3 - Destino por João

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Eu nem acredito que caí na história do Mauro

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Eu nem acredito que caí na história do Mauro. Aquele papinho furado de ser virgem. Imagina com quantos outros caras o desgraçado ficou nos últimos meses? Eu só quero morrer. Desaparecer deste mundo perverso e cruel.

Estou perto da minha casa. Preciso respirar e fingir que está tudo bem. Tirei a chave da mochila e destranquei a porta de metal, que faz o seu habitual barulho de metal velho. Tirano, o cachorrinho que adotamos, vem na minha direção todo faceiro. Ele é um vira-latas preto, mas com várias pintinhas brancas, quase um dálmata ao contrário.

A dona Esther, a minha mãe, é uma doceira de mão cheia e faz encomendas pelo bairro. O cheiro de bolo toma conta do pequeno jardim que temos na entrada de casa. O papai, seu Josué, vive viajando a trabalho, então, é difícil vê-lo nos dias de semana.

Antes de entrar, respirei fundo e deixei todo o sentimento negativo para trás. Minha mãe me conhece bem e vai pegar no ar a tristeza dentro do meu coração. Deixei a mochila no sofá e segui para a cozinha. Encontrei o meu irmão e a dona Esther debruçados sobre o celular e escuto a minha voz saindo do aparelho.

"Posso deixar as coisas mais interessantes, seu babaca!"

Os olhos da mamãe estão arregalados. O JR me olha de maneira estranha. Na verdade, os dois estão assustados. Alguém gravou o barraco no restaurante? Meu Deus. O meu coração parece que vai sair pela boca de tanto nervoso. Eu tento ensaiar algumas palavras, porém, não tenho coragem de dizer nada.


— Você é gay, João? — perguntou a minha mãe, fazendo o meu irmão se assustar ainda mais.


— É brincadeira, mãe. — ele intervém ao meu favor. — Deve ser alguma trollagem.


— Eu sou mãe. Eu sou gay. — eu soltei de uma maneira natural, mas assustadora para mim.


— Filho. Eu...


— Gente, qual é. Tivemos um dia cheio e não devemos resolver as coisas assim. — O JR deu alguns passos e ficou entre nós. — É melhor conversar depois e...


— Eu estou cansado, mãe. Cansado de fingir ser alguém que não sou. — eu abri o meu coração e não contive as lágrimas.

— Oh, meu filho. — a mamãe se levantou, andou em minha direção e me deu um forte abraço. — Não se preocupe, viu.

— Ufa. Pensei que ia ter um barraco agora. — brincou o meu irmão tentando quebrar o gelo. Ele sentou na cadeira da mesa de jantar e respirou aliviado.

Tive que explicar toda a história para os dois. Eles ficaram revoltados com a traição do Mauro, mas a mamãe pediu para que eu não contasse ao meu pai, só que seria um pouco difícil com os milhares de compartilhamentos nas redes sociais.

Quem adorou a repercussão foi o JR. Ele fez um vídeo em sua conta no Tik Tok afirmando não ser o rapaz do vídeo, uma vez que a gente tinha o mesmo rosto. Apesar de tudo, o meu irmão foi super compreensivo e garantiu que tinha dúvidas sobre a minha sexualidade. Na verdade, a única preocupação dele era a rejeição por parte dos nossos pais.

Nos grupos da escola, o único assunto era o vídeo da traição. Fui chamado de 'O Corno da Caipirinha'. Ainda bem que faltam poucos meses para esse inferno acabar. Eu vou fazer o vestibular e começar o meu curso de Sistema da Informação. Isso é só uma fase. É só uma fase.


— João, cara, por favor, converse comigo. — pediu Mauro, após o professor sair da sala.


— Mauro, eu já falei que não quero conversar contigo. Eu só quero ficar em paz. — pedi, colocando os livros sobre a mesa. Na minha escola, os alunos tinham que devolver os livros usados no ano letivo e os meus estavam impecáveis.

Tinha que ser vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora