II

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Nas movimentadas ruas da Itália dos anos 1940, o dia de Anthony começou como qualquer outro, envolto na névoa do esquecimento induzido pelas drogas e nas negociações sombrias da rede mafiosa de sua família.

Enquanto o sol lançava seus raios dourados sobre a cidade antiga, Anthony emergia das profundezas de sua casa opulenta, suas belas feições obscurecidas pela palidez do excesso e as olheiras denunciando noites passadas em um estupor alimentado por drogas.Com a mão trêmula, ele pegou o frasco de cocaína em pó aninhado entre a bagunça em sua mesa de cabeceira, a onda familiar de euforia inundando seus sentidos enquanto ele se entregava ao seu ritual matinal. As drogas proporcionaram uma fuga fugaz da dura realidade da sua existência, um alívio temporário do peso das expectativas da sua família e da violência que espreitava logo abaixo da superfície.

Henrique, o patriarca da máfia familiar, estava sentado à cabeceira da mesa de jantar ornamentada na sala mal iluminada da propriedade da família. Seu olhar de aço percorreu seus filhos – Anthony, Milena e Giovanni – enquanto eles estavam diante dele, seus rostos eram máscaras de apreensão e deferência.

— Anthony.- Henrique retumbou, sua voz carregando o peso da autoridade. — Tenho uma tarefa para você e seus irmãos. Um trabalho que exige a máxima discrição e precisão. 

O coração de Anthony acelerou com as palavras de seu pai, sua mente já acelerada com as possibilidades do que estava por vir. Ele trocou um olhar com Milena e Giovanni, o entendimento tácito passando entre eles como um pacto silencioso.

Henrique continuou, em tom grave.

— Há uma família rival que ameaça as nossas operações. Eles invadiram o nosso território e é imperativo que enviemos uma mensagem – uma que os lembre das consequências de nos contrariar.

Um senso de propósito percorreu as veias de Anthony, sua determinação endureceu enquanto ele se preparava para a tarefa que tinha pela frente. Ele assentiu solenemente, as palavras de seu pai ecoando em sua mente como um voto solene. Henrique apontou para um mapa estendido sobre a mesa, traçando com o dedo o contorno do território da família rival.

— Sua missão é simples: infiltrar-se na fortaleza deles, reunir informações e neutralizar quaisquer ameaças. Vocês trabalharão juntos como uma equipe, contando com os pontos fortes uns dos outros para alcançar nossos objetivos.

Milena, a mais nova dos irmãos, mas não menos feroz, deu um passo à frente, com os olhos brilhando de determinação.

— Não vamos decepcioná-lo, pai. Faremos o que for preciso para proteger nossa família e nosso legado.

Giovanni, o mais velho e o músculo da operação, grunhiu em concordância, a mandíbula cerrada com uma determinação de aço.

— Considere isso feito, papai. Esses bastardos não saberão o que os atingiu.

Henrique assentiu em aprovação, sua expressão inescrutável.

— Bom. Lembre-se, a lealdade à família é fundamental. Faça o que deve ser feito e faça-o sem hesitação.

Com uma última troca de olhares entre eles, Anthony, Milena e Giovanni assentiram em uníssono, a determinação deles endurecida pelo peso das expectativas do pai. Eles conheciam os riscos que estavam por vir, os perigos que espreitavam nas sombras do seu mundo. Mas unidos como um só, eles enfrentariam quaisquer desafios que surgissem em seu caminho, ligados pelo sangue e pelo dever para com a máfia familiar que definia a sua existência.

A lua estava baixa no céu, lançando sombras misteriosas sobre as ruas desertas enquanto Anthony, Milena e Giovanni seguiam em direção à fortaleza da família rival. Seus passos foram medidos, seus sentidos aguçados enquanto se preparavam para cumprir sua missão. Ao se aproximarem do imponente edifício, Giovanni assumiu a liderança, com os músculos tensos de antecipação.

— Fiquem perto, vocês dois.- Ele rosnou, sua voz baixa e ameaçadora. — Não sabemos no que estamos nos metendo.

Milena assentiu, apertando ainda mais a arma escondida sob o casaco.

— Conseguimos, Gio. Faremos aqueles filhos da puta pagarem por nos trair.

Com um aceno silencioso, Giovanni abriu a porta com um chute, o som ecoando pelo corredor vazio como um tiro. Eles se moviam rápida e silenciosamente, com os sentidos alertas para qualquer sinal de perigo. Mas quando chegaram ao coração do território da família rival, ocorreu um desastre. Anthony, num momento de pânico e indecisão, cometeu um erro crítico, alertando o inimigo para a sua presença.

