Estava exausto, mal perdi tempo apreciando aquele lugar onde me encontrava; vi uma cama e simplesmente me joguei em cima dela, não demorando muito tempo para cair em um sono bem profundo.
Acordei horas depois com o barulho de alguém batendo na porta, me levanto um pouco irritado já que esperava ter um pouco de paz, se é que isso era possível considerando tudo que aconteceu nas últimas horas... Deus ou melhor Pai, será que dá pra amenizar um pouco? Suspiro e vou até a porta, porém quando a abro vejo apenas um passarinho no chão, ele era lindo, porém era meio esquisito, ele possuía olhos vermelhos brilhantes, tão vivos como sangue.
- Que espécie de pássaro você é? Nunca vi um assim antes! - Tento chegar mais perto dele e felizmente ele não se move, coloco um dedo em sua cabeça e começo a acariciar-lo, ele parece gostar o que me deixa feliz. - Você é tão fofo! Será que o acampamento permite ter animais de estimação? - Assim que pergunto isso, ele começa a brilhar e mudar de forma; acabo me assustando com isso e caindo de costas no chão, ouço uma risada um pouco familiar e quando me levanto vejo Matheus.
- Você é engraçado, Luíz! - Ele me ajuda a levantar enquanto continua rindo, porém faço bico para ele já que não achava essa situação engraçada.
- Era você o tempo todo? Por que não disse nada? - Digo franzindo a testa o que faz Matheus rir mais um pouco.
- Eu achei fofo como você ficou interessado no passarinho! Seus olhos brilhavam enquanto admirava o passarinho, ou melhor, eu! - Ele sorri e eu acabo corando com isso, mas tento disfarçar olhando para o lado. - Além do que, eu queria fazer uma surpresa para você! Um passarinho me disse que você chegou, falou só com uma filha de Iara e depois entrou no seu quarto e não saiu mais! Achei que estaria mais animado em conhecer gente que entende como você se sente! - Ele fica mais sério quando diz isso e coloca uma mão em meu ombro. - Você não tá sozinho, se isolar é a última coisa que você devia fazer agora!
Suspiro novamente, apesar dele estar certo, ainda estava muito confuso com tudo e não sabia muito bem como reagir à isso; em todos esses anos nessa indústria vital que conheço como vida, essa foi a primeira vez que isso me acontece... perdi meu chão, meu rumo e agora estava em um local desconhecido onde eu provavelmente passaria meus últimas dias se aquele monstro não conseguir me pegar antes. Matheus parece perceber o meu olhar distante e confuso, ele me faz olhar para ele e respira bem fundo:
- Luíz... perder alguém do jeito que você perdeu é terrível, perder o rumo de sua vida e ficar sozinho nos escombros é devastador, mas saiba que você não está e nunca estará sozinho! - Ele falava de um jeito suave, quase como se eu fosse explodir caso ele falasse de outro jeito o que realmente poderia acontecer. - Cada um fica de luto de um jeito diferente, eu entendo isso, porém ficar sozinho se embebedando na tristeza não vai te fazer bem nenhum! Acredite, eu já estive nessa situação também...minha mãe era uma mulher forte, linda e corajosa que lutava para a preservação da natureza, foi morta por caçadores que queriam contrabandear animais... eu também vi a cena... foi horrível, ainda tenho pesadelos sobre esse dia! - Algumas lágrimas começam a sair de seus olhos, acabo limpando as mesmas por ele. - O que quero dizer é que eu perdi tudo naquele dia, perdi a pessoa que mais amava e meu rumo, mas eu continuo aqui, ainda tento aproveitar cada dia que tenho pela frente! Não estou dizendo que superar é fácil, nunca é, mas é possível, acredite em mim! - Ele dá um sorriso forçado ao terminar de falar, acabo o abraçando por instinto, por algum motivo me sentia bem em seus braços.
- Sei que devia tentar me libertar da dor e talvez seguir em frente, Matheus, porém por que é tão difícil? Por que os Deuses permitem que coisas assim aconteçam com pessoas que amamos? Eu... só queria poder entender... - Consigo sentir lágrimas quentes correndo por minhas bochechas, porém não as limpo, apenas as deixo correr pelo meu rosto enquanto abraçava Matheus que suspira.
