Capítulo Um

0 0 0
                                    

Dois meses depois

CONSIDERAR ESSE O MEU último semestre na faculdade seria no mínimo um delírio, já estou presa nesse lugar tem quase cinco anos. Penso que realizei o que pude e quis, toda grande quantidade de cabelo que caiu na metade de semestre, projetos sem fim e cogitar deixar a graduação a cada oportunidade. Não pensei que chegaria ao último semestre, quem dirá faltar apenas minha monografia de conclusão.

Infelizmente, certamente, é um delírio. Dois semestres a mais apenas na graduação. Que pesadelo. Em toda a minha história acadêmica eu jamais havia reprovado em algo, muito menos uma disciplina que eu considerava a mais importante para que minha defesa fosse de qualidade, não irá acontecer. Tenho certeza de que Maria tornará minha pesquisa mais complicada e felizmente específica, é o que ela faz.

Construí toda a minha experiencia universitária imaginaria com perfeição: nunca perdi uma disciplina quando era necessária, todos os estágios foram feitos com perfeição, projetos de pesquisa realizados com todas as habilidades que eu tento ter e conseguir concluir o curso em um momento bom o suficiente para uma pós-graduação cedo e provavelmente um doutorado, que está atrasado agora.

Minha questão principal por meses é o fato de homens adultos idiotas estarem ocupados demais as sete da manhã jogando bola e ferindo as pessoas ao seu redor e não ao mínimo tentar entrar em contato para consertar algo que claramente é necessário para que essa pessoa viva uma vida funcional no dia a dia.

Não posso viver eternamente com lentes de contato que claramente estão à beira do vencimento, todos os oftalmologistas estariam chorando neste momento. Talvez eu não devesse esperar que ele encontrasse uma forma de me encontrar e resolvesse o problema, eu gostaria que ele conseguisse voltar no tempo para que eu não precisasse repetir toda essa merda...

— Já escolheu sua roupa? — Ana pergunta me tirando do transe. — Se você me falar que não vai, eu juro pra você que eu quebro seus dois dedinhos do pé.

— Que? — pisco algumas vezes, tentando hidratar meus olhos com um pouco de lágrima.

— Você sabe do que estou falando né? Quinta-feira! Você me deixa totalmente impaciente — ela chega bem próxima da cama onde estou sentada e me sacode.

É claro que eu sei sobre o que ela está falando. Happy Hour. A desculpa favorita de todo universitário para encher a cara, sem nenhuma preocupação, beijar o máximo de pessoas possível e ouvir música de providência duvidosa sem ser julgado. Realmente, é o céu.

Nosso combinado é o seguinte: todo começo de semestre, vamos para primeira festa antes do começo das aulas e fazemos tudo que não faremos ao longo do tempo de estudo.

Não atrapalha nosso processo acadêmico e temos histórias suficientes para compartilhar ao longo do tempo. Nossa diferença é que não sou a Ana, ela tem uma crença engraçada de que se não beijarmos ao menos uma pessoa na festa, nosso semestre vai ser um horror. Então, eu beijo um e ela beija cinco, onde entra nossas regras para o evento:

Não podemos repetir beijo (não posso beijar alguém que beijei em alguma festa antes, sempre alguém novo);

A cada pessoa que beijamos é uma festa a menos do semestre para ir;

Não podemos ir embora sem a outra (mas isso é uma regra simples para convivência em festa. Está nos mandamentos);

Proibido falar sobre a faculdade ou qualquer coisa que seja um tópico desconfortável ou sensível;

Parece SolidãoOnde histórias criam vida. Descubra agora