Capítulo 1

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O sinal para o intervalo tocou, e Louis decidiu esperar antes de se levantar, planejando sair após Justin.

A fome apertava, mas ele preferia evitar a humilhação de sentir as mãos de Justin em seu corpo. 

Não hoje.

Os alunos começaram a sair, e, como esperado, Justin parou na porta, braços cruzados, com um sorriso cínico. Louis fingiu ignorá-lo, abrindo o caderno de desenhos e começando a esboçar um par de olhos humanos, algo para ocupar a mente e o manter calmo.

Justin, percebendo que ele não sairia, soltou uma risada debochada antes de se afastar com o grupo. Louis suspirou aliviado, voltando ao desenho.

Distraído, ele demorou a perceber que ainda havia outra presença na sala. Ao virar-se um pouco, viu o novato, Harry, ainda sentado, mexendo no celular. Louis observou, intrigado. 

Os olhos de Harry se desviaram da tela, encontrando os de Louis com uma expressão neutra. Mas algo naquele olhar parecia intenso e distante, uma atenção incomum que fez Louis desviar o olhar e focar de volta no desenho.

Por que Harry ficara na sala em vez de sair para o intervalo? 

Louis sentiu uma leve desconfiança. Mas, se Harry tentasse alguma coisa, ele já havia decidido que chutaria as partes dele, sem piedade. Não importava se o garoto fosse mais alto ou forte; Louis não deixaria barato.

— Você não vai sair? — a voz de Harry o surpreendeu, baixa e firme.

— E você, não vai? — respondeu Louis, sem se virar, o lápis ainda correndo no papel.

Harry deu de ombros.

— Não estou a fim de aturar outros adolescentes.

— Idem — Louis murmurou, sem olhar para ele.

— Hm. — Harry resmungou, colocando os fones e se debruçando na mesa.

Louis olhou de canto para ele e viu que agora estava com a cabeça deitada nos braços, como se tivesse desligado o mundo ao redor. A indiferença de Harry era estranha, mas, ao mesmo tempo, intrigante. Ninguém se aproximava de Louis sem um propósito de provocá-lo ou insultá-lo.

Por que Harry parecia alheio a isso? Por que não evitava sentar-se perto de Louis como todos os outros? Ele era... diferente.

Louis mordeu os lábios, hesitante, e a pergunta escapou antes que ele pudesse controlar.

— Você não se incomoda com a minha presença?

Por um segundo, pensou que o cacheado não ouviria, mas então Harry ergueu o rosto, o olhar cansado pousando sobre Louis com um misto de curiosidade e desinteresse.

— Por que eu deveria me incomodar? — Harry respondeu, com um tom que deixava claro que a pergunta o intrigava de verdade.

Louis engoliu em seco. Ele costumava fingir que não se importava com o que os outros pensavam, mas, no fundo, desejava que, pelo menos uma pessoa, não o visse como o "lixo" do colégio. Alguém que não o odiasse só por existir.

— Todo mundo se incomoda — respondeu, tentando soar casual.

Harry manteve o olhar por alguns segundos, longos demais.

— Hm, eu percebi — murmurou, com uma leve inclinação de cabeça. — Mas eu não entendo.

Louis virou-se bruscamente para ele, surpreso com a própria reação, e ficou olhando para Harry, deixando-o ver seu rosto por completo.

— Você só está tirando uma comigo? Ou é lerdo mesmo? — provocou, tentando desviar da tensão que sentia. Mas Harry apenas balançou a cabeça, indiferente, pegando um papel amassado que estava sob sua carteira.

Era um daqueles papéis com ofensas que jogavam em Louis, mas Harry o interceptou antes que ele percebesse. Sem dizer nada, amassou-o ainda mais e o jogou direto no lixo, sem sequer desviar o olhar.

Louis franziu o rosto, um pouco surpreso. Ele achou que Harry ficaria curioso para ler, mas ele parecia acima de tudo aquilo.

— Não tenho a mente pequena como a dessas pessoas — Harry murmurou de repente. — Não ligo para o que os outros fazem. Se não afeta minha vida, não me interessa.

Louis sentiu um sorriso surgir no rosto, um gesto sutil, mas que lhe trouxe um sentimento quase estranho. Talvez, apenas talvez, ele tivesse encontrado alguém que não o odiasse.

— Esse sorriso aí te entrega, Tomlinson! — a voz debochada de Justin cortou o silêncio, e Louis percebeu que ele havia voltado. — Já está dando em cima do novato? Como você é rápido!

Louis cerrou os dentes e continuou desenhando, ignorando Justin.

Mas Justin, impaciente, deu um empurrão na mesa de Louis, derrubando seus materiais no chão, incluindo o caderno de desenhos.

Louis olhou pra ele sem esconder sua irritação.

— Ah, está com raiva? Vai me morder, gatinha? — zombou, rindo. — Vai, pega.

Louis soltou o ar com força, abaixando-se para pegar suas coisas, mas Justin deu outro chute, espalhando ainda mais os materiais pela sala.

— Lento demais, Tomlinson — Justin cruzou os braços, sorrindo vitorioso.

Louis observou onde seu caderno caíra, no meio da sala. Ele sabia que Justin queria que ele fosse até lá e se abaixasse para pegar. Pensou em deixar o caderno para trás, mas não conseguiu. Aqueles desenhos eram dele.

Quando ia se levantar, Harry empurrou a cadeira para trás e caminhou até os materiais, pegando-os com calma e colocando-os de volta na mesa de Louis, sem nem olhar para Justin.

— Qual é a tua, cara? — Justin resmungou, irritado.

Harry manteve o olhar fixo em Justin, seus olhos verdes mostrando uma frieza cortante.

— Você é barulhento demais.

— O que você disse? — Justin aproximou-se, tentando intimidá-lo, mas Harry apenas suspirou, visivelmente entediado.

— Eu não repito. Se não ouviu, problema seu.

— Quem você pensa que é, seu merda? — Justin bateu na mesa de Harry, que nem sequer o olhou.

— Ah, já entendi — Justin riu, lançando um olhar provocador para Louis. — Aposto que você já deu pro novato, Tomlinson.

Louis não se conteve e retrucou, cheio de coragem.

— E você queria que fosse você, não é? — Sorriu debochado.

— Prefiro não pegar doenças de vagabunda — Justin respondeu, rindo, mas se virou para Harry. — Eu vou deixar passar porque você é novo, mas não vai ter uma segunda vez. Ninguém me desafia neste colégio, novato. — Avisou.

O sinal do fim do intervalo tocou, e Justin voltou ao seu lugar, lançando um último olhar ameaçador.

Louis, por outro lado, sentiu-se triunfante. Sabia que Justin só havia deixado passar porque Harry era alto e, provavelmente, forte o suficiente para ser um problema. Era raro Justin recuar.

Louis lançou um olhar de gratidão para Harry, que apenas deu de ombros, mas havia um leve sorriso frio em seus lábios, um gesto que não chegava aos olhos.

Mas para Louis, isso era suficiente.

Ele virou-se para frente e decidiu prestar atenção no professor assim que a aula recomeçou.

The Perfect Doll {I'm not fine... help me}Onde histórias criam vida. Descubra agora