𝘀𝗶𝘅

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— 𝗔 𝗴𝗮𝗿𝗰̧𝗼𝗻𝗲𝘁𝗲 𝗰𝗵𝗲𝗴𝗮, põe sobre a mesa uma pequena jarra de leite, tira alguns pacotinhos de açúcar do avental e desaparece de novo.

Isabelle abre três pacotinhos e os despeja dentro da xícara. Ela pega a jarra e a estende.

— Leite? — ela oferece.

Balanço a cabeça.

— Porque não é de soja?

— Não... Estou tentando tomar café puro.

— Hmm. Impressionante - ela diz, assentindo com a cabeça. — Bem Belo Horizonte da sua parte.

Com a palavra "Belo Horizonte", o celular da Isabelle se acende com as notificações que surgem na tela. O celular vibra na mesa. Isabelle espia o aparelho, depois olha para mim.

— Deixa eu guardar isso. — Ela esconde o celular na bolsa e pega um cardápio. — Você queria pedir alguma coisa?

— Não estou com fome, na verdade.

— Ah, tudo bem.

Isabelle devolve o cardápio à mesa. Ela entrelaça os dedos enquanto eu tomo outro gole de café. O som pisca com luzes laranjas e azuis do outro lado do recinto, mas nenhuma música toca.

Um clima de silêncio quase se instala entre nós até Isabelle finalmente fazer a pergunta.

— Então, quer falar sobre isso?

— Na verdade, não.

— Tem certeza? Pensei que fosse por isso que você quis marcar.

— Eu queria sair de casa.

Ela faz sim com a cabeça.

— Isso é bom. Mas como você tem lidado com tudo isso?

— Bem, eu acho.

Isabelle não diz nada e olha para mim, como se esperasse mais.

— Bom, e você? — pergunto a ela. — Como tem estado?

Isabelle olha para a mesa enquanto pensa a respeito.

— Não sei. As cerimônias têm sido difíceis. Não tem um templo de verdade por aqui, então a gente está fazendo o que pode. Tem várias tradições e costumes que eu nem conhecia, sabe?

— Não posso nem imaginar... — digo. Isabelle e Giovanna sempre tiveram uma ligação com a cultura deles de um jeito que eu nunca tive.

Meus pais são de algum lugar no norte da Europa, mas isso não é algo em que eu pense a respeito.

Voltamos a ficar em silêncio. Isabelle mexe seu café por um bom tempo sem dizer nada. Então ela fica imóvel, como se lembrasse de alguma coisa.

— Fizemos uma vigília por ela — ela diz sem olhar para mim. — No dia seguinte. Passei a noite inteira com ela. Tive a chance de vê-la de novo...

Sinto um aperto no estômago ao pensar nisso. A ideia de ver Giovanna mais uma vez depois que ela... Eu me impeço de imaginar. Tomo outro gole de café e tento apagar a imagem, mas ela não vai embora.
Queria que ela não tivesse me contado isso.

— Eu sei. Não é todo mundo que queria ver ela daquele jeito — Isabelle diz, ainda sem olhar para mim. — Eu quase não consegui também. Mas sabia que seria a última vez que teria a chance. Então eu fui.

Não digo nada. Bebo meu café.

— Mas tinha muita gente no funeral — ela continua.

— Não tínhamos lugares o suficiente. Tinha gente da escola que eu nem reconheci. E muitas flores.

remember the stars, 𝗴𝗶𝗻𝗲𝘀𝘀𝗮.Onde histórias criam vida. Descubra agora