Capítulo 14

24 4 3
                                    


Depois do enterro, Senhor Cha me dirigiu até a nossa casa, até a minha casa, a minha casa, que é enorme e cheia, cheia de memórias boas e ruins, tristes e felizes, mas cheia.

Ver o corpo ser enterrado, foi ainda pior que ver o caixão ser fechado, sete palmos de terra era o que nos separava agora, uma vida e uma morte, isso era o definia a nossa história de agora em diante.

Assim que eu piso na nossa sala de estar, eu sinto o vazio tomando conta de tudo.

- Sunmin - eu chamo sabendo que ninguém vai responder - MIN SUNMIN! SUNMIN-AH!

Mas ninguém responde, porque eu estou sozinha, eu estou sozinha para sempre a partir de hoje.

Deixo que o cansaço tome conta do meu corpo, toda as vezes que eu escolhi não colocar nenhuma comida na minha boca nesses últimos quatro dias, eu escolhi não tomar uma gota de água, não sentar, não me mexer e não sair do lado da foto do Sunmin, deixo que tudo isso me tome.

E eu apago, apago deixando a dor me tomar por inteiro.

øøøøøøøøøøøøøø

Eu acordei cinco horas depois deitada no chão da minha sala escura, do mesmo jeito que eu desmaiei, na mesma posição, sem ninguém, ninguém.

Mas tinha um cheiro, um cheiro muito forte de ramen, invadindo toda a casa, um cheiro bom, que vazia a minha barriga reclamar de fome.

Me levanto confusa e vejo que tem apenas uma luz acesa no meio de toda a casa, a luz da cozinha, uso toda a força que tenho para caminhar em direção a luz.

Quando passo pela porta vejo todo o ambiente aberto, mas meus olhos se fixam sobre a tigela de ramen, que de tão quente solta até fumaça e um copo de água no meio da bancada de mármore.

- Você acordou - levo um susto quando ouço uma voz pouco conhecida e fico ainda mais assustada quando o vejo entrar pela outra porta, o pai de Sunmin me olha parecendo nervoso - Eu não quis mexer em você porque eu não sabia se ficaria brava ou não.

- Por que tá aqui?

- Sooyong foi comprar comida, já que vocês não tem nada aqui, só ramen, eu fiz ele o mais gostoso que eu consegui - ele explica passando a mão pela calça social - Eu estava olhando a sua dispensa em busca de mais coisas mas eu não achei nada.

- Como entrou aqui ?

- Eu tenho a chave, Sunmin me enviou a chave quando compraram a casa, eu vinha jogar com ele de madrugada às vezes, você estava sempre dormindo - ele explica, o pai de Sunmin era a última pessoa que eu esperaria ver aqui - Ele te amava, amava você mais que a própria vida e eu não vou deixar a pessoa que o meu filho mais amava sozinha.

- Eu não conheço você.

- Min Su - ele fala o nome falso que Sunmin usava para se passar por alguém normal - Min Su é o meu nome ou pode me chamar de Senhor Min, o que for melhor para você. 

- Min Su? - ele concorda com a cabeça - Você vinha de madrugada na minha casa?

Ele concorda com a cabeça.

- Quando eu estava na Coréia e o Sunmin tinha insônia - ele explica - Eu sinto muito pelo bebê, eu mandei uma carta para você.

- Eu recebi.

- Eu não concordo com nada que a minha esposa falou para você e para o meu filho, eu estava feliz com a ideia de ser avô.

- Por que eu nunca te conheci?

Ele dá de ombros e então ele começa a chorar, as lágrimas simplesmente começam a cair pelo seu rosto, gordas e cheias, sem parar.

- Eu acho que eu só não era um bom pai - ele fala e começa a chorar ainda mais - Eu conheci a esposa do meu filho no dia do enterro dele.

SupernovaOnde histórias criam vida. Descubra agora