Capítulo 2

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Louis caminhava pelos corredores com a cabeça erguida, como sempre, enquanto os insultos e risadas zombeteiras surgiam ao redor.

Ele avançava sem demonstrar fraqueza, cada passo uma tentativa de se manter firme em meio ao caos que o cercava diariamente.

Ao chegar no corredor que levava à sua sala, seu ritmo diminuiu. Justin estava ali, de braços cruzados, parado na porta. Interrompeu a conversa com os amigos e lançou a ele um sorriso malicioso – aquele sorriso que fazia o estômago de Louis se revirar.

Respirando fundo, Louis ergueu a cabeça e instintivamente puxou a saia para baixo, tentando evitar o inevitável. Mesmo acelerando o passo, Justin foi mais rápido. Louis fechou os olhos quando sentiu a palma pesada batendo em sua bunda enquanto passava.

— Continua intacto — Justin comentou, rindo, seguido das risadas dos outros.

Louis respirou fundo, resistindo à humilhação que crescia dentro dele. Seguiu até seu lugar, ignorando o olhar de reprovação que sabia que estava estampado em seus próprios olhos. Mas, ao sentar-se, notou que Harry o observava de longe, e um calor estranho tomou seu rosto. Sentiu-se envergonhado, imaginando se o novato o via como os outros – como alguém fraco.

Justin sempre o assediava, uma rotina à qual ele já estava amargamente acostumado. Mesmo assim, o sentimento de humilhação persistia. Ele sabia que, em certas situações, o melhor era se calar, ignorar e seguir em frente. Justin era imprevisível, e confrontá-lo só trazia mais consequências.

Louis desviou o olhar, sentando-se com cuidado enquanto sentia uma leve pontada. Mais uma vez, ele se forçava a aceitar.

Era só mais um dia.

Louis se trancou no banheiro antes do sinal final das aulas, saindo da sala para evitar cruzar com os outros. Esperou ali, mantendo-se em silêncio.

Quando o sinal tocou, preparou-se para sair rapidamente da cabine, mas parou ao ouvir passos. Decidiu esperar que a pessoa fosse embora.

Mas ela não foi.

Um frio percorreu sua espinha ao pensar ser Justin ou um de seus amigos, mas surpreendeu-se ao reconhecer a voz:

— Vai ficar aí o dia todo?

Louis engoliu em seco, pegou a mochila e saiu da cabine, encontrando o olhar inexpressivo de Harry.

— Ah, oi — disse, tentando manter o tom casual.

— Oi — Harry respondeu, apoiando-se no mármore da pia, o olhar fixo em Louis, como se observasse cada detalhe dele.

— Só... só estava matando aula mesmo — Louis tentou disfarçar, desviando o olhar.

— Ou talvez fugindo de alguém? — Harry insinuou, cruzando os braços, com um sorriso que Louis não soube decifrar.

Louis fechou o semblante. — Não estava fugindo de ninguém — respondeu, indo até a pia para lavar as mãos.

— Por que não denuncia eles? — Harry continuou, aproximando-se em passos lentos. — Só conta para a direção tudo o que fazem com você.

Louis sentiu uma onda de raiva. Aquela era uma sugestão absurda, mas o tom frio de Harry parecia sugerir que ele não entendia a gravidade da situação.

— Você acha que eu nunca tentei? — disse, virando-se para ele, os olhos brilhando de frustração. — Acha que eu gosto disso? Sabe o que o diretor me disse quando fui até ele, todo machucado, e contei o que passo aqui todos os dias? — A voz tremia, mas ele manteve o tom firme. — Ele disse: Se você quer que te deixem em paz, pare de se vestir como uma garotinha e seja o homem que você é.

Louis limpou rapidamente as lágrimas que ameaçavam cair. Sentia uma vergonha ardente, mas a vontade de desabafar era mais forte.

— As pessoas acham que eu faço isso por atenção, que eu gosto de atrair olhares. Dizem que eu poderia evitar tudo isso se apenas me comportasse como um "homem". Elas só não entendem que isso... — apontou para suas roupas — é quem eu sou.

Sem coragem de encarar Harry, pegou sua mochila e saiu do banheiro, irritado por ter se permitido ser vulnerável na frente dele. Odiava mostrar fraqueza, especialmente para alguém que não conhecia bem.

O resto das aulas foi mais pesado do que o normal.

Justin parecia determinado a não deixá-lo em paz. No refeitório, Louis teve que engolir as provocações junto com a comida, ouvindo as risadas e piadas sobre seu jeito e suas roupas.

E quando estavam a sós, Justin ia ainda mais longe, tocando-o, puxando sua saia, e dando tapas rápidos que o faziam querer desaparecer. Era humilhante, e o fato de não conseguir reagir era a maior frustração.

Louis sentia-se prisioneiro, engolindo o orgulho e o medo enquanto suportava a rotina, esperando que o dia terminasse para poder correr para casa, longe de todos.

Por mais que tentasse ser forte, a verdade era que não sabia o quanto mais conseguiria aguentar.

The Perfect Doll {I'm not fine... help me}Onde histórias criam vida. Descubra agora