CAPÍTULO I: Trocando de direção.

279 25 11
                                    

★☆☆☆☆

Desde que meus pais me obrigaram a mudar para a Nova Zelândia, aprendi da pior forma que minha paz de espírito existia quando estava afastado das brigas diárias que presenciava quando morávamos juntos. É triste pensar que sou melhor sem meus pais por perto, mas acredito que algumas sessões de terapia me ajudem a superar esse detalhe. Ou a terapia açucarada do delicioso pavlova de kiwi que vendem no refeitório daqui.

Tenho a idade dos problemas, ou seja, dezoito anos e muito interesse em Astronomia. Cresci na cidade grande, imaginando que continuaria junto com meus amigos até que a morte nos separasse. No entanto, tudo desmoronou quando recebi a notícia de que, após as férias, teria que me mudar. Durante semanas, contestei mentalmente meus pais por me jogarem nesse lugar que eles chamam de paraíso.

Se eu dissesse que não me acostumei ao lugar calmo e à rotina monótona de ajudar nos deveres de casa, estaria mentindo. Mas nesse combo estava incluído o bullying colegial, que com o tempo, passei a ignorar. Na minha antiga vida, eu era um aluno bastante popular, sempre rodeado de estudantes e participando de grupos estudantis. No entanto, passei a ser um mero aluno invisível nesse novo colégio. Em meio a tantas contraposições, conheci o garoto mais emblemático da minha vida: Kim Jongin, misterioso e fascinante, conhecido como Kai. O conjunto perfeito para partir um coração.

O rapaz de fios castanho escuro e olhos fascinantes andava sempre acompanhado por fones de ouvido durante o intervalo. Quando estava mais presente, seu humor mudava drasticamente, e Jongin não se fixava em um grupo específico de jovens, cativando desde os mais sociais até os mais introvertidos. Eu o admirava de longe, abismado com tamanha adaptação social.

Jongin era um excelente conquistador ou escondia debaixo da manga alguma fórmula eficaz para obter tantos admiradores. Quando ele aparecia na escola com os fios bagunçados, a calça jeans rasgada, a jaqueta amassada e a bota coturno toda suja de lama, eu já sabia que significava problema. Até porque quando ativava seus dias de desobediência, Jongin se tornava uma máquina incansável de fisgar garotos e garotas, dando alguns beijos às escondidas e desafiando as regras do colégio.

Na verdade, eu era gamado naquela figura cheia de enigmas, simplesmente porque ele conseguia conquistar minha curiosidade com facilidade. Minha avó dizia que eu estava com expressão de apaixonado, e eu, sem contestá-la, admiti meu posto de idiota.

Eu realmente havia me apaixonado, e não sabia até onde aquela paixonite de adolescente me levaria. Da última vez que não suportei ficar sem vê-lo, tomei o rumo de sua sala e fiquei o admirando de longe, esperando que com apenas a força do meu pensamento ele se virasse para a janela e me avistasse embaixo da árvore. Mas isso não aconteceu; ele se levantou, jogou a mochila nos ombros e caminhou sem olhar para o lado. Eu sequer tinha terminado meu desenho nem conseguido uma resposta. Sequer pensei em uma pergunta.

Havia mais uma aula naquela tarde fria, a última do dia, unificada com a sala de Jongin. Por acaso, fui escolhido pelo professor para apagar a lousa e deixar tudo em ordem para a chegada dele. Enquanto eu fazia meu dever, virei-me e peguei Jongin me olhando por um instante, mas antes que eu idealizasse um pedido de namoro, ele se virou para tirar o caderno da mochila. Não era uma resposta, nem meia resposta. Suspirei minha ilusão assim que me sentei na carteira da frente. Estava longe demais para pedir algum material emprestado como desculpa para pedir o número de telefone dele.

Depois que a aula terminou, fiquei na sala, colocando todas as cadeiras em cima das mesas e varrendo o chão, tratando também de guardar todo o material usado nas aulas. Jongin, como sempre, estava na última carteira, dormindo profundamente. Ele parecia ter o hábito de ser o último a sair da sala. O sono parecia pesado, como se aquele momento fosse o seu preferido para tirar um cochilo. O que diabos aquele garoto fazia de madrugada para ser tão sonolento à tarde? Para ser sincero, ultimamente, mal o via acordado.

O CÉU ESTÁ CAINDO | KaiSooOnde histórias criam vida. Descubra agora