EXTRA: Onde nascem as estrelas.

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Kim Jongin fechou o livro com o coração batendo forte dentro do peito. Finalmente, ele havia conseguido terminar a leitura, depois de estar constantemente fugindo das freiras para ir até a parte proibida da biblioteca. Ele passou a mão pela capa dura que continha inúmeros formatos romantizados de estrelas e guardou-o com todo cuidado, subindo a montanha de livros que usou como escada enquanto a lanterna estava sendo apoiada entre seus dentes.

― Guardarei para sempre essa história. ― Sussurrou antes de empurrar o livro para dentro da estante. Sempre que roubava um livro para lê-lo na madrugada, ele finalizava a história dizendo a mesma frase. Ele guardaria aquela história para sempre. Quando foi colocar o segundo pé no chão, aliviado por estar pronto para voltar para sua cama e dormir sem a curiosidade batucando seus pensamentos, a luz do extenso lugar repleto de livros foi acesa. 

Jongin apertou os olhos. Com cem anos sinalizado em sua nuca, mas aparência de dezessete, ele estava fadado a ser castigado tão jovem pelas escapatórias noturnas.

― O que pensa que está fazendo aqui a essa hora, menino? Jongin não pensou numa resposta correta, ele apenas atravessou os corredores infestados de livros, driblou a velha e desceu as escadas, não se importando com a algazarra que seus pés faziam na madeira. Ao chegar até a recepção, pronto para procurar por seu quarto após o corredor, seu corpo foi interrompido. Seu rosto bateu de frente com o de um estranho. Ambos caíram no chão e se entreolharam. Jongin poderia jurar que tudo instantaneamente parou. O tempo estava assistindo ele se render aos lindos olhos, ao cabelo espalhado e os óculos tortos no rosto angelical. Jongin piscou rápido, atordoado, pois tinha certeza que estava presenciando a beleza personificada. Sem dizer uma palavra, saiu correndo em um único movimento, pois atrás de si, a freira corria para castigá-lo sem piedade alguma. Jongin virou-se para trás e sorriu, acenando para o garoto novo. E riu quando conseguiu bater a porta na cara da velha, despencando no colchão de seu quarto, sentindo que havia perdido o fôlego.


Jongin rapidamente ficou amigo de Do Kyungsoo, o recém-chegado com aparência de dezesseis anos. Mas Do Kyungsoo tinha dificuldades de dizer o mesmo. Afinal, não entendia muito bem porque era perseguido até mesmo durante as refeições. E enquanto saboreava a gororoba líquida, Jongin estava ao seu lado, recitando as teorias de James Webb. ― Sabia que ele tinha quase certeza que estrelas estavam predestinadas a se encontrar na Terra? ― Quanta besteira. Jongin franziu o cenho, irritado com a incredulidade daquele rapaz. ― Se existir uma Terra, eu adoraria te encontrar nela. Só espero que eu receba algum tipo de ajuda para conseguir te achar de algum jeito, no meio de tantas estrelas. Kyungsoo o olhou. Jongin estremeceu, pois Kyungsoo não costumava dá-lo tanta atenção. ― Se realmente existir uma Terra, então eu irei me apaixonar por você primeiro. 

Jongin ficou em silêncio, totalmente atônito com o que havia acabado de presenciar e ouvir, mas Kyungso riu travesso antes de continuar:

― Não seja bobo, Jongin. Não existe Terra alguma. As freiras contam isso apenas para que nossa vida após a passagem seja mais aceitável. A verdade é que depois daqui não há nada. ― Você não deveria dizer isso em voz alta. O Universo pode te ouvir e achar que não gostaria de ir viver numa Terra depois daqui. Kyungsoo revirou os olhos e levantou-se, indo levar sua bandeja de comida. ― Espere! ― Jongin ficou na visão de Kyungsoo, atrapalhando sua passagem. ― Me deixe passar. ― Você prometeu. ― Prometi o que? ― Se realmente existir algo além da morte, você se apaixonará por mim primeiro. Kyungsoo sorriu de canto. Desviou do rapaz agitado à sua frente e saiu pensativo pelo refeitório. Ele não iria se apaixonar quando estivesse na Terra. Não precisaria, havia se apaixonado quando levantou os olhos na primeira vez que chegou no Instituto de Estrelas Rho Ophiuchi e avistou o garoto correndo pelas escadas, sorrindo com as madeixas lisas balançando.

Sentindo-se tímido com a lembrança, Kyungsoo guardou a bandeja, agradecendo a freira que servia comida. Virou-se e viu quando uma pequena marca surgiu na palma de sua mão direita. Uma linha vertical prateada. Ele apertou os dedos, escondendo o sinal.

Dias antes, ele viu linhas parecidas, formando um X na palma da mão esquerda de Jongin. Talvez James estivesse certo em sua teoria.


Durante a madrugada, enquanto Jongin e Kyungsoo estavam escondidos entre as estantes da antiga biblioteca, Kim piscou devagar, quase caindo no sono. ― Jongin? ― Kyungsoo chamou, apontando a lanterna para o rosto do colega de fuga. ― Hm? ― Resmungou Jongin entre um bocejo e outro. 

Sem suportar o cansaço, Jongin deitou a cabeça no ombro de Kyungsoo.

― Quando chegar lá, espere por mim. Eu prometo que não demoro. Jongin sorriu, sentindo a sonolência roubar o pouco de consciência que havia o restado. ― Combinado. ― Respondeu por fim. Kyungsoo puxou a mão de Jongin para si e entrelaçou os dedos, selando as palmas das mãos. Uma pequena faísca cintilante surgiu entre eles, mas Jongin continuou dormindo e não viu a magia acontecendo entre eles, ainda que o sonho aquecesse seu coração.

Estrelas nasceriam para que os desejos não fossem mortos. E assim, guardaram para sempre essa história.

FIM

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NOTAS FINAIS: Espero que tenham gostado desse extra inédito que escrevi. Para quem não sabe, Polaris foi baseada em O Céu Está Caindo, e eu ainda sinto muita falta dos meus personagens que atendem desejos e lutam contra caras maus. 

Resumindo esse último capítulo, o Instituto de Estrelas Rho Ophiuchi é tipo um "orfanato" que recebe as almas das pessoas antes delas reencarnarem na Terra. No entanto, algumas delas reencarnam antes. Jongin caiu primeiro e se não fosse pela maldição de ser uma estrela, ele jamais conheceria Kyungsoo na Terra. Curiosidade 2 , o nome do instituto, Rho Ophiuchi é um berçário estelar real na astronomia, e James Webb é o nome do telescópio espacial que descobriu essa constelação.

Por hoje é isso, pessoal! 

E, lembrem-se de guardar essa história para sempre. ☆

O CÉU ESTÁ CAINDO | KaiSooOnde histórias criam vida. Descubra agora