— Cazzo!- Giovanni praguejou, sua voz era uma mistura de raiva e frustração. — O que diabos você estava pensando, Anthony? Você acabou de estragar nosso disfarce!

Os olhos de Milena se arregalaram de horror quando o som de tiros irrompeu ao redor deles, o ar denso com o cheiro acre de fumaça e sangue.

— Precisamos dar o fora daqui!- Ela gritou, sua voz abafada pelo caos.

Mas era tarde demais. As balas voaram, perfurando a escuridão com uma precisão mortal. Anthony assistiu com horror enquanto Milena e Giovanni recebiam o peso do ataque do inimigo, seus corpos caindo no chão em uma saraivada de tiros.

— Não!- Anthony gritou, sua voz rouca de angústia enquanto observava seus irmãos caírem. — Sinto muito! Eu não queria que isso acontecesse!

Mas suas palavras caíram em ouvidos surdos enquanto o inimigo se aproximava, com os rostos contorcidos de malícia e triunfo. Com o coração pesado e uma sensação de profunda perda, Anthony fugiu noite adentro, com a mente consumida pela culpa e pelo arrependimento. Enquanto ele desaparecia na escuridão, os ecos dos gritos de seus irmãos o assombravam, um lembrete arrepiante das consequências de seu fracasso. Para Anthony, a missão terminou em tragédia, deixando um rastro de devastação e sofrimento que o assombraria pelo resto de seus dias.
Os passos de Anthony ecoaram nas ruas vazias enquanto ele se dirigia ao refúgio familiar de "La Luna Nera". O peso da culpa e da dor pesava sobre seus ombros, cada passo era uma dolorosa lembrança dos acontecimentos que haviam acontecido.Entrando no bar, ele sentou-se no conhecido balcão de mogno, com uma expressão sombria de turbulência. Viktor, o barman, olhou para ele com um olhar astuto, servindo um copo de uísque sem dizer uma palavra.

Anthony aceitou a bebida com um aceno cansado, os dedos tremendo enquanto levava o copo aos lábios. O líquido âmbar queimou enquanto descia por sua garganta, um eco amargo da dor que corroía sua alma.

— Eu estraguei tudo, Viktor.- Ele murmurou, sua voz rouca de emoção. — Achei que poderia lidar com isso, pensei que poderia protegê-los. Mas me enganei. Coloquei Milena e Giovanni em perigo, e agora...

Suas palavras foram sumindo, sufocadas pelo peso de seu arrependimento. Ele falhou com seus irmãos, falhou com sua família, e não havia como escapar do peso esmagador de seus erros. Viktor ouviu em silêncio, com o olhar firme e compreensivo. Ele já tinha visto muitas almas quebradas em sua época, cada uma buscando consolo no fundo de um copo. Mas havia algo diferente em Anthony, algo cru e desprotegido que tocava seu coração.

Antes que Anthony pudesse continuar, porém, a cena mudou abruptamente, cortando para uma realidade completamente diferente.

Angel Dust acordou na escuridão de seu quarto, seu peito arfando com soluços irregulares. Lágrimas escorriam por seu rosto, seu coração pesado com uma dor que ele não conseguia nomear. Por um momento, ele ficou desorientado, sua mente ainda nebulosa com os restos de seu sonho. Mas à medida que as memórias voltavam à tona — a dor, a perda, a sensação avassaladora de desespero — ele percebeu que não era apenas um sonho. Era uma lembrança, um fragmento de uma vida passada que ainda o assombrava.

Enquanto estava ali deitado, tremendo e sozinho, Angel Dust podia sentir o peso da dor de Anthony pressionando-o, um lembrete tangível da interconexão de suas almas.E naquele momento, enquanto as lágrimas continuavam a cair e a escuridão se fechava ao seu redor, Angel Dust sussurrou uma oração silenciosa pela paz – para si mesmo, para Anthony e para todas as almas perdidas que vagavam nas sombras de seu passado.

Após suas memórias assustadoras e turbulência emocional, Angel Dust se viu dominado por uma sensação sufocante de desespero. O peso dos seus pecados passados ​​e a dor das suas lutas atuais pesavam sobre ele como uma âncora pesada que o arrastava para as profundezas do desespero. Com as mãos trêmulas, ele cambaleou por seu luxuoso quarto no Hazbin Hotel, o ambiente opulento parecendo mais uma prisão do que um santuário. As memórias de sua vida passada, os fracassos que o assombravam, pareciam pairar em todas as sombras, ameaçando consumi-lo por inteiro.

