Capítulo 1

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Amvri

Sinto que estou enlouquecendo aos poucos. Mesmo com apenas 28 anos minha sanidade mental não parece das melhores, não quando passei os últimos dez minutos criando cenários hipotéticos onde eu massacrava Geraldo. Talvez eu vá para uma clínica psiquiátrica antes dos 30. 

Encaro meu caderno de anotações na minha mesa, onde eu listei a alguns meses motivos que me fariam enlouquecer este ano, e em primeiro lugar, o campeão de todos – Como em todos os outros anos – estava Geraldo Conroy. Ou mais popularmente conhecido por todos nessa empresa, O Dinossauro. Ele era o funcionário mais antigo da empresa, isso se você não contar com o nosso querido CEO. Geraldo foi o primeiro funcionário que Mason Henry contratou quando fundou a Tech Pass a 30 anos atras. Além de contratado, Geraldo e Mason eram melhores amigos de infância, o que era um dos maiores motivos pra que ele permanecesse na empresa. Isso e o fato dele ser um dinossauro de 58 anos que fundou todos os sistemas que usamos hoje, bem como o único com conhecimento o suficiente para resolver os incidentes mais cabulosos que ocorrem. Sério, quem sabe Assembly hoje em dia?

Eu estava a anos tentando encontrar alguém que chegasse pelo menos perto do currículo do Geraldo, mas como competir com um cara que começou a programar com 9 anos? Nessa idade uma criança deveria estar preocupada em jogar vídeo games, ou alguma besteira com a escola. Porém o dinossauro era com certeza um nerd excluído da sociedade normal e aprendeu a programar em Assembly, depois veio o ALGOL , linguagem que serviu como ponto de partida para algumas linguagens de programação mais importantes usadas na atualidade, como C, C++ e Java, e nem preciso dizer que ele também as tem no currículo. Sinceramente é covardia com qualquer profissional tentar comparar as experiencias e o conhecimento desse cara com o mercado de T.I.

Nos meus doze anos de empresa, Geraldo foi o mais difícil e malvado de todos os profissionais com que já trabalhei. Entrei na Tech Passs como estagiária com 16 anos, estava aprendendo C# na época e Geraldo parecia odiar todos os outros por não serem tão inteligentes quanto ele. Principalmente as mulheres, ele pensa que não temos o talento natural como os homens possuem para a programação. Foi um ano de estágio, que mais pareceu um inferno, onde o dinossauro me rebaixava a um animal beligerante sempre que eu cometia um erro, ou não sabia como resolver ou desenvolver uma demanda. Depois que fui efetivada tudo piorou, como se agora eu tivesse mais responsabilidades e não existia mais a desculpa de ser apenas uma estagiária burra. 

Não arrumei um namorado porque não queria distrações, grande parte dos meus amigos de escola da época se afastaram e não os culpo. Como manter uma amizade quando apenas um de nós está lá? Depois que me formei e entrei na faculdade de Ciência da computação, tudo ficou ainda mais intenso. Eu estudava e praticava tanto que em certo momento achei que estava virando uma máquina que só entendia comunicação binaria. Porém todo o esforço estava valendo a pena, me formei com honras na faculdade, a melhor da classe, já tinha um currículo excelente e muitas empresas haviam me feito propostas tentadoras. Cogitei aceitar algumas delas, tudo para me ver longe do dinossauro que fazia minha vida um inferno, porém eu me recusava a sair e deixar ele pensar que desisti. Jamais deixaria alguém como ele vencer, achando que de fato as mulheres são leigas para a programação e que não damos conta do trabalho. Então eu fiquei e apesar do dinossauro me criticar a cada oportunidade, eu tinha muitas outras pessoas que viam o meu esforço e me recompensavam por isso, inclusive meu querido CEO, Mason Henry.

Foi assim que depois de cinco anos de empresa eu me tornei coordenadora de uma equipe. Para a minha alegria e para o inferno de Gerald – que recusava qualquer cargo de liderança porque dizia que isso era para pessoas que gostavam de gestão e não de programar de verdade - que achava um ultraje uma mulher como eu em seus 21 anos de idade ser líder de alguma coisa. O dinossauro nunca havia me respeitado e mesmo como coordenadora não foi diferente. Ele de fato vazia minha vida ser difícil, porém sou muito obstinada e contornei cada pedra no caminho que ele colocou para mim e dei o meu melhor. Desenvolvi os melhores projetos, ajudei minha equipe e se desenvolver como ótimos profissionais, fiz a integração da área de T.I com as outras partes da empresa, o que antes parecia impossível. Todos ficaram tão felizes com os meus resultados, principalmente Mason que depois 4 anos me promoveu a gerente. 

DominadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora