Capítulo 4 - O Apartamento do Parça do meu Trabalho

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Felipe lutava contra as luzes fortes dos semáforos que atacavam suas vistas enquanto pilotava em velocidade máxima nas ruas desertas da madrugada. A adrenalina, incentivada pelos poucos sinais de viaturas da polícia e o conhecimento das rotas livres de detectores de velocidade, o fazia se sentir ainda mais livre para sentir o sentimento de tensão e perigo que liberava tanta dopamina em seu corpo.

A ideia de ter que se deslocar até o apartamento do garçom engomadinho depois de um dia cansativo de trabalho parecia ser desaforo para o motoqueiro que acreditava, que o trabalho de um motoboy devia ser extremamente mais estressante e cansativo do que só servir mesas e forçar um sorriso simpático para um bando de clientes esnobes.

"O mauricinho de merda ainda tinha que morar na porra do outro lado da cidade. Vai "pegar boi" de eu não cobrar a gasolina pra ter que ir lá pegar esse documento importante pra Vanessa."

Algumas horas mais cedo, após os garçons largarem o expediente devido ao estabelecimento fechar mais cedo por causa do feriado, Vanessa mandou mensagem para Felipe, informando sobre um documento urgente que ela precisava entregar para os chefes no dia seguinte e que somente William conseguiria imprimir naquele horário por ter acesso a uma impressora em casa.

A garota cacheada havia pensado que seria melhor não dizer ao namorado sobre o favor feito por Willian, pois conhecia o jeito marrento do motoboy, que entenderia o favor como piedade por ser um rapaz pobre, coisa que na verdade era exatamente o que parecia ser.

— Preciso ir no apartamento 612. — Felipe apertava o interfone de um dos prédios que ocupavam a avenida de um bairro nobre.

— Tira o capacete antes pra eu liberar seu acesso, meu parceiro. — A voz do outro lado do interfone alertava o jovem, que, pelo costume de fazer entregas em condomínios, entendia que isso fazia parte do protocolo de segurança de qualquer recepção.

Retirando o capacete, com os cabelos ainda espetados por causa do gel cola, Felipe fez questão de mostrar o rosto insatisfeito para a câmera de segurança ao lado do interfone, ouvindo o barulho que liberava sua entrada pelo portão.

O porteiro fez as devidas ligações para o número do apartamento, confirmando que o motoqueiro poderia subir. O trabalhador noturno observava o jeito do rapaz que caminhava até as escadas, imaginando o quão diferente ele era dos rapazes que geralmente frequentavam o número 612.

William terminava de passar o café quando ouviu a campainha tocar e, se assustando com o barulho que invadia um dos raros momentos de silêncio que tinha naquele apartamento, acabou derramando a borra do coador na camisa de pijama, queimando sua pele clara.

— Merda! — Ele correu a mão em um pano de prato para tirar o excesso da borra de café, sem se importar com o quanto o peito e base da barriga ardiam. — Já vai! — Ele gritava, ainda parado na pia da cozinha, quando resolveu deixar o pano de prato de lado e caminhar, com a camisa suja, até a porta.

Quando os olhos do motoboy e do garçom se encontraram, ambos expressavam um misto de surpresa e raiva. O motoboy por achar estranho a maneira como o garçom o encarava e ficava surpreendente comum sem usar o uniforme formal do restaurante, e o garçom, por pensar que o motoboy era mais um namorado ciumento e possessivo, que havia desconfiado de seu pedido a Vanessa e decidira ir pessoalmente até o apartamento conferir a veracidade do tal "documento".

— O que você tá fazendo aqui? — William perguntava, com um tom sério, prevendo a resposta arrogante do que ele imaginava ser um namorado ciumento e inseguro.

— Tá chateadinha por ter me feito subir seis andares de escada e não sorrir ao te ver, princesa? — Felipe adentrava o apartamento, analisando, com nojo, cada detalhe, procurando por sinais de vulgaridades e perversão que ele imaginava encontrar no apartamento de um homem gay.

O Parça com quem eu Divido o Aluguel [Romance Hot 2024]Onde histórias criam vida. Descubra agora