𝗻𝗶𝗻𝗲

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— 𝗚𝗼𝘁𝗮𝘀 𝗱𝗲 𝗰𝗵𝘂𝘃𝗮 𝘁𝗮𝗺𝗯𝗼𝗿𝗶𝗹𝗮𝗺 𝗻𝗮 𝗺𝗶𝗻𝗵𝗮 𝗼𝗿𝗲𝗹𝗵𝗮. Fico ciente do som do meu próprio coração batendo contra a terra.

Viro um pouco o rosto em direção ao céu e continuo ouvindo.

— . . . Você está aí?

Essa voz. Leve e áspera como o murmúrio do oceano numa concha. Eu a conheço. Já a ouvi mil vezes antes, a ponto de se tornar tão familiar quanto a minha. Essa voz. Mas não pode ser.

Giovanna...

Você está me ouvindo...? — Ela pergunta. — Vanessa?

O oceano se dissipa e sua voz sai mais clara.

Você está aí?

Afasto as gotas de chuva quando pisco. Eu devo ter dado play em uma das suas mensagens de voz por engano. Mas eu achei que tivesse deletado tudo hoje de manhã.

Se está conseguindo me ouvir, diz alguma coisa. Me diz se é você...

Não me lembro de já ter ouvido essa frase. Então deve haver outro motivo. Talvez eu tenha batido a cabeça e de repente comecei a imaginar coisas. Minha visão fica embaçada, então fecho os olhos novamente para impedir que as árvores girem. Não sei dizer se a voz dela está saindo do celular ou da minha cabeça, mas respondo mesmo assim.

Giovanna?

O silêncio domina a floresta. Por um segundo, acho que ela se foi. Que ela nunca esteve ali. Mas então ouço uma respiração que não é minha.

Oi... — ela diz em tom de alívio. — Pensei que o sinal tivesse caído...

Meus olhos se abrem para revelar um pedacinho do mundo. Estou anestesiada demais pelo frio para distinguir cima e baixo ou saber onde está o céu.

Vasculho minha mente em busca de algum sentido e não chego a lugar nenhum.

Giovanna?... — digo de novo.

— Está me ouvindo bem? Não sabia se isso ia funcionar.

— O que está acontecendo?

— Fiquei me perguntando se um dia você ia me ligar de volta - ela diz, como se tudo estivesse normalíssimo. Como se estivéssemos retomando uma conversa que paramos ontem. — Senti saudade. Senti uma saudade infinita.

Não consigo pensar direito. Não sei o que está acontecendo.

— Você também sentiu saudade?

Absorvo sua voz familiar, a chuva em contato com minha pele, a sensação de que meu corpo está afundando no chão, a tontura repentina na minha cabeça, e tento decifrar o que está acontecendo.

Por mais estranho que tudo isso pareça, não consigo deixar de perguntar: — É... você mesmo, Gio?

— Sou eu — ela diz e ri um pouco. — Pensei que nunca mais fosse ter notícias suas. Pensei que você pudesse ter me esquecido.

— Como é que eu estou falando com você?

— Você me ligou. — A voz dela é calma como as águas. — E eu atendi. Como sempre faço.

Sempre.

— Não estou entendendo... Como isso é possível?

A ligação fica muda. Gotas de chuva escorregam pela minha pele como suor. Giovanna leva um momento para responder.

— Para dizer a verdade, Vanessa, eu também não estou entendendo — ela admite. — Não sei como isso está acontecendo agora. Só quero que saiba que sou mesmo eu. Tá?

remember the stars, 𝗴𝗶𝗻𝗲𝘀𝘀𝗮.Onde histórias criam vida. Descubra agora