2-Terapia

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Eu amava assistir a vida da CryBaby.
Ver todas as coisas que ela passou, ver o quão ela é forte por passar por tantas dificuldades. Inclusive pelo pai dela que morreu alguns anos depois de mim. Ela é uma garota tão forte... Eu entendo bem que ela seja triste o tempo todo.
Eu obviamente não queria ser tão infantil perto dela. Mas sei lá... Gosto de provocar minha querida as vezes.

- Cryzinha, sabia que eu tenho um talento especial? - Eu digo ficando bem perto do rosto de CryBaby, ela obviamente não olha pra mim e nem fala nada. Ela continua mexendo em seu celular. Até porque estamos no carro em direção a uma sessão de terapia.
Não vou falar nada sobre isso. A mãe dela tem dinheiro, ela sabe o que fazer.

CryBaby entra no bloco de notas em seu celular e escreve

<Não, você nunca me contou que tinha um talento. É algo que você desenvolveu como fantasma além de ter acesso a suas versões futuras ou passadas?>

Eu rio levemente. Eu sei que ela não pode falar comigo, e ver ela arranjando maneiras de fazer isso é tão fofo.

- Sabe, as vezes eu vou visitar nossos amigos enquanto você dorme. Tipo, Fleur e Celeste ficam acordadas até madrugada, Então eu gosto de ver o que elas estão fazendo. Mas não é nada demais. Elas só estudam. - Eu bufo - Eu também vou visitar meus pais e o Ben. Magnólia está em outra cidade, Mas ela é uma boa desenhista. Enfim.
Sabia que ee eu subir nas costas de algum deles, eles começam a chorar?

< O quê? Por que? >

- Não sei. Acho que eu coloco um peso nas costas deles ou algo assim. Ou eu faço eles lembrarem de mim e sentirem minha falta. Acho que é por que eu costumava a brincar em cima das costas do meu irmão sabe? Ele corria e eu ficava em cima. Eu amava fingir ser um avião. Acho que isso deve dar gatilho em vocês.
Eu ja tentei com você várias vezes, você sabe disso. Mas sei lá, você nunca chorou!

Na verdade, eles só choram por que sentem minha saudade. Eu sei tudo que eles sentem. Sei tudo sobre a vida deles, sei que todos sentem minha falta, Mas querem ser fortes e me superar. Eu deixo isso funcionar, mas dou uma visitinha quando eles estão sozinhos. Desse jeito todos podem chorar...e eu posso matar minha saudade deles.

< Eu já estou acostumada com você Angelita. Eles não passaram a infância inteira com você depois do acidente >

- Sim...Sabe, achei que meu irmão tinha superado.

< Ele não superou? >

- Não. Ele sabe quando eu estou por perto. Ele pode me ver...Ele só não quer.

< Como eu faço para não te ver? >

Eu rio e empurro o ombro de CryBaby com o meu. E rio mais ainda vendo ela tentando fingir que foi o movimento do carro que fez ela ir um pouco para o lado.

Eu nunca levo as coisas que CryBaby fala a sério. Sei que ela gosta de mim, e que não quer que eu vá embora. Sempre quando ela vai dormir. Pede pra me abraçar como se fosse um ursinho de pelúcia.
Eu faço carinho na cabeça dela até ela adormecer. Depois eu visito meus amigos e meu irmão. Nem sempre. Uma vez no mês. Eu amo vestir tudo que ela veste, Tanto que usamos pijamas da hello kitty combinando, e ela não se incomoda com isso.
É só essa coisa de que ninguem pode me ver que me incomoda... Eu me sinto tão real com a CryBaby, até ficarmos em publico. Não consigo agir normalmente com todos agindo como se eu fosse invisivel.
Eu sei que eles agem como se eu fosse invisivel.
Qualquer um pode me ver, mas eu não deixo, e eles também. Só meus amigos podem me ver.
Mas também é um saco. Nenhum deles querem me ver, Não é justo.

