Após receber de Vanessa a negativa que o gerente do restaurante dera sobre colocar o anúncio procurando companhia para dividir o aluguel no quadro de aviso para funcionários, Felipe instantaneamente fechava a cara, pois detestava quando ouvia não para qualquer pedido.
— Burguês arrombado filho da puta! — Ele ajeitava a postura na moto, olhando o próprio reflexo da expressão de raiva.
— Eu não sei porquê sua mãe insiste que não daria certo se a gente morasse junto por agora. Aposto que ela tem medo da sua ex dar chilique e parar de deixar a Ana te visitar por minha causa. — Vanessa tocava as coxas torneadas do motoboy por cima da calça, tentando fazê-lo relaxar. — Além disso, porquê você está querendo colocar o anúncio justo aqui? Não é mais fácil postar em um grupo de internet ou pregar cópias nos postes perto do seu bairro? — A garota tentava forçar interesse no assunto.
— É porque, aqui, eu sei que vou encontrar algum mano trabalhador e que não vai ter desculpa pra dar calote no aluguel, já que vai receber no mesmo dia que eu — Ele dizia, como se a ideia já não fosse uma coisa óbvia.
Despedindo-se do namorado e voltando pela entrada da cozinha do restaurante, Vanessa foi até um dos auxiliares do cozinheiro, na tentativa de divulgar boca a boca a vaga de aluguel pro namorado.
— Nem fodendo, eu vou dividir a casa com aquele drogado. — O cozinheiro fazia uma expressão de nojo, que a garçonete não sabia se era pela visão preconceituosa que o cozinheiro tinha sobre Felipe ou se era por ter encontrado um fio de cabelo no molho que preparava para espaguetes.
— Meu querido, o Felipe não usa droga pesada só por ser motoboy e morar em uma comunidade. Esse personagem preconceituoso está só na mentalidade de merda que você tem. — A garota começava a levantar o tom de voz, quando recebeu um olhar de repreensão do cozinheiro chefe.
— Vanessinha, me dá um help aqui no salão? — William, que sutilmente havia escutado a conversa, tirou a colega de uma possível situação de demissão por justa causa. Ao chegarem em uma das mesas mais isoladas do salão, William interrompeu o resmungo da garota. — Eu sei que aquele cara foi escroto, mas você já está queimada no restaurante por sair por aí levantando a voz e mostrando o dedo pros outros.
— Fodam-se esses palhaços — A moça cacheada dizia, em voz alta, procurando por algum intrometido que a encarava de longe pelo salão.
— Pode até ser “foda-se" pra você, que tem papai e mamãe pra pedir favorzinho pra político e arrumar outro emprego na prefeitura, mas o pessoal daqui se mata em até mais de dois empregos e não precisa ficar ouvindo tom de deboche de garçonete sem educação, não — Sentindo a explosão de raiva que a garota daria por ter sido chamada de barraqueira, William tocou seus ombros gentilmente e continuou dizendo: — Porra, cara, relaxa essa marra que você tem do mundo lá fora. Eu, como um cara gay, sei muito bem como é ter que levantar muros e ter uma atitude mais firme pra conseguir respeito, mas esse seu jeito já está fodendo a imagem da gordinha simpática que o pessoal teve na sua primeira semana de trabalho.
Vanessa sorriu e, por um instante, se sentiu excitada com o toque firme e olhar penetrante do garçom mais alto até se lembrar que provavelmente não teria chances com um homem gay.
— Eu sei que você aguenta ser maneiro com o pessoal que faz piadinha com seu jeito, Will, mas não é justo eu ter que ouvir essas coisas sobre o Felipe e ainda sair como errada. — Mesmo com o tom de voz mais baixo, a garota ainda expressava sua indignação.
Afastando-se um pouco por perceber a tentativa de quase flerte da garota, William pousou a mão nos quadris e, fitando-a nos olhos com expressão de deboche, levantou um questionamento:
— Tipo as piadinhas que seu namorado e os outros motoqueiros fazem quando eu vou corrigir algum erro nos pedidos, e eu tenho que engolir calado por medo de apanhar ou perder o emprego por desmaiar um deles na porrada?
A garota quase não prestava atenção nas falas, pois admitia que a fantasia do garçom no uniforme de trabalho, com o avental extremamente limpo e gravata borboleta alinhada fazia com que ela imaginasse o quão rosada seria a cabeça do pênis dele.
— Eu conversei com o Figueiroa, e ele disse que não deixou colocar o anúncio porque estava cheio de erros de português e pegaria mal pra imagem da empresa se alguém de fora visse uma coisa dessas no quadro administrativo. — Ele não se sentia desconfortável com o olhar sedutor da garota, porém não tinha o menor interesse em realizar qualquer fetiche que a seduzisse. — Enfim, eu me ofereci pra fazer um anúncio novo, e ele concordou em deixar colocar lá no quadro. Se quiser, passa lá no meu apartamento mais tarde pra pegar a impressão.
Os olhos da garota brilharam por um instante com o pensamento de que aquilo seria uma armadilha, onde ela apareceria no apartamento do garçom à noite, e ele estaria a esperando só de cuecas e, coincidentemente, com uma garrafa de cerveja e um filme, pausado, no streaming.
— Nossa, tem que ser essa noite? — A garçonete recuperou a atenção ao que o colega falava, lembrando-se do compromisso que havia firmado na igreja.
— Tem, sim. Porque, depois de amanhã, é folga do Figueroa, e, se ele mudar de ideia, nem eu consigo fazer ele voltar atrás. — William já não prestava mais atenção aos olhares atirados da garota e agora só pensava na “folga” de ela ainda querer escolher o dia para receber um favor.
Vanessa pareceu refletir por um momento se valeria a pena enganar os pais para finalmente conhecer o apartamento do mais novo alvo de seus fetiches, quando se lembrou do quanto já estava encrencada pelo pai ter flagrado enquanto ela fazia um oral em Felipe no sofá da sala de sua casa.
— Eu vou ver se o Felipe se importa de passar lá pra pegar — Ela dizia, com um tom desanimado. — Me manda, pelo “zap”, seu endereço, que eu passo pra ele ir lá depois do horário.
William não gostava da ideia de ter contato desnecessário com o motoboy que considerava ser arrogante, mas concordou em enviar a mensagem para se livrar logo do fardo de se sentir responsável por manter o emprego que sabia que era tão necessário pro rapaz babaca.
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O Parça com quem eu Divido o Aluguel [Romance Hot 2024]
RandomFelipão está acostumado com a correria da vida de um motoboy que trabalha desde os 16 anos para pagar a pensão da filha que teve durante uma de suas caçadas pelos bailes da quebrada. Na busca por um colega para dividir o aluguel ele decide colocar...