A Pequena Casa Em Frente Ao Big Ben

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As lembranças da minha infância passam pela minha mente como um vento suave em uma tarde de verão; verão esse que passei em Londres, minha terra natal. Habitava juntamente com minha avó e irmãos uma pequena casa em frente ao Big Ben, o famoso edifício londrino que encanta os turistas e faz com que nós, londrinos, nos sintamos em casa.

Vivíamos uma vida simples e humilde na pequena casa, mas nos sentíamos bem, pois tínhamos uns aos outros e nos cuidávamos como uma ninhada de cachorrinhos. O cuidado e a proteção mútua eram o nosso maior tesouro. Cresci formosa e inteligente; era moça bonita e desejada. Minha infância em Londres logo tornou-se minha adolescência, que foi marcada por muitos pratos de English Breakfast e muitas noites iluminadas pelos acordes do Heavy Metal londrino, que eu tanto amava e pelos quais me sentia envolvida. Ritmos esses que marcaram minha memória como uma tatuagem permanente, tatuagem essa que eu futuramente olharia e admiraria, sentindo orgulho de ter sido feliz naquele tempo.

Mas os tempos mudam; logo estava vestida de noiva em um altar florido, fazendo juras à meu amado. Casei-me com um fotógrafo tailandês, que me levou para uma nova vida em Ayutthaya. Longe de minha avó e meus irmãos, sofri de melancolia e tive de lidar com a solidão que me assombrava à noite como um mau agouro, deixando-me acordada, refletindo sobre meu agora passado. Tanapon era um homem bom e carinhoso; ajudou-me muito a adaptar-me em Ayutthaya. Ainda lembro de nosso primeiro ano como casal na Tailândia, ele levara-me para conhecer algumas feirinhas típicas em ruas decoradas com bandeirinhas coloridas de um lado à outro. Corríamos felizes pelas ruas enquanto eramos acarinhados pelas sombras das bandeirinhas naquela manhã ensolarada, e feliz.

Hoje, já idosa, beirando os meus 67 anos, não sinto mais o cheiro da pele de Tanapon e não posso mais tocar o seu rosto. Minha viuvez tornou-se minha nova companheira. Triste e tranquila, assim como eu. Passo tardes observando o pôr do sol, lendo contos britânicos que minha avó, nesta mesma idade, lia para mim. Aprendi a amar a Tailândia, mas ainda me lembro da pequena casa em frente ao Big Ben.

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