Depois de alguns minutos, nós chegamos na clínica. E enquanto ela e a mãe dela estão entrando na clínica, eu cutuco CryBaby

- Ei Cryzinha, olha pra lá.

Eu aponto para o lado ao contrário que ela está olhando. Ela só revira os olhos e faz o que eu digo. Acho que essa vai ser a coisa mais aleatória que eu vou fazer hoje. Sei lá, ela tá tão calada e desanimada. Só quero tentar agir normalmente para ela não pensar que eu percebi.

Mesmo eu não conseguindo fazer isso sem rir, eu pego no queixo dela e faço ela olhar nos meus olhos.

Confesso que me deu um arrepio, e deixou um clima romântico. Mas obviamente não por menos de 2 segundos até ela escapar das minhas mãos e voltar a olhar para frente antes que a mãe dela perceba.
Mas eu conheço ela muito bem. Ela ta claramente corando.

- Qual é, eu sei que você gostou.

- Com quem você aprendeu essa merda, Angelita? - CryBaby sussura.

- Hm... Não sei, internet? Nada pessoal amiga, eu só tenho você pra tentar essas coisas

Ela bufa e se senta em uma das cadeiras da clinica junto com a mãe. E ela sussura bem baixnho novamente, mas nada que eu não consiga ouvir.

- Vê se não faz merda ok? nem...essas coisas de Angelita que você faz.

Eu só faço sim com a cabeça e espero com ela. Até que eu vejo alguem que faz minha felicidade ir embora, Como sempre, toda comedia vai embora - por mas que apenas eu achei graça em algums coisa que eu mesma fiz -
Percebi que CryBaby acha o mesmo, sobre tudo na verdade. Inclusive ela tenta agir como se não tivesse visto Ben. Eles não se falam a anos por causa de mim.
Bem... é de se esperar. Os dois eram os mais proximos de mim.

Olho para Ben que está indo se sentar em uma das cadeiras da clinica também. Ele parece bem cansado. O cabelo crespo dele está bem mas... bagunçado. E parece que ele não dorme a um tempo.
Sinto um caroço preso na minha garganta. Mas respiro fundo, me levanto. E eu o abraço por trás enquanto ele anda.

- Ben...me perdoa..eu.. - Eu tento sussurar no ouvido. Mas ele simplesmente cai de joelhos e começa a chorar.
Por que isso sempre acontece?!

Eu saio de trás das costas dele e fico de joelhos em sua frente. E faço carinho em seu cabelo bagunçado. E sorrio levemente.

- Seu idiota... Você prometeu que não ia mais chorar.

Merda...como tudo isso ficou tão depressivo?!

Quando olho pra cima, vejo meu pai acariciando as costas de Ben. Eles são quase iguais, mas o papai é muito maior.
Ele logo levanta Ben, e ajuda ele a se sentar. Eu fico paralisada vendo eles passar por mim. Isso é um pesadelo...eu não posso interagir com quem eu amo...
Eu sinto que eles sentem minha falta mais do que qualquer um...Mas o que eu posso fazer?...

Depois de um tempo de silêncio constrangedor, O terapeuta chama CryBaby. Não sei se deveria entrar junto, até por que é algo pessoal dela...
Ah, quer saber? foda-se. Ja vi literalmente tudo sobre a vida dela.
A não ser que ela quiser que eu saia.

CryBaby se senta na cadeira em frente o terapeuta. E eu sentada no canto da sala. Não vou sentar no colo dela. Não nessas situações. Tudo tem limites!

Mas enfim, sei que vai doer ouvir tudo que ela tem a dizer. Até porque eu não sei o que ela pensa de mim.
Mas doi por saber que todo o sofrimento dela é por minha causa.

Na verdade todos estão sofrendo por minha causa.

Eu só não vou embora, porque eu sinto que CryBaby quer que eu fique.
Eu também quero ficar.

Sei que ela me ama, nós ficamos grudadas a vida inteira. Ela não vai conseguir lidar com isso sozinha por enquanto. Eu vou esperar ela estar emocionalmente estavel para isso.


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