Luíz
— Onde fica esse tal de acampamento? — Estávamos andando já fazia um bom tempo pela mata, meus pés doíam um pouco já que não estava acostumado a ter que andar tanto assim, o que me surpreendia considerando como mamãe e eu andávamos pela cidade juntos, pegávamos ônibus apenas quando tínhamos dinheiro sobrando.
— Não é muito longe daqui! — Matheus parecia focado enquanto rapidamente me guiava pela floresta que parecia se fechar, mas não de um jeito natural, não... eu sentia uma energia poderosa ao redor que de alguma forma influenciava a floresta. — É um lugar fortemente protegido por magia para garantir nossa segurança! Acredite ou não, o Homem Seco não é o único monstro que gostaria de destruir todos nós, todos os monstros conseguem nos farejar e muitos desejam nossa ruína! — Apesar de estar atento às palavras de Matheus, também ficava admirando a floresta ao meu redor que era linda, repleta de animais, grandes árvores cujos topos não eram visíveis, a fauna e a flora em completo equilíbrio.
— Não consigo entender o por quê tais criaturas desejarem tal coisa, aconteceu algo para iniciar o ódio coletivo deles por nós? Ou apenas nos odeiam desde sempre? — Não fazia sentindo esses seres nos odiarem sem nenhum motivo, o Homem Seco eu até entendo os motivos, ele quer voltar a ser o que era e acha que nosso meio sangue seria o suficiente para tal coisa, mas e o resto dos monstros? Qual seria o motivo deles?
— Infelizmente, não sei te explicar o motivo, não aqui, não agora! É algo... complicado, você está cansado e precisa descansar; quando estiver melhor, procure algum filho de Ticê, eles te explicaram melhor do que ninguém! — Matheus pareceu sentir certo nojo quando falou sobre os filhos da Deusa do Submundo, nunca tinha visto essa expressão em seu rosto antes, mas também acabamos de nos conhecer, havia muito dele que ainda não conhecia. — Chegamos ao nosso destino! — Paramos na frente de um rio, porém, não havia nada lá, era apenas um rio.
— Como assim "chegamos?" Não tem nada aqui, isso é só uma parte do rio Amazonas! — Falo confuso, Matheus ri da expressão confusa que faço.
— Não, seu bobo! — Ele passa uma de suas mãos no meu cabelo de uma forma brincalhona, acabo sorrindo também, corando um pouco já que não estava acostumado com tal coisa. — Eu preciso voltar para ajudar meu pai à guardar a floresta, porém, você consegue continuar sozinho! — Ele fala algo em um idioma que já ouvi minha mãe falar antes e mesmo que ela nunca tenha me ensinado, entendi completamente o que ele disse, era algo como: "revela-se para mim!", um belo barco enfeitado com diversas flores aparece na água. — Aqui está seu veículo, Filho de Tupã, o Acampamento Meio Deus lhe aguarda! — Matheus diz de um jeito brincalhão, imitando a voz daquele povo chique da cidade, acabo rindo com sua brincadeira.
— Oh, obrigado, meu caro senhor! — Entro na brincadeira e subo no pequeno barco, me sentando e olhando para o lindo garoto à minha frente. — Verei você novamente meu nobre senhor? — Tento parecer igual aos ex chefes da minha mãe, eles sempre falavam muito chique, acabo conseguindo fazer ele rir de novo.
— Vou contar os segundos! Apesar de você ter uma personalidade um pouco explosiva, você é legal, Luíz, bem legal! — Ele evita me olhar por um tempo, e então sem dizer nada se transforma em um pássaro e saí voando, apenas o observo e sorrio.
— Eu também vou!
O barco começa a se mover sozinho, como se a correnteza estivesse o levando para o caminho certo, considerando tudo que me aconteceu nessas últimas horas, não duvidava de mais nada! No horizonte, podia ver que o sol já estava começando a nascer... um novo dia, um novo começo como minha mãe costumava dizer, mas seria mesmo isso? Seria esse novo começo algo bom? Não sabia muito bem o que pensar ou o que sentir, já chorei o bastante, já gritei o bastante, a dor ainda me consome, provavelmente sempre irá, porém não posso deixar ela me dominar... não posso deixar ela me moldar, devo ser alguém melhor por ela, por mim.
A água estava belíssima, o sol fazia a mesma brilhar como se vários diamantes estivessem no fundo do rio, a correnteza se movia de um jeito muito incomum, quase como se ela estivesse cantando uma canção, não havia uma letra, porém, podia sentir que era uma canção que emanava tristeza e ressentimento, tudo que estava sentindo no momento!
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Acampamento Meio Deus
FantasíaEm um mundo onde todos os mitos são reais, não seria diferente no Brasil. Os semideuses Brasileiros possuem um local seguro onde são livres das ameaças dos monstros e criaturas que vivem para os caçar, o homem do saco captura semideuses ainda crianç...