Num acesso de desespero, Angel pegou o estoque escondido de drogas guardado em uma gaveta, com os dedos tremendo enquanto ele se atrapalhava com o frasco. A onda familiar de euforia tomou conta dele enquanto ingeria as drogas, um alívio temporário da onda avassaladora de emoções que ameaçava afogá-lo. Mas mesmo que as drogas atenuassem sua dor, elas não conseguiam apagar a angústia profunda que corroía sua alma. Numa súbita explosão de frustração e desespero, Angel começou a atacar, atirando objetos pela sala com abandono imprudente.

Seus gritos dilacerantes ecoaram pela sala, uma sinfonia de angústia e desespero que parecia reverberar nas paredes. No meio de seu colapso, uma presença pequena e inesperada entrou na sala – Fat Nuggets, seu leal porco de estimação. Com um suave oink, Fat Nuggets caminhou até o lado de Angel, cutucando-o gentilmente com o focinho. O simples ato de carinho rompeu a névoa do desespero de Angel, ancorando-o no momento presente.

Com lágrimas escorrendo pelo seu rosto, Angel caiu de joelhos, envolvendo os braços em torno de Fat Nuggets em um abraço apertado. Por um momento, eles se agarraram um ao outro, encontrando consolo no calor do vínculo que compartilhavam.

Do lado de fora da sala, Husk, o rude demônio felino, parou no corredor, seus ouvidos aguçados captando o som dos gritos de Angel. Com um suspiro pesado, ele foi até a porta, sua curiosidade despertada pela comoção lá dentro. Empurrando a porta, Husk entrou na sala, seus olhos se arregalando de surpresa com a visão diante dele. Angel Dust, o demônio extravagante e aparentemente invencível, estava encolhido no chão, os ombros tremendo com soluços silenciosos.

Sem dizer uma palavra, Husk atravessou a sala, seu exterior rude suavizando quando ele se ajoelhou ao lado de Angel, oferecendo uma mão reconfortante em seu ombro.

— Ei, garoto.- Ele murmurou, sua voz surpreendentemente gentil. — Você está bem?

Angel olhou para cima, seu rosto manchado de lágrimas era uma máscara de vulnerabilidade. Com uma respiração instável, ele assentiu, o peso de suas emoções era pesado demais para suportar sozinho. E naquele momento, enquanto Fat Nuggets se aconchegava nele e Husk oferecia um gesto silencioso de apoio, Angel percebeu que não estava tão sozinho quanto temia. Enquanto Angel Dust continuava a lutar contra a tumultuada tempestade de emoções que assolava dentro dele, as paredes de seu quarto pareceram se fechar, sufocando-o com seu peso opressivo. Sua respiração era ofegante e superficial, seu coração batia forte no peito enquanto ele oscilava à beira de outro colapso.

— Eu não posso... eu não posso mais fazer isso.- Angel sussurrou com voz rouca, sua voz tremendo com uma mistura de medo e desespero. — É como... como se eu estivesse me afogando em lembranças que nem consigo lembrar.

Suas mãos tremiam enquanto ele apertava o peito, sua mente atormentada por visões de um passado que ele não conseguia compreender totalmente.

— Eu continuo sonhando, Husk, Mesmo depois de uma semana que aquilo aconteceu...-  Ele confessou, sua voz quase um sussurro. — Sonhando com uma vida que parece tão real, mas tão distante. Uma vida cheia de... dor e arrependimento.

Husk assistiu em silêncio, seus olhos cheios de um raro sentimento de compaixão enquanto ouvia a angústia de Angel se espalhar como uma inundação torrencial. Ele estendeu a mão, seu toque surpreendentemente gentil enquanto a descansava no ombro trêmulo de Angel.

— Respire fundo, garoto.- Disse Husk suavemente, sua voz um bálsamo calmante em meio ao caos. — Você não está sozinho nisso. Vamos descobrir isso juntos.

Angel fechou os olhos, respirando fundo enquanto lutava para acalmar seu coração acelerado. O calor da presença de Husk ofereceu uma sensação de firmeza em meio à tempestade, um lembrete de que ele não estava tão à deriva quanto temia.

— Estou com medo, Husk.- Admitiu Angel, com a voz cheia de emoção. — Com medo do que esses sonhos podem significar, dos segredos que eles guardam. Com medo de... de quem eu poderia ter sido... Será que eu fui alguém tão ruim assim?

Husk apertou seu ombro de forma tranquilizadora, seu olhar firme e inabalável.

