Capítulo 03: Iron Lake

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Hoje eu acordei com uma forte dor de cabeça, resolvi levantar da cama e pegar alguns comprimidos de advil, notei que a chaleira estava ligada fazendo mais barulho que o normal, isso me deixou com uma pulga atrás da orelha o suficiente para me fazer verificar as fechaduras da porta central e aproveitar para recolher o jornal matinal que o entregador deixa todas as manhãs acompanhado de um cupcake de morango como brinde, nenhuma manchete diferente, aliás nada anormal acontece durante muito tempo, talvez alguns gatos presos nas árvores ou alguns galhos que tombaram nas estradas mas o xerife dá conta de tudo.

Degustei lentamente meu cupcake aos poucos, apreciando aquele sabor como se fosse meu último dia na terra enquanto terminava de ler o jornal, parece que teremos uma eleição em novembro desse ano.

- Talvez seja mesmo, não é?

Caminhei até a cozinha para preparar o café, a cafeteira queimou então tive que improvisar com um coador, irônico se eu não estivesse no ano de 2014. Aprontei o café da manhã na mesa esperando que a vovó acordasse, geralmente ela é a primeira a acordar mas ultimamente anda muito doente, talvez seja pelo inverno rigoroso que nunca descansa nessa cidade, a paisagem daqui parece tão triste que me pego imaginando como seria acordar todas as manhãs com o calor do sol em meu rosto e a brisa do vento soando com o cantar dos pássaros, besteira, nessa cidade os únicos que aguentam esse frio são os corvos e os cervos na floresta.

Ano passado a policia emitiu um alerta avisando a proibição oficial da caça aos cervos, ninguém aguentava mais aqueles caipiras invadindo a cidade só para comprar armas facilmente ou praticar tiro ao alvo com os animais, o estopim dessa discussão foi a morte de uma garotinha de 8 anos com um tiro de espingarda, a cidade se mobilizou para expulsar os caçadores e pressionar o xerife que perto de época de eleição não queria se queimar, é melhor assim eu sempre odiei aqueles idiotas.

Não tem muitas formas de passar o tempo em Iron Lake, os mais velhos aproveitam uma parte do ano em que as geleiras se aquecem para pescar nos lagos congelados, uma vez por mês o xerife e a ong beneficente organiza alguns eventos como bailes e corrida no gelo, no inverno é proibido ficar na rua até mais tarde por causa da hipotermia, mas é claro que alguns adolescentes desobedecem isso e vão até algumas cabanas abandonadas na floresta beber até o amanhecer.

Aidan! Já está acordado a essa hora? Garotos da sua idade deveriam descansar um pouquinho mais, quem sabe ler umas revistas com aquelas garotas nuas. -- Ironizou soltando algumas gargalhadas.

- Vovó Linner.. fiz seu..

A senhora interrompeu o garoto se aproximando e pegando o coador, com um leve sorriso de canto.

Acho que você iria dizer que estava tentando fazer café. -- Apontou para o coador com o café queimado, exalando um odor desagrádavel.

- Meu deus! Acabei me distraindo, não se preocupe eu vou limpar essa bagunça.

Aidan olhou para o relógio da cozinha percebendo estar 20 minutos atrasado para a escola.

- Perdi a hora de novo, hoje definitivamente não é um bom dia.. haha. 

- Deixe que eu termino de arrumar isso daqui vá antes que se atrase mais ainda.

- Tudo bem.

Sua mochila estava jogada no sofá da sala junto de um amontoado de roupas com uma jaqueta preta, o garoto agarrou a mochila e colocou sua jaqueta caminhando até a porta.

- Aidan! Já ia esquecendo.. eu amo você! Tome cuidado com a estrada e se for namorar alguma menina não entre muito para dentro da floresta, hm?!?

- Vovó eu não tenho namorada.. e pode..

Mal conseguia parafrasear algo sem perder o folego com os beijos da senhora simpática.

- Por favor não fume muito você sabe que o médico proibiu.

- O panaca do Vincente? Oras ele não sabe de nada, certeza que comprou o diploma dele na tailandia e ainda faltou metade das aulas. -- Murmurou a velha pegando um cigarro do bolso.

- Sem cigarros, vovó. -- Antes que ela pudesse acender, retirou o cigarro da sua boca jogando em uma lata de lixo próxima.

- Credo garoto parece até que você quem é o velhote aqui! 

- Prometa.

- HMM.. Não.. Brincadeirinha! Eu prometo que não vou fumar tanto, amo você agora vá. - Beijou a testa do garoto enquanto observava ele partindo.

Caminhei um pouco com a brisa do vento gelado batendo no meu rosto, coloquei uma touca e um cachecol que eu carregava na minha mochila, foram presentes do ano passado da vó Linner quando eu completei 17 anos, eu deveria ser mais grato a ela. Não lembro dos meus pais e toda vez que tento me recordar algo sobre a minha infancia me vem um branco na mente, mas não importa a velhota sempre foi tudo que eu precisei.

- Bom dia Aidan.

- Senhor Rick. - Acenou.

Quando estava passando perto da delegacia vi o xerife Doug cercando as ruas, parece ser um caso de uma pessoa atropelada por causa das estradas escuras, acho que a vida pacata que levamos me fez ser um cara de poucos amigos, na verdade só me recordo de uma única amiga..

- Seu idiota babaca olha a hora! Além de se atrasar vai me fazer perder a prova também.

Mirajane, ela sempre chega assim me dando murros e ponta pés na cabeça, uma garota de estatura média com cabelos loiros, óculos e sempre entusiasmada com a vida, queria ter pelo menos metade da felicidade dela. As vezes pode ser um pouco evasiva mas se existe uma pessoa em quem eu confiaria a minha vida, é a Mira.

- Mirajane, viu as ruas cercadas? Oque é aquilo? Estava passando perto mas as pessoas tamparam a minha visão.

- Estrada? Hmm.. aah sim, todo mundo anda cochichando que algum bebado estava dirigindo por ai de noite e atropelou o senhor Scott.

- Senhor Scott? Aquele que trabalha com pesca? - Caminhou ao lado da garota.

- Esse mesmo, mas é besteira esse lance de atropelamento.

- Ahh.. você é sempre tão lerdinho.. Tem rastros de sangue por toda a estrada oque significa que ele foi arrastado, e além do mais o pescoço dele tem várias marcas de dentes.

- Pode ser um animal.

- Você acredita na história do pé grande agora?

- Não, mas em uma cidade como essa eu não duvidaria de nada.. E como você..

- Chefe de policia!

- Chefe de Policia!

Ambos falaram ao mesmo tempo.

É eu esqueci de avisar que o pai da Mira é o xerife Doug então ela constantemente ela checa os relatórios da cidade.

- Vamos entrar antes que sejamos presos pelo chefe de polícia haha.. medroso.

- Engraçadinha. 


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