Capítulo 02

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Maxwell Zimmerman

—  Senhor, Zimmerman? 

Meu segurança me chama quando estou olhando pela janela da minha casa à noite.

— Diga. —  Falo ainda olhando para fora.

—  Recebemos uma ligação sobre o senhor, Thorn. 

—  O que ouve? —  Viro-me para encarar. 

—  Ele foi morto a tiros indo para casa. — Fala tranquilamente.

— Minha afilhada? —  Pergunto querendo saber se ela estava junto.

— Não estava com ele. 

— Ótimo. Mende arrumar minha mala. 

Houve uma época em que éramos inseparáveis, ele e eu. Crescemos juntos, enfrentamos desafios e comemoramos vitórias lado a lado. Éramos mais do que amigos, éramos como irmãos. E então, a vida nos levou por caminhos diferentes, mas nosso vínculo sempre é forte.

Anos se passaram, e ele se tornou pai de uma linda menina. Fui honrado ao ser escolhido como padrinho dela, uma responsabilidade que aceitei de coração aberto. No entanto, na máfia não poderia me dar ao luxo de ter uma vida comum, e simplesmente não poderíamos estar tão presentes quanto gostaria.

Os anos voaram, e, de repente, eu vi olhando para fotografias de uma menina sorridente, vestida de branco em seu aniversário de quinze anos. Sinto angústia ao perceber que eu não estava lá para vê-la crescer, para compartilhar risadas, conselhos e momentos especiais. 

A distância física nunca afetou meu amor por ela, mas a saudade de não ter testemunhado sua jornada cotidiana do lado de fora da moldura de uma foto era avassaladora.

No começo eu apenas via ela como uma criança, mas com um tempo meus sentimentos começaram a mudar. Sentia algo que não deveria, porém não sou um homem de negar meus instintos, sou completamente obcecado por ela. 

Lentamente, uma transformação sutil ocorreu dentro de mim. O que antes era apenas um afeto paterno agora se misturava com sentimentos complexos e desconcertantes. 

Eu me encontrei dividida entre a consciência de que ela era a filha do meu amigo e a irresistível atração que parecia crescer a cada dia.

A angústia que eu senti ao perceber essa mudança era avassaladora. Eu questionava meus próprios pensamentos e emoções, debatendo internamente sobre a ética e os limites morais. Afinal, ela ainda era uma jovem, e eu, seu padrinho, tinha responsabilidades e compromissos que ultrapassavam qualquer desejo pessoal.

No entanto, eu não posso negar a constante presença desses sentimentos. Cada risada dela, cada olhar, cada gesto gracioso ecoar em minha mente. Eu tentava manter uma distância emocional, mas, ao mesmo tempo, ficava cada vez mais envolvido em um turbilhão de emoções que não conseguia entender completamente, todas as vezes que meu amigo mandava vídeo e fotos dela. 

—  As malas estão prontas, senhor. 

— Ótimo.

No dia do enterro, eu me encontrei em um mar de rostos familiares, expressões de pesar e lágrimas compartilhadas. Entre as pessoas, avistei sua filha, agora uma jovem mulher. 

Foi a primeira vez que a via publicamente desde que ela era uma criança, uma figura distante nas fotografias e nos vídeos que meu amigo compartilhava.

Ela estava lá, vestida de preto, seus olhos refletindo a dor da perda, e eu me vi incapaz de desviar o olhar. A tensão entre o dever de respeitar a memória do meu amigo e a presença avassaladora da jovem diante de mim tornou-se o momento quase insuportável.

Maxwell ZimmermanOnde histórias criam vida. Descubra agora