— O que quer que você esteja enfrentando, quaisquer que sejam os demônios que assombram seu passado, saiba que estou protegendo você, garoto. Você não precisa enfrentar isso sozinho.

Naquele momento, quando o peso de seus medos começou a diminuir, Angel sentiu um lampejo de esperança ganhar vida dentro dele. Com Husk ao seu lado, ele sabia que não importava quais provações o aguardassem, ele encontraria forças para enfrentá-las de frente. E à medida que os ecos da conversa desapareciam na quietude da noite, Angel encontrou consolo na simples verdade de que, mesmo nos momentos mais sombrios, sempre havia uma luz para guiá-lo para casa. Enquanto Angel Dust ouvia as palavras reconfortantes de Husk, um leve brilho de diversão brilhou em seus olhos.

— Você, um bartender na Itália? Esse é um espetáculo que eu pagaria para ver!- Ele comentou, com uma pitada de risada aparecendo nos cantos de seus lábios.

Husk riu, o som era uma rara demonstração de calor em meio ao seu comportamento rude.

 — Sim, acredite ou não, garoto. Eu costumava servir bebidas em um pequeno bar naquela época.- Ele admitiu, um sorriso melancólico aparecendo em suas feições. — Eu também fui casado.- Continuou Husk, seu tom tingido com uma pitada de nostalgia. — Tive uma esposa, mas nunca tive nenhum filho. Acho que não fui feito para a felicidade doméstica.

A curiosidade de Angel foi despertada, sua angústia anterior foi momentaneamente esquecida quando ele se inclinou, ansioso para ouvir mais.

— Então, o que você fez para deixar de ser santo assim e vir parar no inferno?

Husk encolheu os ombros com indiferença, seu olhar distante enquanto recordava seu passado.

 — A vida é engraçada assim, não é? Num minuto você está servindo bebidas para um bando de clientes desordeiros, no outro você está apostando a vida por conta de ganância.- Um brilho malicioso iluminou os olhos de Husk enquanto ele continuava, suas palavras cheias de humor. — Além disso, acho que aqui no inferno tem melhor segurança no emprego do que no mundo dos vivos. Não há risco de ser demitido quando seu chefe é o próprio Diabo.

Angel não pôde deixar de rir da sagacidade seca de Husk, a tensão em seus ombros diminuindo um pouco enquanto a risada borbulhava de dentro dele. Naquele momento, o peso de seus problemas pareceu um pouco mais leve, ofuscado pela simples alegria das risadas compartilhadas. As piadas de Husk continuaram a fluir, cada uma mais absurda que a anterior, até que a sala ecoou com o som de suas risadas. E à medida que a escuridão da noite deu lugar à primeira luz do amanhecer, Angel Dust encontrou consolo no simples ato de rir - um farol de esperança em meio às sombras de seu passado conturbado.

À medida que a noite avançava, Angel Dust e Husk se viram perdidos em um turbilhão de conversas, o peso de seus problemas momentaneamente esquecidos no calor da companhia um do outro. Eles relembraram os absurdos da vida no Inferno, trocando histórias e compartilhando risadas até altas horas da manhã.

Husk presenteou Angel com histórias de suas desventuras como bartender , pintando imagens vívidas de clientes turbulentos e personagens excêntricos que frequentavam seu estabelecimento. Angel, por sua vez, compartilhou trechos de seu passado colorido, contando as escapadas e escândalos que moldaram sua jornada pelo Inferno. A cada momento que passava, as paredes do quarto de Angel pareciam desaparecer, deixando apenas a presença reconfortante de seu novo amigo. Conversavam sobre tudo e sobre nada, do mundano ao absurdo, encontrando consolo no simples ato de compartilhar seus pensamentos e medos um com o outro.

Quando a primeira luz do amanhecer começou a filtrar-se através das cortinas, uma sensação de exaustão tomou conta de ambos, o peso das revelações da noite finalmente os alcançou. Com um suspiro cansado, Angel estendeu-se na cama, os olhos pesados ​​de fadiga.Husk fez o mesmo, acomodando-se ao lado dele com um suspiro de satisfação. Fat Nuggets, seu fiel companheiro, aninhado entre eles, seus roncos suaves enchendo a sala com um ritmo suave. Na quietude da manhã, Angel e Husk adormeceram, suas preocupações e medos momentaneamente esquecidos no abraço da amizade e do companheirismo. E ao se renderem ao suave abraço do sono, eles sabiam que, independentemente das provações que estavam por vir, eles as enfrentariam juntos, unidos por um vínculo forjado no cadinho das profundezas mais sombrias do Inferno.

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⏰ Última atualização: Feb 07 ⏰

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