Eu não me encaixo nem com pessoas iguais a mim

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Filha de Atena?
Todos me olham, alguns incrédulos, outros com uma empatia no olhar que me deu medo do que significa ser filha de Atena.
Olho para Luiza ao meu lado, ela está sorrindo feito louca, o que me trás um certo conforto.

Depois da fogueira, Quiron me diz para arrumar minhas coisas para se mudar para o chalé 6 (o chalé de Atena, ele me explicou).
Eu não tinha muito o que pegar. Eu peguei as camisetas do acampamento, meus tênis e minha calça. E claro, levei minha pulseira mágica que Charlie me deu.

O chalé de Atena é lindo por fora e mais lindo ainda por dentro. Por fora, é um chalé com paredes brancas e uma coruja extraordinária na porta com 2 colunas, uma de um lado, outra de outro.
Por dentro, são vários beliches como o chalé de Hermes, só que com mesas e estantes de livros no meio, como se fosse uma biblioteca de escola comum. Só que uma muito bonita.
Eu amei.

Eu também havia trazido meu saco de dormir, mas tinha uma cama me esperando, o que foi uma surpresa ótima porque dormir no chão é muito desconfortável.

Algumas garotas conversavam e alguns garotos liam livros enormes. Eu nunca tinha visto um garoto ler, isso foi uma novidade enorme. Me pergunto se Charlie gosta de ler.

Coloco minhas coisas na minha beliche, só tem eu dormindo nela, mas eu prefiro dormir em baixo para, caso eu caia, o tombo pode não doer tanto em uma altura menor.

- Olá, novata, bem-vinda! - Diz uma garota simpática - Como está tudo isso de mudança?

- Bem, acho.

- Mas que bom, seu nome é Luna, certo?

- Sim, e o seu?

- Amanda! Prazer.

- Prazer.

Ela olha atentamente aos meus olhos.

- Seus olhos não são cinzas, que estranho.

Eu olho para ela, ela tem olhos cinzas tempestuosos que parecem estar a todo momento esperando um ataque.

- Isso é ruim?

— Bom, geralmente, filhos de Atena têm olhos cinzas, na verdade, nunca vi uma que não tenha. Mas existe uma primeira vez para tudo, né? Sinta-se em casa!

- Obrigada.

Ela volta para sua leitura. Depois disso, fico pensando sobre meus olhos, realmente eles não são cinzas, são castanhos claros normais. Olho para meus irmãos (cara, que estranho dizer isso) e todos eles têm olhos cinzas.
Isso me faz me sentir uma peça que não se encaixa em um quebra-cabeça completo.
Afasto esses pensamentos e decido dormir um pouco. Será que tem um dia nesse lugar sem surpresas?
Antes de dormir, rezo para minha mãe Atena e digo "obrigada" por ela me reconhecer. Não que isso não seja o mínimo que ela deve fazer após me jogar ao mundo, tipo? Eu não escolhi nascer! O mínimo agora é ela dizer "sou sua mãe" para mim!
Decido parar de pensar logo e caio no mundo dos sonhos.

Como sempre, um pesadelo.

Desta vez, um homem meio alto com cabelos louros está chorando enquanto uma mulher linda, tipo, muito linda, está o consolando.

- Está tudo bem - a voz dela é doce como mel, ela fala com uma sutileza que faz com que até eu sinta que está tudo bem, e eu nem sei por que não estaria tudo bem. - Eles vão recuperar!

- NÃO - diz ele aos berros - não, eles não vão, eu tenho que ir!

- Você sabe que não pode.

- Mas por quê?

- Ninguém sabe, mas eles vão recuperar, eu também preciso recuperar o meu! Eles vão conseguir. - Ela olha diretamente para mim, parece estar encarando a minha alma, isso me deu medo. - Eles vão conseguir.

Eu acordo, mas desta vez não tão nervosamente.
Percebo que estou suando.
Me levanto e troco de roupa.
São 07:40 e tenho atividades só às 09:00 e o café da manhã é às 08:30.
Decido explorar o chalé. Meus irmãos (nunca vou me acostumar a dizer irmãos) dão sorrisos para mim e me explicam as regras do chalé.

Três garotas começam a me explicar tudo.

- Pode pegar todos os livros, mas arrume-os depois!

- Sempre mantenha sua cama organizada, não queremos ser chatos, mas queremos manter tudo organizado sempre para quando os monitores forem ver como está a organização nós ganharmos dos outros chalés!

- Nunca deixe lixo no chão.

- E nunca, nunca, nunca mesmo deixe alguém trazer uma aranha para cá. É sério, isso pode fazer você se dar mal ou fazer alguém ter um infarto.

Assenti para todas as regras, principalmente a última, odeio aranhas.

Digo: "obrigada" para elas por me explicarem tudo e começo a mexer na biblioteca do chalé.

Tem muitos livros antigos e em outra língua. Começo a abrir e remexer as páginas e percebo que consigo entender o que está escrito. É como se minha disléxica estivesse desligada e eu finalmente conseguia ler normalmente.

- Grego antigo.

Dou um pulo para trás, do meu lado, um garoto ri e pega um livro também.

- O quê?

- Grego antigo, seu cérebro de semideusa está conectado a ele. Por isso, você consegue ler. Percebi que você ficou surpresa quando abriu o livro, deduzi que fosse por você conseguir ler normalmente. Acontece com todos nós.
Inclusive, prazer, meu nome é Jack.

- Prazer, Luna. Obrigado por explicar, estava me perguntando disso mesmo.

- Por nada.

Ele pega o livro e vai para seu beliche.

Pego um livro sobre histórias gregas e vou para o meu beliche.
Leio um pouco e logo já está na hora do café da manhã, então vou para o pavilhão de refeitório.

A filha de Atena Onde histórias criam vida. Descubra agora