O aniversário do meu pai biológico deveria ter sido um dia comum, talvez até alegre. No entanto, a vida sempre reserva surpresas, e eu estava prestes a descobrir que a minha seria mais intensa do que eu jamais imaginara.
Hector e eu dirigíamos pelas ruas iluminadas da cidade, e estávamos nos divertindo, completamente alheios ao caos que se desenrolaria em breve.
Do nada, fomos abordados por um grupo de homens encapuzados, surgindo das sombras como fantasmas. Antes que pudéssemos reagir, fomos dominados, nossos gritos abafados por mãos rápidas e cruéis.
Vi Hector sendo brutalmente espancado diante dos meus olhos, impotente diante da violência que se desenrolava. Cada golpe era um eco ensurdecedor, uma sinfonia de dor que ecoaria na minha mente para sempre.
Arrastado para um caminhão, fui amarrado, minhas pernas e braços presos de maneira brutal. Uma sacola de pano foi colocada sobre meu rosto, me privando da visão e mergulhando na escuridão. Meu coração batia descompassado, enquanto o medo se misturava com a dor de ver Hector sendo maltratado.A viagem para o cativeiro foi uma eternidade de tormento psicológico. A sacola sobre meu rosto amplificava a sensação de isolamento, e a incerteza do que me esperava aumentava meu desespero. A cada curva da estrada, eu me perguntava se seria a última.
A velocidade do veículo foi diminuindo, então alguém me colocou no colo. A pessoa cheirava a cachaça e desodorante vencido. Eu tive que fazer força para não vomitar ou morreria sufocado. Que morte patética seria?
No cativeiro, os homens discutiam entre si, como se eu fosse uma mercadoria a ser negociada. O valor do resgate flutuava no ar, como se minha vida pudesse ser mensurada em termos financeiros. Ouvir aquelas conversas cruéis, enquanto meu corpo ainda pulsava de dor e meu coração ansiava por notícias de Hector, era um tormento insuportável.
Não havia espaço para compreender o porquê dessa crueldade. Eu era João, um rapaz que acabara de descobrir suas origens ricas, e agora estava mergulhado em um pesadelo que ameaçava a minha vida.
A ansiedade atacou de uma maneira forte. Eu estava ficando suado e a roupa social não ajudava em nada a minha situação. "Tira uma foto dele", ordenou alguém. Então, um dos bandidos tirou o meu capuz e percebi que eu estava em uma casa de madeira. Recebi um forte tapa no rosto, quando analisei o ambiente.
— Ei, tio! É o seguinte, mano. Nós é da paz, sacou. — o homem disse, enquanto filmava o meu rosto. — A gente pegou esse arrombado aqui. E se tú não quiser a cara dele cravejada de bala é melhor seguir a nossa ordem. Queremos R$ 5 milhões em dinheiro. Em breve, a gente entra em contato pra falar onde é pra brotar com a grana. Não vai embaçar! — ele parou a gravação.
— Esse linguajar popular é tão fofo, né? — questionou uma voz feminina, mas não a reconheço, pois a lanterna do celular deixou minha visão turva. — Deixa eu enviar o pedido. Tenho certeza que o Jayme vai fazer de tudo para recuperar, de novo, o seu filhinho perdido.
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Tinha que ser você
Roman d'amour"Tinha que ser Você" é uma envolvente história que explora os laços complexos da família, amor e autodescoberta. João e José, irmãos gêmeos, são personagens tão distintos quanto complementares. João, o típico nerd gay, enfrenta desafios emocionais a...