A vida de Aidan sempre foi cercada por mistérios, nascido de uma profecia antiga agora ele se depara com um novo mundo no qual precisa lutar por sua sobrevivência sendo caçado por vampiros e por criaturas sobrenaturais que jamais imaginou existir. A...
- Tá gravando? Ok.. é.. por onde eu começo? - Questionou Khaleb, demonstrando nervosismo.
- Só fica a vontade é só um pequeno documentário com alguns moradores locais para a minha reportagem. - Chloe ajeitou-se na cadeira em frente a câmera, pegando uma xícara de chá
Khaleb olhou para a câmera soltando um suspiro profundo, as palavras fugiam da sua mente junto das lembranças trancadas.
- Quando eu vim pra cá eu queria me isolar do mundo.. Eu estava.. fugindo.
- Fugindo do quê especificamente?
- Eu não sei. - Olhou para o lado. - Talvez de mim mesmo. - Khaleb sentia todas as lembranças do seu passado retornando em um flash de luz. - Passei boa parte da minha vida me sentindo sem nenhum lugar que eu pertencesse, Livermore me pareceu.. sei lá, um lugar para recomeçar.. fazer as coisas certas dessa vez. Poucas pessoas, silêncio, nenhum laço para construir e nada que eu pudesse destruir também, eu estava seguro de mim mesmo eu só.. precisava.. continuar seguindo em frente.
- Me conta mais disso, agora fiquei interessada.
- A entrevista não era sobre a cidade? - Sorriu de canto.
- Não sei, me diz você.
A neve caia nas árvores transformando aquela paisagem em uma mistura de melancolia e solidão, Livermore definitivamente, não vivia seus dias mais prósperos desde que os segredos atingiram a cidade.
- Uma vez uma pessoa me disse que quando você abre uma porta, outras centenas de portas se abrem, mas quando eu abria essas portas eu descobri que os monstros que se escondem atrás delas são reais, aqui nessa cidade, não é diferente.
- Você quer dizer sobre os ataques? Acha que alguém pode estar fazendo isso? - Chloe se levantou ajeitando a câmera.
- Talvez, vai saber. - Olhou para o retrovisor de uma caminhonete refletindo seu próprio reflexo. - Mas de alguma forma.. sinto que isso tudo vai acabar logo.
- Hmm.. - Demonstrou curiosidade com a fala. - Entendo! Me conta mais de você Khaleb.
- Não sou bom falando sobre mim.
- Que tal começar sobre aquela garota ali? - Apontou com o olhar na direção de Marcelly, que trabalhava no balcão trocando alguns olhares. - Parece que algum assunto inacabado flutua sobre vocês dois, pois é! Isso também tá aparente. - Sorriu.
- Acho que eu ferrei as coisas mais uma vez. Ela foi a primeira pessoa em muito tempo que conseguiu me entender, pela primeira vez eu consegui sentir que podia ter alguém por perto.
- E por que não pode? Não fomos feitos para viajar por ai sozinhos, compartilhar lembranças é da natureza do ser humano, do que adianta tantos lugares bonitos se ninguém estiver lá para dividir o momento?
Khaleb permaneceu em silêncio por algum tempo, aquele questionamento de Chloe pareceu incomoda-lo.
- É um bom pensamento.. Mas eu não posso me dar o luxo de arriscar.
- Isso é uma pena, ela parece gostar de você.
- Ela não precisa de um amigo.. - Interrompeu. - Um amigo como eu.
Chloe parou por alguns instantes refletindo enquanto observava uma mala no chão ao lado do garoto.
- Parece que você está de partida. Vai ir embora de novo?
- Não posso mais ficar aqui, eu achei que tinha ido longe o bastante pra fugir de tudo.. Mas os fantasmas do meu passado voltaram para me assombrar.
Olhou para a mala de roupas, em seguida se dispersando, seu olhar no horizonte deixava claro uma coisa, ele precisava partir antes que trouxesse mais dor e caos para aquela cidade.
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A noite chuvosa e melancólica de inverno ecoava junto dos sentimentos de Khaleb, primeiro sobre si, sobre seu passado, seu recente laço de amizade, sobre as tragédias em Livermore desde que chegou, ele caminhava até o posto de gasolina quase fechando, a rua e o estacionamento estavam vazios e Marcelly terminava de limpar o balcão.
Sua roupa estava encharcada e seu cabelo molhado caido na altura dos olhos, ele caminhou até uma das janelas do fundo admirando a garota farejando como um lobo seus sentimentos conflitosos sobre ele, sobre seus segredos, sobre oque ela havia presenciado naquela floresta, Khaleb sabia que ela lutava para entender o inexplicável, ele sabia que a garota estava tentando ignorar a verdade sobre o falso mundo que ela conhecia, mas ele também sabia que ela não estava preparada para aquele mundo, e além de tudo, ela não pertencia a isso tudo.
Ele colocou a mão na janela e em seguida na maçaneta da porta, relutou em abrir, desistindo em seguida, aquela era uma despedida silenciosa sem explicações, seria melhor assim para a segurança dela.
- ...
Aos poucos, Marcelly sentiu uma forte presença no local, relutando por alguns instantes confirmar oque sentia, a garota lentamente se virou para trás, mas não encontrou nada além do barulho da chuva caindo sob a janela.
Khaleb caminhou pela estrada até a sua moto, suas lágrimas se camuflavam com a chuva, a estrada vazia remetia a solidão que ele sentia, a chuva caindo e o barulho dos seus passos nas poças d'água era a única coisa que ele era capaz de escutar. No chão da estrada, um cartão postal rasgado, ele agachou pegando o cartão e lendo''Greetings from California''.
Subiu em sua moto partindo naquela estrada escura.
