Depois de tantos papéis, tantos percursos na vida de ator, agora assumi também a direção de alguns trabalhos. Estava auxiliando na direção da série "Onde está meu coração?" que trata do envolvimento de uma jovem com as drogas.
Esse trabalho teve um peso especial, principalmente ao lembrar da minha luta contra as drogas e enfim retomar a minha vida normalmente. A personagem principal seria a minha filha na série, o papel já era de Letícia Colin.
Hoje os testes seriam para a personagem que faria a melhor amiga de Letícia. Então, estavam todas as atrizes reunidas, algumas que eu já conhecia e outras que ainda sonham em ter seu primeiro papel.
Faço questão de cumprimentar todas, uma em específico chama a minha atenção e vou na direção dela. Podia notar que ela estava muito nervosa, as mãos tremiam e ela estava inquieta.
― Tudo bem? ― Pergunto preocupado.
― Sim ― Ela diz baixinho ― Só estou nervosa.
― Quer tomar uma água? ― Ela nega com a cabeça ― Você está muito nervosa, mal consegue segurar o papel sem tremer, vamos tomar um ar e voltamos antes dos testes começarem ― Vejo que ela absorve cada palavra.
― Tudo bem ― Ela suspira.
Saímos dali, pego um copo de água e fomos para o lado de fora do estúdio. Podia ouvir ela soltando a respiração pesadamente, ela senta no banco do Projac e tentava normalizar a respiração.
― Ei, está tudo bem ― Me agacho na frente dela.
― Você não entende ― Algumas lágrimas se formam nos olhos dela me deixando preocupado ― Eu preciso desse papel, caso contrário terei que voltar para o interior e desistir dos meus sonhos. É por isso que estou tão nervosa, é o meu sonho em jogo ― Ela suspira ― Eu nem deveria estar falando isso para você, não quero que pense que estou dizendo isso para conseguir o papel.
― Eu não pensei em nada disso ― A tranquilizo ― Eu sei o que é sair de casa e ir para o mundo lutar pelo sonho, ainda me lembro quando foi a minha vez ― Sorrio ― Mas isso aqui é apenas uma das portas que vão se abrir para você, eu tenho certeza de que terá um futuro brilhante.
― Eu espero que sim, sempre quis ser atriz ― Os olhos dela brilham ― Fiz teatro há poucos anos, agora estou migrando para a TV.
― Fez quais peças? Talvez eu tenha visto alguma.
― Duvido muito, eram peças muito pequenas e com um baixo custo ― Ela sorri ― A mais expressiva foi uma participação que eu fiz na peça "Tom na Fazenda" que tem o Armando Babaioff.
― Eu vi o espetáculo quando estive em Portugal, você vai voltar para a peça?
― Talvez, o Babaioff gostou da minha participação, mas ele também sabe que eu quero a TV e está me apoiando nisso.
― Fico feliz ― Abro um sorriso ― E olha, para ele estar torcendo para você é porque você deve ser uma ótima atriz.
Ela abre um sorriso tímido e desvia o olhar, estava na hora de voltar para o teste quando vejo as meninas saindo cabisbaixas e uma muito feliz e empolgada. Estranho, a moça ao meu lado estremece.
― Eu consegui o papel ― Uma delas diz animada ― Nem acredito, eu vou estrear na série dirigida também pelo Fábio Assunção ― Ela comemora.
Olho para a garota e algumas lágrimas molhavam o rosto dela, eu sabia o que aquilo significava. Ela me olha e sorri fraco balançando a cabeça, seguro sua mão antes que ela se afaste.
― Eu sinto muito, eu posso pedir para que você também faça o teste e... ― Ela nega com a cabeça.
― Não, Fábio, talvez não fosse para ser ― Ela suspira ― Muito obrigada pela conversa, você é uma ótima pessoa.
― Você vai para onde?
― Pegar um ônibus para casa, acho que o sonho de ser atriz vai ser adiado ― Ela respira fundo ― Quem sabe um dia nos esbarramos por ai ― Sorrio fraco ― Até mais.
Antes que eu falasse algo, ela vai em direção ao táxi e me sentia mal por ela. Uma moça tão jovem com um futuro promissor; não podia acabar assim. Nego com a cabeça, então corro até o estúdio.
Peço o número de telefone dela, os documentos e as informações importantes. Não perderia essa joia de vista; ligo para a minha agência e peço para que façam o cadastro dela.
Corro até o meu carro, então vou em direção a rodoviária. Nunca fiz isso por alguém, mas algo me dizia que não iria me arrepender de ser mentor dela. Estaciono o carro e a vejo perto do ônibus, grito seu nome e ela me olha.
― O que faz aqui? ― Ela pergunta incrédula.
― Eu acho que você não pode ir ― Sorrio ― A minha agência conta com você e bom, se você me aceitar como seu mentor, acho que podemos construir algo juntos.
― Você está me chamando para a sua agência? ― Assinto ― Eu nem sei o que dizer.
― Você pode elaborar uma resposta no caminho até a minha agência ― Solto uma risada ― Você vem? ― estendo a minha mão.
― É lógico que sim ― ela entrelaça a mão na minha.
E bom, por mais que ela não tenha conseguido o papel na série, é importante dizer que ela havia conseguido o papel principal em "Todas as flores".
⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯⎯notas da autora:
eu amei esse imagine, era pra ter feito antes de acordo com a ordem dos pedidos, mas eu não tinha prestado atenção na primeira vez que eu vi. enfim, gostaram amorinhas?
