Parte três: É Hora De Ir.

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(Beatriz)

Abrir os olhos me parece ser um esforço hercúleo gigante.

Meus braços e pernas estão pesados e além da dor no estômago, minha cabeça está dolorida para cacete, por isso permaneço com os olhos fechados mesmo após despertar, quase rosnando com os dedos pequenos e suaves de Alex acariciando meus cabelos.

O vento gelado bate nos meus ombros sem parar e, meio inconscientemente, puxo o edredom até o pescoço, abraçando mais forte o corpo do Alex.

— Está acordada, Bela Adormecida?

— Não. — Resmungo. — Você precisa me impedir de beber, é sério. Quando eu pegar qualquer copo com álcool me impeça imediatamente.

Ele ri, rolando para o lado e saindo do colchão vestido apenas com a cueca Calvin Klein.

— Eu poderia tentar, mas eu seria facilmente agredido. — Diz baixo enquanto resmunga alguma coisa incompreensível e coloca o rosto na curvatura do meu pescoço, beijando a pele sensível. — Bom dia, meu amor.

— Bom dia. — Respondo enquanto corro os dedos pelo seu antebraço traçado com veias até sua mão, juntando nossos dedos. — Me diz que eu não fiz nenhuma merda na festa de ontem, ou que me impediu, ao menos. 

— Tirando a parte que jogou vinho no rosto do Marcos, xingando o quanto ele era um filho da puta ao mesmo tempo que subia na mesa de centro da sala enquanto dançava alguma dança esquisita supostamente brasileira. — Abro a boca, incrédula, sentindo meu corpo perder as forças no colchão. — É brincadeira, amor, precisava ver sua cara. — Ele gargalha alto. — Você só bebeu além da conta e eu a trouxe para casa. Não fez nada com o que se envergonhar.

— Seu imbecil. — Viro-me para ele e arqueio a sobrancelha.

— Não fique brava. — Seus lábios conectam-se aos meus por poucos instantes, o hálito não permitindo mais do que isso. — São seis horas e vinte, precisamos estar no trabalho em quarenta minutos. Vai tomar um banho, vou preparar nosso café da manhã.

— Eu preciso de analgésico. — Digo.

— Eu pego para você. — Um sorriso fraco é desenhado nos lábios inchados.

— Você é o meu anjo, eu juro. — Acaricio seu rosto juvenil e saio do quarto, me levantando da cama como um figurante de zumbi do The Walking Dead. 

Ligo o chuveiro e entro debaixo do jato de água quente, deixando a pressão bater nos meus ombros pra relaxar meus músculos doloridos. Quando saio do banho, tenho exatos vinte minutos para tomar meu café e sair. O processo tendo sido atrasado porque fiquei bons minutos procurando minhas chaves de casa no aparador e respectivamente no armário, me levando a pensar que posso tê-la esquecido no trabalho. 

Caminho para a cozinha e meu estômago resmunga de fome com o cheiro maravilhoso das panquecas salgadas que Alex prepara. Algo a mais no cheiro me ajuda a processar que o recheio tem algo com frango e Cream Cheese. 

— Isso está com um cheiro divino. — Deixo um beijo e outro em suas costas descobertas. — Por que não faz isso todos os dias?

— Hoje é um dia especial. — Ele sorri e dispõe uma xícara com café puro na bancada à minha frente. 

Encaro-o confusa enquanto me sento em uma das banquetas bordô, meus pés por pouco não tocando o chão aquecido. 

— É alguma data comemorativa que me esqueci? — Pergunto, rindo um pouco, quase engasgando ao sentir um chupão ser feito abaixo das minhas clavículas.

— Não, mas quero que se torne.

Segura meu rosto entre as mãos e acaricia minha bochecha com o polegar, deixando nossas bocas a centímetros de distância conforme encara meus olhos de forma que eu me sinta quase intimidada.

Idas e Vindas [binuel]Onde histórias criam vida. Descubra agora