra escapar da morte.

- Eu sei,mas...

- Você era muito jovem para tudo isso. Sua mente ficou em um estado de negação por muito tempo, Tenho certeza, a mente de uma criança não consegue processar cenas horripilantes como aquela, e superar em um curto periodo de tempo...

Eu automáticamente paro de escutar. Isso faz sentido. Mas eu não quero aceitar, eu sei que eu não poderia ter salvado ela. Mas... eu prefiro que não fosse daquele jeito...

- Quanto tempo ainda temos? - Eu pergunto fingindo que eu tenho algum compromisso.

- Bom...Temos uns 20 minutos. Quer acabar a sessão mais cedo?

- Eu tenho um compromisso. - Eu cruzo as pernas.

- Sua mãe disse para mim marcar uma sessão de 30 minutos pra você.

Ah legal. Muito bom saber.

- Tenho que chegar no local em 10 minutos.

O terapeuta bufa.

- Certo, Mas na próxima sessão, 30 minutos como sua mãe disse, certo?

- ...Tanto faz.

Pedi pra ela me levar pro meu apartamento depois de alguns minutos em que sai daquela sala. Estavamos se levantando para ir embora, Até que eu esbarro em Ben que também estava indo embora. Mas não queria evita-lo de novo. Ele parece tão...Mal.

Quando eu esbarro nele, eu automáticamente me levanto e o ajudo a levantar também

- Ta tudo bem Ben?

Ele continua olhando para o chão, e tenta passar sobre mim, mas eu o seguro.

- Por favor não vai embora, eu quero conversar com você...

Derrepente sinto meu coração pular uma batida quando sinto a mão dele colocando um papel na minha mão. Em seguida ele sussura.

- Eu não quero falar com você. Me deixa em paz.

Em seguida ele vai embora. Eu abro o papel, e tem um numero escrito.
Deve ser o numero de telefone dele. Talvez ele não esteja pronto pra falar comigo em público?...

Derrepente vejo as pernas de Angelita nas laterais da minha cabeça, depois, ela enrola os braços em volta do meu pescoço.
Obviamente ela subiu nas minhas costas, que bom que ela não tem peso.
Angelita coloca a cabeça do lado da minha.

- Deixa eu ver! Me dá! -Ela tenta pegar o papel da minha mão, mas eu só saio andando com ela nas minhas costas, e sigo minha mãe, que ja tinha levantado e ja estava me esperando dentro do carro.

- Era o Ben, querida?

Eu me sento no carro, mesmo que Angelita esteja nas minhas costas. Ela da um jeito de sair dali.

- Sim mãe.

- O que ele queria?

- Nada. Mas ele me passou o número dele. Por favor, eu só to cansada me leva pra casa.

Eu sinto Angelita empurrar minhas costas.

- Me deixa sair daqui! Eu não tenho espaço! sai! - Ela resmunga e fica mexendo os pés e me chutando para sair.
Obviamente, uma pessoa que não consegue ver e nem escutar ela, vai achar que eu to passando mal.

- Ta com ansia de vômito filha? Você ta inclinada pra frente...eu posso te levar no hospital se precisar.

- Não precisa eu to bem.

Logo quando ela volta a prestar atenção no volante, Eu me sento do outro lado do carro. E finalmente Angelita se senta adequadamente no banco.

- Que saco! você sabe que eu tava atrás de você!

Eu dou de ombros e cruzo os braços.

- Fica quieta, em casa eu falo com você.

Eu sussuro.

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