- Acredite, Luíz, eu já me perguntei muito isso, muitos de nós se perguntam isso todos os dias, porém o que poderíamos fazer sobre isso? Somos apenas semideuses, apesar de podermos herdar alguns dos poderes divinos deles, no final das contas ainda somos e sempre seremos apenas mortais, seres insignificantes para eles! - Sinto um tom de raiva nas últimas palavras dele, porém não sabia bem o motivo. - O que nos diferencia do resto dos mortais é que a desgraça anda de mãos dadas com a maioria dos semideuses! Olhe para os filhos de Xandoré, o pai deles está aqui no acampamento conosco, porém ele se recusa a falar com qualquer um de seus filhos já que os odeia por serem humanos, ele odeia tanto humanos que queria causar uma guerra enorme o bastante para nós exterminar, como punição, seu pai o colocou como diretor do acampamento!
Fico surpreso pelo fato de haver um Deus aqui no acampamento, um Deus de verdade que odiava humanos e que meu pai havia o punido à ficar preso nesse lugar que estava cheio de adolescentes e jovem adultos, esse simples fato me fazia rir um pouco, não basta ele odiar humanos, ele estava preso com humanos nas piores fases de sua vida!
- Não sou muito fã do meu pai, mas admito que isso foi genial da parte dele! - Rio um pouco em meio às lágrimas, as limpando do rosto. - Mas espera, pensando bem, o seu pai não odeia o meu? Porque ele pediria para você me ajudar? Eu me lembro bem da minha mãe falando algo sobre isso enquanto me ensiava sobre sua cultura! - Acabo me distanciando dele um pouco ao dizer isso, já que era um pouco suspeito, depois do que aconteceu, não podia sair confiando em todo mundo... bem já confiei nele com várias outras coisas, mas vai que ele é bom em atuar? Não posso arriscar, porém, Matheus simplesmente se aproxima de mim e volta a me abraçar, bem mais forte do que abracei ele.
- Eu... eu sinto muito, Luíz! - Sua voz parecia trêmula, do que ele estava se desculpando exatamente? Por me trair? Por querer meu mal? Estava tão confuso. - Eu não fui enviado pelo meu pai para te observar, na verdade eu nem falo muito com ele já que ele se recusou a trazer minha mãe de volta quando ela morreu! - Ele suspira bem fundo. - Na verdade eu te vi um dia enquanto voava em forma de pássaro, você estava junto com sua mãe e estavam indo passear juntos... não pude não notar o seu belo sorriso, seus olhos, eu fiquei encantando, no entanto também senti uma energia espiritual bem forte em você e pensei que poderia ser um semideus igual a mim, só não pensava que você seria filho de Tupã! Aí sempre quando eu tinha tempo eu voava para a cidade e ficava te observando junto com sua mãe, eu sei que soa estranho, mas juro que só continuei porquê queria te proteger de algum perigo pois você parecia não saber o que era! - Ele parecia bem envergonhando com toda essa declaração, se não fosse por sua melanina, seu rosto provavelmente estaria vermelho como um tomate agora, porém não senti raiva dele ou nojo dele por isso... na verdade achei meio fofo? Não sabia bem o que era esse sentimento, mas me senti meio bobo em pensar que alguém que nem sabia direito quem eu era ficou esse tempo todo me observando, era meio esquisito em certa parte, porém, minha mãe nunca conversou comigo sobre coisas do tipo e não é como se meu pai falasse comigo.
Empurro ele para trás um pouco e o faço olhar para mim, haviam lágrimas que estavam ameaçando cair de seus olhos, porém fui rápido e as sequei, o olhei com um sorriso meio bobo já que não sabia muito bem como me sentir nessa situação toda, apenas fiz algo que já vi algumas pessoas fazendo na televisão, dando um beijo na bochecha dele.
- Não se preocupa! Fui perseguido por um ser que queria meu sangue, ser perseguido por alguém que quer o meu bem não é tão ruim! - Rio meio sem jeito e ele ri junto.
- Bom, que tal eu te apresentar meus amigos para gente sair desse assunto constrangedor? - Matheus diz meio sem jeito e eu concordo com a cabeça.
- Claro! Mostre o caminho!Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Acampamento Meio Deus
FantasíaEm um mundo onde todos os mitos são reais, não seria diferente no Brasil. Os semideuses Brasileiros possuem um local seguro onde são livres das ameaças dos monstros e criaturas que vivem para os caçar, o homem do saco captura semideuses ainda crianç...